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Operação Braços Abertos segue normalmente

Linha fina
Participantes do programa comparecem ao trabalho no dia seguinte à repressão da Polícia Civil, rejeitam tentativa de menosprezar capacidade de reinserção e revelam medo com perseguição
Imagem Destaque

São Paulo – Os participantes do programa Braços Abertos realizaram normalmente suas atividades na manhã desta sexta-feira 24, no dia seguinte à repressão promovida pela Polícia Civil contra dependentes químicos na região do centro de São Paulo conhecida como “cracolândia”.

A gestão Fernando Haddad (PT) e os agentes que atuam no projeto iniciado este mês temiam que a ação policial, marcada por surras e bombas de efeito moral, levasse a uma quebra de confiança na relação desenvolvida com os participantes. “Na verdade saímos mais fortes. Durante a confusão as pessoas tentavam se esconder nos hotéis parceiros, o que demonstra confiança deles”, afirmou o psiquiatra Flavio Faroni, que anda pelas ruas da região vestido de palhaço para criar vínculos com os dependentes de crack e álcool.

A Braços Abertos teve início na semana passada com a desmontagem de barracos usados como moradia nas ruas Dino Bueno e Helvétia, e teve sequência com o encaminhamento de dependentes a cinco hotéis alugados pela prefeitura na região. Agora, os participantes têm direito a três refeições, c com contratação para serviço de varrição e zeladoria com carga de 4 horas diárias, mais duas de qualificação e salário de R$ 15 por dia de trabalho.

O projeto municipal vem marcando um contraponto à Operação Sufoco, desencadeada em 2012 em parceria entre o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o então prefeito, Gilberto Kassab (PSD). Na ocasião, houve repressão a dependentes químicos, que passaram a migrar para outras regiões da cidade, colocando a perder o trabalho social desenvolvido anteriormente na região.

“Eles fizeram isso pra prejudicar a gente. Passar a imagem que nós somos violentos”, avalia o rapper Kawex. Ele é dependente químico e pretende comprar uma calça e uma camisa para visitar a mãe com o pagamento pelo trabalho de varrição. Nessa tarde deve ser pago o primeiro salário para os participantes da frente de trabalho. “Agora eu tenho uma casa, um trabalho. Eles não vão tirar isso de mim assim. Eles é que são violentos.”

Todas as noites os participantes têm feito reuniões nos hotéis em que estão hospedados. A maior preocupação é que a truculência da Polícia Civil ocorra dentro dos prédios. “Se eles fizeram isso com a gente na rua, imagina lá dentro”, afirma Ana Lúcia Aquino, que não usa drogas desde o começo do programa, no dia 14. “Eu vou juntar esse dinheiro. Só vou comprar umas comidas diferentes, tipo pipoca, assistir um filme, comprar calcinha meia e juntar o resto. Estou acreditando”, afirma.


Gisele Brito, da Rede Brasil Atual – 24/1/2014
 

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