O Fórum Social das Resistências estréia sua nova edição de 2020, na terça-feira 21, em Porto Alegre e na região metropolitana da capital gaúcha, imerso em um contexto em que a pauta neoliberal – historicamente sobreposta pelo encontro – vem acompanhada pela ascensão da extrema-direta. Na preparação para o Fórum Social Mundial (FSM), que ocorre no México no próximo ano, a agenda fascista, de exclusão de minorias e retirada de direitos, dita os principais desafios para os movimentos sociais que, até o dia 25 de janeiro, participam do fórum das resistências.
“Os desafios para nós que estamos na resistência, para todos os movimentos, são muito grande. Por isso a possibilidade de estarmos aqui em Porto Alegre, reunindo as lideranças desses movimentos, para fazer um debate, este balanço e, principalmente, tentar construir alternativas e janelas para que já em 2020, possamos mudar um pouco a inflexão dessa correlação de forças, que está desfavorável para nós, não só no Brasil ou na América Latina, mas em todo o mundo”, destaca o conselheiro internacional do FSM e integrante da diretoria executiva da Abong (Associação Brasileira de ONGs), Mauri Cruz em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
Sob o lema “Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta”, a nova edição do fórum sai em marcha de abertura a partir das 17h. A programação segue ainda durante toda a semana com mesas de debates, com convidados nacionais e internacionais, assembleia de convergências, assembleia dos povos, para a tradicional reunião do conselho internacional do FSM. Além de apresentar diversas atividades em parques e praças para a troca de experiências e acúmulo de forças dos movimentos de todo o mundo, articuladas ainda com outras iniciativas internacionais.
Só em 2017, mais de cinco mil pessoas participaram deste encontro que nasceu em decorrência do sucesso do Fórum Social Mundial. A experiência, iniciada em 2001, foi a primeira a se apresentar como uma alternativa consolidada ao sistema neoliberal, em vigência sob os governo de Fernando Henrique Cardoso, no Brasil, Carlos Menem, na Argentina e Alberto Fujimori, no Peru, por exemplo, que implantavam o neoliberalismo como o único modelo possível, a despeito de todo o processo de pobreza e desigualdade produzidos.
Com o FSM, os movimentos sociais e a pauta de inclusão e desenvolvimento ganharam fôlego, se consolidando como uma alternativa e de diálogo inclusive com o Fórum Econômico Mundial em Davos que, naquela época, representava “a Meca do neoliberalismo”. Mas hoje, diante do modelo neoliberal mais “selvagem” acoplado a ascensão da extrema-direita, mesmo o encontro de Davos parece um desafio menor perante a pauta de exclusão de minorias, crise dos valores democráticas, emergência climática e retirada de direitos sociais ocasionada pela extrema-direita.
“Hoje tem o neoliberalismo como uma pauta econômica, mas a pauta política é explicitamente fascista, de não só retirada de direitos, mas de eliminação dos sujeitos e segmentos da área social, o que exige que os movimentos e organizações de resistência se reúnam e pensem estratégias que sejam eficazes para a defesa do direito à democracia, da vida e do meio ambiente, que são as pautas principais que estamos tocando”, avalia o conselheiro internacional do FSM.
Na busca de emplacar um pauta que resgate a resistência que marcou as primeiras edições do Fórum Social, Cruz aposta na construção de uma nova utopia, o que talvez seja de fato o principal desafio. “Acho que a questão é reconstruir um novo mundo possível. Parece um grande desafio para a agenda dos fóruns sociais mundiais, porque sem utopia não há possibilidade de qualquer transformação social, a humanidade se move a partir de grandes ideais e eu acho que a necessidade de nós recriarmos a utopia é fundamental”, ressalta.
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