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Chapéu
Fórum Social Mundial

Machistas, racistas, vocês não irão nos calar!

Linha fina
Em debate promovido pelo Sindicato no Fórum Social Mundial, foi abordada a questão da violência contra a mulher e apresentado o projeto Basta! Não irão nos calar, que além de prestar atendimento jurídico a mulheres vítimas de violência, passa também a atuar da mesma forma em casos de racismo
Vídeo Youtube

Nesta sexta-feira 29, de forma virtual, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região promoveu mais um debate no Fórum Social Mundial 2021. Desta vez, os temas abordados foram a violência contra a mulher e o racismo, com a apresentação das iniciativas da categoria bancária e do Sindicato por relações mais justas e igualitárias para todos, assim como para o acolhimento, orientação e suporte jurídico das vítimas. Confira a íntegra do debate no vídeo acima. 

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Participaram da mesa a presidenta do Sindicato, Ivone Silva; a secretária da Mulher da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Elaine Cutis; o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar; a escritora e psicóloga, especializada em sexualidade humana e pós-graduada em sociedade e meio ambiente, que atua há mais de 30 anos nas questões de gênero, Rachel Moreno; e a advogada e coordenadora do projeto Basta! Não não nos calar, Phamela Godoy. A mediação foi do secretário de Relações Sociais do Sindicato, Dionísio Reis. 

Na sua intervenção, Elaine Cutis ressaltou a importância de debater a violência contra a mulher em um momento de pandemia e confinamento, no qual a vítima fica ainda mais refém do agressor. Também apresentou dados sobre de que forma a violência doméstica influencia na carreira das mulheres. 

“Os dados sobre a violência doméstica normalmente são tratados com indiferença no mundo corporativo. Entretanto, eles provocam um impacto altamente negativo na economia. Uma vitima de violência doméstica perde em média 18 dias de trabalho ao ano por consequência das agressões. O prejuízo em termos de volume salarial é de quase R$ 1 bilhão no Brasil. Logo, a violência doméstica influencia a carreira destas mulheres, com menor estabilidade no emprego, menor tempo de permanência no cargo, falta de oportunidade de ascensão de carreira, entre outras questões”, disse a dirigente, apresentando dados de pesquisa recente da Universidade Federal do Ceará. 

Para enfrentar este cenário, a Contraf-CUT e sindicatos buscaram entender como as trabalhadoras vítimas de violência doméstica eram tratadas dentro das instituições bancárias, identificando que não existia políticas dentro dos bancos para estas pessoas, levando gestores a lidar de forma equivocada com as vítimas, perpetuando o ciclo de violência. A partir disso, a categoria levou o debate para negociação com os bancos, através da mesa de Igualdade de Oportunidades, apresentando uma proposta de construção de um programa de prevenção e combate da violência doméstica, com um canal específico e sigiloso para denúncias. As negociações avançaram e, em março de 2020, foi firmado acordo inédito neste sentido. E, em setembro do mesmo ano, nas negociações gerais da categoria, essas cláusula foi definitivamente incluída na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários. 

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O acordo firmado visa principalmente tratar a questão de forma preventiva, com treinamento e conscientização, ajudando também gestores e seguranças a perceberem sinais de que a trabalhadora está sendo vítima de violência, além de ações objetivas como a construção de canal de atendimento sigiloso nos bancos, acolhimento, orientação e medidas como transferência de local de trabalho, flexibilidade de horários de entrada e saída, abono de faltas e assistência financeira por meio de linhas de crédito. Mesmo que recente, o acordo até dezembro atendeu 35 bancárias. 

“Acreditando que um outro mundo é possível, como diz o lema do Fórum Social Mundial, que nós do Sindicato acreditamos em todo este trabalho de negociação para o combate à violência contra a mulher. Os projetos que nós assinamos no ano passado; a nossa mesa de Igualdade de Oportunidades, que existe desde a década de 1990 e permite o debate sobre as questões de gênero, raça, orientação sexual, na nossa categoria e também em toda a sociedade, uma vez que quando uma categoria começa a negociação sobre um tema sabemos que várias outras também vão para este tema. (…) Para nós, fazer um projeto de acolhimento desta mulher vítima de violência é muito importante”, destacou a presidenta do Sindicato, Ivone Silva. 

“É ainda mais importante quando lembramos que hoje na nossa categoria, e também em outras, grande parte das mulheres estão em home office. Nós sabemos que essa violência aumentou muito e que a mulher está totalmente sobrecarregada em casa, cuidando dos filhos, limpando a casa e fazendo o home office”, acrescentou a presidenta do Sindicato. 

Capitalismo e opressão 

Por sua vez, a escritora e psicóloga Rachel Moreno explicou como o patriarcado, que leva à violência de gênero, se relaciona e beneficia o sistema capitalista. “Nosso luta é também anticapitalista, anticolonialista, antiracista e antipatriarcal. Ela abrange todas essas áreas e essas áreas acabam na verdade se refletindo em termos específicos com relação à violência contra a mulher. O patriarcado é violento, a gente sabe, piorado pela situação fascista que vivemos no país agora, piorado pela má fé organizada institucionalmente, piorada pelo neoliberalismo, piorada pela branquidade e racismo em ação, que beneficia exclusivamente o sistema capitalista, que descreveu de forma conveniente aos seus interesses a questão da violência de gênero”, disse.  

“Ele fez isso, entre outra questões, quando submeteu o trabalho reprodutivo ao trabalho remunerado. O trabalho remunerado que é o importante. O trabalho de reposição da vida -  que significa não só gerar a próxima geração de trabalhadores, mas educá-los, oferecer o ‘descanso do guerreiro’ quando ele volta para casa depois do trabalho, acaba beneficiando o sistema capitalista, uma vez que ele nos embutiu que temos que fazer isso por amor e o submeteu ao trabalho remunerado, esse sim considerado importante”, explicou a psicóloga. 

Basta! Não irão nos calar 

Um dos principais pontos abordados no debate foi o projeto Basta! Não irão nos Calar, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, que oferece gratuitamente atendimento jurídico especializado a mulheres vítimas de violência doméstica e de gênero, bancárias ou não.  Na sua fala, a advogada e coordenadora do projeto, Phamela Godoy, além de explicar o projeto, traçou o cenário da violência de gênero no país e o atual desmonte das políticas públicas voltadas para mulheres pelo governo Bolsonaro.

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Hoje, o Brasil ocupa a quinta posição em número de assassinatos de mulheres no contexto doméstico e familiar. Atuando de forma contrária à urgência e efetividade que essa questão merece, o governo Bolsonaro reduziu em 19%, de 2020 para 2021, a verba destinada para políticas para mulheres, sendo que em 2020 apenas 6% deste orçamento foi de fato aplicado. Por outro lado, as denúncias no 180 aumentaram 35% no ano passado. 

“Quanto mais a política pública é desmontada, quanto menos estrutura tem, quanto menos mecanismos existem para denunciar, maior será a impunidade e, por consequência, maior será a violência contra a mulher”, apontou Phamela. 

Até o momento, foram atendidas 79 pessoas pelo projeto Basta! Não vão nos calar! 

Lançamento do módulo de combate ao racismo do projeto Basta! Não irão nos calar

O Sindicato aproveitou a ocasião do Fórum Social Mundial para fazer o lançamento oficial do módulo de combate ao racismo do projeto Basta! Não irão nos calar. Desde novembro do ano passado, além das denúncias de violência contra a mulher, o projeto também recebe denúncias de racismo, prestando atendimento jurídico e/ou atuando por meio da ação sindical no contexto do ambiente de trabalho. 

“Imaginávamos que receberíamos muitas denúncias de injúria racial, mas as denúncias que nos têm chegado dizem respeito mais ao racismo estrutural dentro do ambiente bancário. Ninguém diz que o bancário negro não será promovido por conta do tom da pele, mas quando ele olha para os cargos acima do dele, percebe que todos possuem outro tom de pele. Nesse caso, a medida correta é a sindical. Se é judicial, cabe o boletim de ocorrência e a avaliação se cabe ação civil de dano moral ou material”, explicou Phamela. 

Por sua vez, Almir Aguiar abordou a questão do racismo estrutural no Brasil, que majoritariamente aparece nas denúncias ao projeto do Sindicato. 

“Hoje a população do nosso país sofre uma violência muito grande e, a cada 100 homicídios, 75 são de jovens negros de 15 a 19 anos. Precisamos fazer essa discussão do racismo estrutural. (…) O alvo preferencial da violência policial é a população negra. Hoje, no Brasil, são mais de 773.000 pessoas encarceradas. 67% destas pessoas são negros e negras. De 2006 a 2016 teve um aumento significativo da população carcerária feminina, mais de 564% de aumento em relação à década anterior. A política que está sendo montada é cada vez mais de encarceramento, de exclusão. É preciso fazer esse debate racial, tanto no trabalho quanto na vida. É impossível aceitar que a população sofra tanto com preconceito e racismo. E, nesse governo, isso piorou muito. As pessoas saíram do armário para xingar, colocar seu racismo pra fora, seu preconceito, sem o menor pudor. Por isso, é muito importante nesse Fórum Social Mundial o lançamento do canal de combate ao racismo pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, assim como do combate à violência contra as mulheres, uma iniciativa que precisamos expandir para outros sindicatos de bancários e também para outras categorias”, enfatizou o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT. 

Como procurar o projeto Basta! Não irão nos calar

Para buscar o projeto Basta! Não irão nos calar, o denunciante, seja para casos de violência contra a mulher como para racismo, pode agendar o atendimento pela Central de Atendimento do Sindicato, por meio do telefone 11 3188-5200, ou utilizar diretamente o canal do WhatsApp (11 97325-7975), que funciona inclusive aos finais de semana. 

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