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Pane escancara problemas do Metrô

Linha fina
Problema ocorreu na Linha 3-Vermellha, a mais lotada do mundo. Estações permaneceram fechadas durante cinco horas
Imagem Destaque

São Paulo - Os usuários do metrô paulistano viveram mais um dia de caos depois que uma composição da Linha 3-Vermelha apresentou falha nas portas, na estação Sé. Pelo menos 10 estações ficaram fechadas durante cinco horas, entre as 18h e 23h da terça-feira 4.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, o presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, lembrou que desde 2011 a categoria vem advertindo a direção do Metrô e o Ministério Público sobre falhas recorrentes nos trens da frota K, que, segundo funcionários, foram os principais responsáveis pelo problema que paralisou o sistema. “Com esse evento está demonstrado que tudo aquilo que a gente falava faz sentido. Nossa preocupação é que isso pode acontecer novamente, e o governo pode não ter tanta sorte. Estamos à beira de uma tragédia.”

A Linha Vermelha, palco da mais recente pane, é a mais lotada do mundo. Transporta diariamente 1,261 milhão de passageiros e comporta 10,9 pessoas por metro quadrado no horário de pico, de acordo com o Comet (Comunidade de Metrôs, organização que reúne os principais sistemas de metrô do mundo).

Falta investimento – Para Klara Kaiser, especialista em mobilidade urbana da Universidade de São Paulo, as causas do aumento das falhas no metrô são muitas e vão desde a falta de investimento à terceirização de setores estratégicos.

Klara foi supervisora de estudos de transporte do Metrô durante 16 anos, de 1985 a 1999, época em que mesmo contando com uma malha menor do que a atual, o metrô recebia notas máximas nas pesquisas de satisfação.

“O sistema de manutenção do metrô era a menina dos olhos da Companhia. Todas as noites, no pátio do Jabaquara, havia verificação dos sistemas de controle e segurança, do material rodante, do estado de conservação dos carros; e qualquer falha era imediatamente corrigida. Essas funções hoje estão nas mãos de empresas privatizadas que não têm, certamente, o mesmo empenho em zelar pelo nem pelo patrimônio físico, nem pelo patrimônio moral que o Metrô tinha conquistado.”

Superfaturamento – Enquanto a população sofre com uma malha metroviária limitada pela falta de investimentos, são cada vez mais evidentes as relações escusas entre integrantes do governo do estado e empresas que fornecem sistemas e composições para o Metrô e a CPTM.

O promotor Marcelo Milani quer que empresas que reformam trens do Metrô de São Paulo devolvam cerca de R$ 800 milhões, valor que considera ser o prejuízo em razão de superfaturamento nos contratos. Se não houver essa devolução em 90 dias, Milani diz que vai entrar com uma ação judicial pedindo a dissolução das companhias.

Sete empresas fazem as reformas dos trens, entre as quais Siemens, Alstom e Bombardier. Elas ganharam uma licitação de R$ 2,5 bilhões para modernizar 98 trens do Metrô. O promotor obteve um acordo com o governo estadual e o Metrô pelo qual a reforma dos trens ficará suspensa também por 90 dias.

O deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT), ex-presidente do Sindicato, luta para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa, para investigar essas suspeitas de superfaturamento. Faltam três assinaturas. “Temos de apurar os prejuízos sociais que essa situação causou a população paulista e conhecer as verdadeiras razões da falta de capacidade do governo Alckmin para lidar com os problemas do transporte público no estado.”

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também divulgou nota em que cobra explicações do governo do estado à população.

1,93 km/ano - A rede metroviária paulista é a menor entre as grandes capitais do mundo, contando com apenas 74,3 km, e a mais lotada do mundo, transportando 11,5 milhões de passageiros por quilometro ao ano.

O crescimento da rede desde 1995 foi de apenas 1,93 km/ano. Quando o PSDB assumiu o governo de São Paulo em 1995, havia 43,4 km em São Paulo. Construíram apenas 30,9 km em 16 anos.

O custo de implantação em São Paulo é dos mais caros do mundo: cerca de R$ 500 milhões/km. Em Madri esse valor é de US$ 100 milhões/km.

Entre 1997 e 2012, o governo paulista deixou de repassar R$ 7,2 bilhões para o Metrô. De 2003 a 2011, a CPTM investiu R$ 1,1 bilhão a menos que o previsto. Mais de 120 contratos do Metrô e da CPTM foram julgados irregulares pelo TCE somando o valor de R$ 2,73 bilhões.

Os dados são do Sigeo (Sistema de Execução Orçamentária do Estado), do Ministério dos Transportes e da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos.


Rodolfo Wrolli - 5/2/2014

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