A Americanas S.A. (Americanas), uma das maiores empresas do varejo brasileiro, divulgou, em 11 de janeiro, Fato Relevante ao mercado e aos acionistas para informar a identificação de inconsistências contábeis em demonstrações financeiras de exercícios anteriores, inclusive 2022, estimadas em cerca de R$ 20 bilhões.
Segundo o texto, os problemas estariam vinculados à “existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras”.
Entre os credores da Americanas – enviada pela empresa no decorrer do processo de recuperação judicial –, estão alguns dos maiores bancos do país. Merecem destaque: Deutsche Bank (R$ 5,2 bilhões de crédito); Bradesco (R$ 4,5 bilhões de crédito); Santander Brasil (R$ 3,6 bilhões); BTG Pactual (R$ 3,5 bilhões); Votorantim (R$ 3,2 bilhões); Itaú Unibanco (R$ 2,7 bilhões); Safra (R$ 2,5 bilhões); Banco do Brasil (R$ 1,3 bilhão) e Caixa Econômica Federal (R$ 501 milhões).
O primeiro potencial impacto é nos resultados financeiros dos bancos, na medida em que o atraso no pagamento ou mesmo o não recebimento de partes da dívida das Americanas fará com que as instituições financeiras elevem os níveis de provisão para devedores duvidosos (PDD), o que afetará de forma negativa os lucros dos bancos credores.
Segundo relatório da XP Investimentos, esse impacto negativo pode ser da ordem de 20 a 30% no caso dos bancos mais expostos, como BTG, Santander e Bradesco e, de cerca de 10%, nos casos de Itaú e Banco do Brasil. O relatório aponta que os níveis de PDD dos cinco grandes bancos de capital aberto podem chegar a cerca de R$ 8 bilhões.
O Santander divulgou seu balanço na última quinta-feira 2 e elevou as provisões para devedores duvidosos, o que fez o lucro do banco de 2022 cair 21% em relação a 2021.
>Mesmo com impacto da Americanas, lucro do Itaú cresce 14,5% em 2022
Cenários semelhantes foram observados no setor bancário brasileiro em 2016, na esteira da quebra de empresas em decorrência da operação Lava Jato e, em 2020, em função das incertezas econômicas ocasionadas pela pandemia de covid-19.
Estes eventos alertam também para o risco de as instituições financeiras buscarem recompor a lucratividade com base na redução de despesas administrativas e de pessoal, o que pode significar uma intensificação no fechamento de agências bancárias e nova onda de demissões de bancários.
“Existe uma extensa lista de credores e fornecedores em torno das atividades das Americanas, milhares de empresas e um contingente estimado em mais de 100 mil trabalhadores empregados, que podem ser impactados ao longo do processo de recuperação judicial. É urgente que sejam articuladas ações para apuração das responsabilidades, e que seja garantida a transparência em todo o processo, além de diálogo no sentido de garantir a manutenção dos postos de trabalho e dos direitos trabalhistas.”
Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região