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Bancários com deficiência fazem denúncia

Linha fina
Trabalhadores do Santander relatam falta de equipamentos e de oportunidades na empresa
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São Paulo – Funcionários demitidos pelo Santander estão questionando a política que a direção da empresa adota em relação às pessoas com deficiência (PCD).

Uma bancária com deficiência visual demitida recentemente pela empresa relatou ao Sindicato que se sente enganada com a forma como foi tratada ao longo de um ano e cinco meses. “O transtorno começou já no treinamento. Disseram que seriam três meses de cursos e depois iríamos para um dos setores da empresa. Durou nove e seis foram de pura enrolação, pois chegou a tal ponto que não passavam mais conteúdo. Só fomos transferidos quando reclamamos que não aguentávamos mais ir para lá e ficar sem fazer nada”, lembra, afirmando que nesse período não teve contato com os equipamentos que seriam usados na rotina de trabalho do banco.

Jogo de empurra – O primeiro local a que a funcionária foi destinada foi uma agência bancária, onde permaneceu por cerca de três meses. “Não tinha função, nem equipamento para trabalhar e a gerente disse que, como eu estava ali de passagem, pois seria transferida para outro lugar, não providenciaria nada para mim.”

A trabalhadora relata que a transferência foi para o call center onde, a princípio, achou que a situação seria diferente. “Recebi a informação de que outras pessoas com deficiência visual estavam adaptadas ao setor e que mesmo que não conseguisse trabalhar ali ainda poderia ser transferida para outro departamento.”

A realidade, no entanto, foi bem outra. No setor havia software adequado para pessoas com deficiência visual, mas não equipamento para ser instalado. “Eu mesma tive de procurar um computador. Mesmo assim, tive dificuldades imensas com o sistema e o que conseguia produzir era com a ajuda de colegas. O que o banco não percebe é que mesmo que um equipamento sirva para uma pessoa, necessariamente não está adequado para outra. Foi o que aconteceu comigo e na semana passada recebi a notícia de estar demitida por não ter me adaptado. Mas como isso seria possível? E a informação de que se isso ocorresse eu seria transferida para outro lugar?”, questiona.

Mais demissões – A bancária integra um grupo de pelo menos sete pessoas com deficiência demitidas pelo banco espanhol nas últimas semanas. Um outro trabalhador também reclama da forma como foi dispensado e da falta de oportunidades na ascensão profissional.

“Eu trabalhava no financiamento de veículo há três anos e como já conhecia toda a rotina do setor minha jornada passou de quatro para seis horas diárias. Isso aconteceu faz um mês e, na semana passada fui demitido. O que mais me revolta é que não me deram qualquer explicação”, desabafa o bancário que afirma que em três anos não teve promoção no setor.

Lei das cotas – A Lei 8.213/91 determina um percentual de pessoas com deficiência de acordo com o porte da empresa. No caso do Santander, é estabelecido o equivalente a 5% do total do quadro de funcionários. Além disso, é determinado que: “A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante”.

De acordo com o diretor do Sindicato Ramilton Marcolino, o banco afirma que está seguindo a Lei das Cotas, mas não informa onde estão esses novos contratados. “Reivindicamos ter acesso a essa informação e que mude a política do banco, para que a pessoa com deficiência tenha condições adequadas e de treinamento para trabalhar. Eles também não podem servir apenas para cumprir uma cota, mas precisam ter condições de ascender profissionalmente. Além disso, é o local de trabalho que tem de estar adequado à pessoa com deficiência e não o inverso”, defende.


Jair Rosa – 29/2/2012

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