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Ato lembra 50 anos do Comício da Central do Brasil

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Presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro observa que legado de autoritarismo do regime militar ainda persiste na democracia
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São Paulo – Uma manifestação em frente à estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, lembrou na quinta 13 os 50 anos do Comício das Reformas, organizada por movimentos como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e a presença do então presidente João Goulart, que discursou para cerca de 100 mil pessoas em defesa das chamadas reformas de base. O ato de ontem teve o apoio de entidades sindicais, como a CUT, e movimentos sociais e fez parte de uma série de eventos previstos para lembrar as cinco décadas do golpe civil-militar e seus efeitos nocivos para a democracia, as liberdades e o desenvolvimento do país.

A atividade foi também um contraponto às manifestações pró-golpe que têm circulado sobretudo em redes sociais, celebrando a ditadura instalada em 1964 e pedindo nova intervenção militar. Uma delas convoca para o próximo dia 22 uma “marcha da família”, nos moldes da que foi promovida pela elite paulista há 50 anos em São Paulo para respaldar a derrubada de Jango pelos militares, com apoio de empresários e do do governo dos Estados Unidos.

O presidente da Comissão Estadual da Verdade, Wadih Damous, afirmou em seu discurso que é necessário lidar com o legado que a ditadura deixou na sociedade: “O Brasil, se aquelas reformas acontecessem (as reformas de base preconizadas por João Goulart), seria muito melhor. Os militares deixaram o legado dos desaparecidos, da impunidade aos torturadores. Precisamos resolver isso. E quando perguntamos onde está o Rubens Paiva, onde está o Stuart Angel, temos de também que perguntar onde está o Amarildo”, disse Damous, da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, referindo-se aos pedreiro desaparecido depois de ter sido detido por policiais militares, descrevendo traços do autoritarismo golpista presentes ainda hoje nos sistemas de segurança pública. “Esse é o legado que continua mesmo em tempo de democracia e que temos de mudar.”

A deputada federal Jandira Feghalli (PCdoB-RJ) reafirmou a necessidade de não permitir espaços para a “direita” que se organiza contra o governo Dilma, articulando manifestações tais como a “marcha da família”.

Conflito de classes - Em 13 de março de 1964, João Goulart discursou para uma multidão que o apoiava na tentativa de promover reformas que tocavam da questão agrária ao controle estatal das refinarias de petróleo, passando por projetos de ensino público e limitação de remessas de lucros por multinacionais aos seus países de origem. Dizia Jango: “O povo quer que se amplie a democracia e que se ponha fim aos privilégios de uma minoria; que a propriedade da terra seja acessível a todos; (...) que se impeça a intervenção do poder econômico nos pleitos eleitorais (...) Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato atentatório ao regime democrático (...) A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, anti-sindicato, anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam”.


Rede Brasil Atual - 14/3/2014

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