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Bancária negra reclama de discriminação

Linha fina
Para trabalhadora, presença de negros no sistema financeiro é praticamente inexistente, fato a ser destacado neste 21 de março, Dia Internacional Pela Eliminação da Discriminação Racial
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São Paulo – No Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março, a história de uma bancária mostra o exemplo de desigualdade e preconceito dentro dos bancos. Ela é jovem, negra, bem avaliada e sempre alcança suas metas. Bancária há apenas três anos, assumiu funções de gerente com apenas um ano de banco, mas não ganhou reconhecimento por isso: na carteira profissional nada mudou.

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“Infelizmente, vi bancárias loiras, de olhos azuis, assumindo cargos maiores enquanto eu continuo aguardando uma promoção, pois não ganho pelo que faço e nem tenho registro de gerente na carteira de trabalho”, explica. Para ela, a questão é racial. “Existe preconceito, sim. Quase não percebemos a presença de negros nos bancos. Na minha agência somos em quase vinte funcionários e sou a única bancária negra. A presença de negros e negras no sistema financeiro é praticamente inexistente”, destaca.

A falta de contratação de negros nos bancos foi comprovada na primeira edição do Mapa da Diversidade, divulgada em 2008 graças à conquista do movimento sindical. O levantamento apontou apenas 19,5% de bancários negros ou pardos na categoria em todo o país, com ganho médio de 84,1% do salário dos brancos. Só havia 8% de negras.

E esses poucos trabalhadores sofrem constantemente para alcançar melhores cargos, além de enfrentar o preconceito também de clientes. “Em uma situação, era necessário designar um gerente para visitar o cliente. A recomendação da gestão é que fosse alguém ‘que chamasse a atenção’. Escolheram uma gerente branca, com corpo muito bonito e cabelos claros, mesmo sem conhecer a área que atenderia. E eu conhecia, mas não fui escolhida. Em outra ocasião, abordei um cliente na agência que negou atendimento e disse: ‘Não, obrigado. Minha gerente é aquela loira’. Foi uma situação desagradável, como se por ser negra, eu não pudesse ser gerente”, relata a bancária.

“A luta contra a discriminação racial é de toda a sociedade. É do movimento sindical e deve ser também dos bancos. É necessário contratar bancários que tenham a cara do país. Se o Brasil é plural quando o assunto é raça, não existe motivo para que o quadro de empregados nos bancos seja tão desigual. Queremos uma categoria com índios, orientais, negros, brancos, pardos, com pluralidade, que represente a população brasileira”, ressalta a diretora do Sindicato Sandra Regina.

Luta contra o preconceito – O Dia pela Eliminação da Discriminação Racial é lembrado em 21 de março por conta da chacina no mesmo dia e mês em 1960, na África do Sul, que resultou o extermínio de cem homens negros indefesos assassinados pela polícia por participarem de um ato público contra o apartheid. “Celebramos esse dia contra o preconceito, para lembrar dos homens mortos em 1960, mas também para ressaltar as necessidades dos trabalhadores e a luta diária por igualdade. E a mulher negra bancária continua enfrentando com garra esses obstáculos”, conclui Sandra.

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Gisele Coutinho – 19/3/2014

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