São Paulo - As águas de março resolveram dar uma trégua no sábado 8, Dia Internacional da Mulher, e o sol recebeu as mais de oito mil manifestantes, que partiram da Avenida Paulista e seguiram em marcha até a Praça Roosevelt, no centro da cidade de São Paulo.
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Durante o trajeto, algumas vestiam preto e carregavam cartazes com a foto e o nome de mulheres que foram assassinadas em 2013. Outras, transformaram panelas e latas em instrumento de luta e protesto. Houve ainda quem resolveu tirar a blusa e escrever frases de protesto pelo corpo.
Crianças, acompanhadas principalmente das mães, também coloriram a caminhada. Em alguns casos, antes mesmo de nascer, como é o caso de Caetano, filho de Larissa Baptista. Ela todo o percurso com a frase “meu corpo, minha escolha”, escrita na barriga de oito meses e meio. “Ser mãe é uma escolha, devemos garantir o direito da mulher tanto de dizer sim, quanto de dizer não”, afirmou. E isso inclui a forma como o filho virá ao mundo. “Vou dar à luz numa casa de parto na zona sul após uma grande luta, porque a classe médica e, portanto, os planos de saúde, não apoiam os partos normais no Brasil”, destacou.
Maria Rosani, diretoria executiva do Sindicato, compareceu ao lado de outros dirigentes sindicais bancários. Para ela, o "ato foi muito importante para lembrarmos da luta que nos trouxe muitas conquistas", disse. "E, também, ampliarmos a mobilização, envolvendo sociedade e governos, para alcançarmos objetivos tão almejados, como a igualdade de oportunidades, relações comparilhadas, fim da violência, dentre tantos outros que nos norteiam".
Papel da marcha e do Estado – Para a diretora Executiva da CUT Rosana de Deus “a marcha serve para apresentarmos as nossas reivindicações à sociedade. Essa forma de organização é que faz com que o 8 de março seja uma Dia de Luta. Nele, nós mulheres vamos às ruas para fazer o debate com a população”, ressaltou.
A Secretária Nacional da CUT, Rosane Silva, destacou o papel que o Estado teve na última década para a autonomia das mulheres. “O Prouni (Programa Universidade para Todos) e o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico) têm em sua maioria bolsistas mulheres e isso demonstra como as políticas públicas podem ajudar na luta pela igualdade, apesar de termos muito ainda a avançar. Porque hoje já somos maioria no mercado de trabalho, mas ainda recebemos menos para realizar as mesmas funções”.
Rosane também apontou que as mulheres cutistas defendem a Copa do Mundo no país, mas alertou para a necessidade de o evento não deixar um rastro negativo. “Não somos contra a Copa, mas não queremos que milhões venham ao Brasil para utilizar nosso corpo, seja por meio da prostituição ou da utilização do trabalho precarizado e temporário. Cobramos que nossa vida e corpos sejam respeitados”, explicou.
A marcha lembrou também a caravana Por Autonomia e Igualdade: Luta contra a Violência à Mulher, organizada pela CUT, que percorreu o estado no final de 2013 e entregou um relatório com denúncias à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR).
A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/SP, Sonia Auxiliadora, fez críticas à ausência do estado paulista na gestão do PSDB, que sequer criou uma secretaria específica para tratar de políticas para as mulheres. “Os governos em todas as esferas devem criar programas que permitam que as mulheres tenham autonomia e consigam romper com o ciclo da violência doméstica que se manifesta de diferentes formas”.
Reforma política – Outra bandeira defendida foi o plebiscito pela defesa de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político, construído em conjunto com outros movimentos e centrais sindicais. A proposta, entre outras questões, aponta para maior presença das mulheres, que hoje ocupam apenas 9% dos mandatos na Câmara dos Deputados e 12% no Senado.
30 anos da CUT/SP – A secretária estadual da Mulher Trabalhadora lembrou que em 2014 a CUT São Paulo completa 30 anos ressaltando a capacidade de mobilização das trabalhadoras dentro da Central, como, por exemplo, no último congresso nacional da entidade, onde ficou definida a paridade de gênero para as próximas gestões, inclusive estaduais.
Negras e PCDs - O Fórum das Mulheres Negras do Estado de São Paulo também esteve presente no ato e protestou contra a discriminação racial e o racismo institucional, que impede o povo negro de ocupar os melhores cargos, sucateia as escolas públicas e coloca a polícia para matar a juventude e enxerga na mulher da periferia um mero objeto.
Houve, ainda, a presença de pessoas com deficiência (PCDs), cobrando mais a efetivação de ações que tirem o grupo da invisibilidade.
50 anos do Golpe – As fotos de mulheres assassinadas pela ditadura militar no Brasil 1964-1985) foram carregadas pelas militantes para denunciar a tortura e a violência durante o período.
Luiz Carvalho e Vanessa Ramos, da CUT/SP - 10/3/2014
Linha fina
CUT e movimentos sociais foram às ruas nesse 8 de março para defender o fim da violência e também a reforma política
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