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Orientação sexual: qual é a sua, bancário?

Linha fina
Movimento sindical conquistou inclusão de questões sobre o tema no II Censo da Diversidade, que deve ser respondido até 25 de abril. Objetivo é cobrar prática de direitos iguais e o fim do preconceito no local de trabalho
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São Paulo – Em 2012, o estado de São Paulo registrou 409 denúncias referentes a 817 violações relacionadas à população de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Travestis e Transgêneros (LGBT) pelo poder público. Houve aumento de 107% em relação a 2011, quando foram notificadas 197 denúncias. Os números de 2013 ainda não foram divulgados.

O relatório da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal trata de um problema que atinge toda a sociedade, inclusive os trabalhadores do sistema financeiro, categoria numerosa com cerca de 500 mil bancários em todo o país. O Sindicato, pioneiro no debate sobre igualdade de oportunidades, já discutia o assunto em 1992 em encontro nacional. Em 2009, conquistou cláusula na Convenção Coletiva de Trabalho que garante direitos iguais aos casais homoafetivos, resultado de mobilização da categoria.

Para mapear a presença do público LGBT dentro dos bancos e cobrar mais ações afirmativas pela eliminação do preconceito, o Sindicato orienta os trabalhadores a responderem ao II Censo da Diversidade. “É uma trajetória de luta. Em 1997 criamos uma comissão para debater gênero, raça e orientação sexual. De lá pra cá, avançamos. A presença de gays e lésbicas nos bancos é maior, mas a presença de travestis e transgêneros, por exemplo, ainda é invisível. Hoje está aí o questionário, que só terá resultado positivo com a participação massiva dos bancários. Queremos respeito, visibilidade e garantia de direitos iguais a todos os trabalhadores”, ressalta a dirigente sindical da Fetec/CUT-SP Érica Godoy.

Luta contra o preconceito – Uma bancária lésbica entrevistada pela reportagem do Sindicato afirmou já ter respondido ao Censo. “Fiz questão de responder, pois sabia das questões sobre orientação sexual e quero pertencer a esses números. Meus colegas de trabalho também responderam e estamos incentivando outros trabalhadores”, relata.

Ela conta que as piadas do dia a dia consideradas “sutis” e “comuns” pelos colegas, na verdade são comentários carregados de preconceito. “Na minha área tem muitos gays. Esse questionário é válido. Servirá para ‘quebrar o gelo’ aos poucos. Não vão olhar para o diagnóstico e rapidamente aparecerão ações afirmativas. Mas é algo tão importante quanto as cotas de negros em universidades, consideradas desnecessárias para muitos, mas tão necessárias quanto mostrar a diversidade na categoria bancária. É assumir que essas pessoas estão ali, mas que são indevidamente tratadas de maneira diferente.”

Até para usufruir de conquistas como os direitos iguais para casais homoafetivos, a bancária alerta que muitos trabalhadores não levam documentações ao RH do banco para não “se expor”. “A conquista é fantástica, mas o problema é que as pessoas ficam inibidas a se assumirem. E essas perguntas [do Censo da Diversidade] ajudam nesse sentido, para mostrar que tratar sobre esse assunto deve ser natural e comum. E esses bancários devem se sentir seguros”, conclui a trabalhadora.

Outro bancário, também homossexual, sofreu preconceito há dez anos em outro banco. Hoje, mudou de instituição financeira, mas não se esquece da história.  Responsável por promotores terceirizados, sua supervisora orientou que ele demitisse um trabalhador também gay. “Era meu melhor funcionário, atingia todas as metas e era exemplar. Durante o Carnaval, ele levou a fantasia que desfilaria no Rio de Janeiro. Minha supervisora viu a fantasia no local de trabalho, expôs o trabalhador em uma reunião, comentando sobre ele, arrancando risos de outros funcionários. Ela pediu que eu o demitisse. Eu disse que não o faria, pois considerei preconceituosa a atitude dela. Três meses depois ela me dispensou”, relembra.

“Claro que algumas pessoas são preconceituosas. No entanto, é a direção do banco que permite que o preconceito exista no local de trabalho. A direção não pode se omitir em relação a essa prática”, opina.

Casamento – Mesmo com a conquista dos bancários em 2009 sobre a igualdade dos direitos para casais do mesmo sexo, somente a união estável era aceita no Brasil. Em 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga todos os cartórios do país a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo e a reverter uniões estáveis em casamentos.

No início de abril, o bancário entrevistado comemorará um ano de casamento com seu parceiro. Isso porque na cidade de São Paulo a obrigação já existia desde final de fevereiro de 2013. No primeiro ano de vigência foram realizados 701 casamentos na cidade.

Responda ao Censo – O questionário do II Censo da Diversidade deve ser acessado em www.febraban-diversidade.org.br até 25 de abril. A relação dos bancários que participam foi composta tendo como base a Rais (Relação Anual de Informações Sociais) de dezembro de 2013. Profissionais admitidos em 2014 não estão cadastrados e não responderão. Acesse e participe da luta por igualdade de oportunidade.


Gisele Coutinho – 24/3/2014

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