Pular para o conteúdo principal

Em ato, mulheres destacam falta d'água em SP

Linha fina
Além da legalização do aborto, igualdade salarial, fim da violência doméstica, políticas de combate às desigualdades de gênero, manifestação destacou dificuldades provocadas pela crise hídrica
Imagem Destaque

São Paulo - Legalização do aborto, igualdade salarial, fim da violência doméstica, políticas de combate às desigualdades de gênero são temas recorrentes entre as reivindicações do movimentos feminista nas celebrações do 8 de março. No ato deste ano em São Paulo, no entanto, outro tema entrou na pauta: as dificuldades adicionais no cotidiano das mulheres paulistas provocadas pela falta d'água. A marcha, que seguiu da Avenida Paulista em direção ao centro da cidade, cobrou medidas do governador Geraldo Alckmin para que se garanta o abastecimento de água, especialmente da população mais pobre. O ato terminou na Praça Roosevelt, por volta das 15h.

As organizações reforçaram ainda a necessidade de os serviços essenciais, como de água, ser ofertados como bens públicos e não sejam privatizados. A babá Ana Maria Silva, de 55 anos, moradora de São Bernardo do Campo, na região metropolitana, conta que a rotina desgastante das tarefas domésticas só piorou depois que começou a faltar água nas torneiras. “Fecham [o abastecimento] um período. A gente tem que encher os baldes para se prevenir”, disse. Ela ressaltou que, depois de um dia de trabalho, nem sempre é possível tomar banho em casa. “Saio todo dia às 5h e volto às 20h30. Quando meu marido liga para dizer que não tem água, já dou um jeito no trabalho”.

Ana Maria, que integra o Movimento dos Sem-Teto Urbano (MSTU), foi uma das cerca de 2 mil participantes do ato do 8 de março em São Paulo, segundo estimativa da Polícia Militar (PM). Outra organização que integrou o ato foi o Coletivo Juntos!. A funcionária pública Sâmia Bomfim, da Coletivo Juntos!, disse que a falta de água afeta sobretudo o cotidiano das mulheres. “São elas que cuidam das tarefas domésticas. Se falta água, os filhos não vão para o colégio e dificulta a ida delas ao trabalho”.

A marcha trouxe outros temas da conjuntura, como o avanço de pautas conservadoras no Congresso Nacional. “Estamos começando a puxar o 'Fora, Eduardo Cunha'. Ele é autor do Estatuto do Nascituro [projeto de lei que oferece direitos ao feto concebido a partir de estupro]. Além disso, é um dos principais nomes envolvidos no escândalo da Lava Jato”, disse. Nalu Faria, uma das coordenadoras da Marcha Mundial de Mulheres, entende que o enfrentamento dessas pautas no Legislativo passa também por uma reforma política. “Com esse sistema político-eleitoral, nós não vamos ter um Congresso a favor das mulheres”, completou.

Entre as pautas históricas do movimento de mulheres, a legalização do aborto foi um dos que mais se fez presente no ato deste domingo. “Lutamos para que o aborto seja legalizado, porque, como está demonstrado em outros países, isso diminui a incidência dessa prática, porque obriga o Estado a criar políticas públicas que cuidem da saúde sexual e reprodutiva das mulheres”, defendeu Yury Orozco, integrante do grupo Católicas pelo Direito de Decidir. Na opinião dela, manter as mulheres que optam pelo aborto na clandestinidade somente contribui para o aumento das mortes.

As organizações de mulheres negras, por sua vez, reforçaram a necessidade de medidas que combatam o racismo institucional. “Nós somos a base da pirâmide econômica no Brasil. Temos os piores cargos, salários”, disse Mari Medeiros, da União de Negros pela Igualdade (Unegro). Nesse sentido, ela defende ações afirmativas, como a políticas de cotas. Para as mulheres deficientes, a adaptação de aparelhos ginecológicos, como mesa para exames e mamógrafos, é fundamental a fim de que elas cuidem da saúde com autonomia. “Nós queremos liberdade, assim como todas as mulheres. Antes de termos deficiência, somos mulheres”, ressaltou Marly dos Santos.


Camila Maciel, da Agência Brasil - 9/3/2015

seja socio