São Paulo – Para combater a desigualdade de gênero na política, as bancadas femininas da Câmara e do Senado levaram na terça 3 ao presidente do Congresso, Renan Calheiros, duas medidas prioritárias para inclusão na reforma política: a definição de uma cota de 30% das cadeiras do Congresso para mulheres e 30% dos recursos do fundo partidário para candidatas.
"Uma das dificuldades que nos enfrentamos nesse processo é justamente um grau de machismo ainda muito grande por parte dos companheiros que compõem as direções partidárias", afirma a ex-senadora pelo PT Ana Rita, que acredita que, apesar das dificuldades, a representação feminina vem crescendo, mas que para superar esses obstáculos, "precisamos fazer uma boa reforma política. O caminho é esse", disse hoje à repórter Anelize Moreira, da Rádio Brasil Atual.
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Fátima Pacheco Jordão, socióloga e pesquisadora do Instituto Patrícia Galvão, explica que o grande obstáculo são as hierarquias dos partidos políticos. "Não basta ter mulheres candidatas, essas mulheres têm que ter espaço na comunicação, precisam de recursos."
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2014 as mulheres representavam 20% das candidaturas, mas tiveram acesso a 8% das verbas de financiamento. "Os partidos afunilam e encolhem as verbas e não oferecem proporções semelhantes às candidatas. Isso vale para todos os partidos."
Com a participação das mulheres no parlamento em torno de 10%, o país ocupa o penúltimo lugar na América Latina, só atrás do Haiti. Para a professora Fátima Pacheco Jordão, é um dado muito grave, "quase escandaloso". "Sinaliza uma sociedade desigual, do ponto de vista de gênero, e que bloqueia o desenvolvimento do país", analisa.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) defende a reforma política como passaporte para mudar tal realidade "extremamente perversa". Um parlamento que se mantém, há décadas, com um percentual de participação feminina de somente 10% não pode ser considerado democrático e inclusivo.”
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) diz que ter uma mulher ocupando cargo de presidenta da República é fato isolado, em termos de participação política. "As mulheres não têm uma participação mais ampla porque os critérios estão mediados, cada vez mais, pelo interesse econômico. Como, em geral, as mulheres estão mais distantes de exercer o poder econômico, estão mais distante de utilizarem dessa influência para a ocupação de espaços no parlamento, ou em outras instituições."
Rede Brasil Atual - 5/3/2015
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Com participação de mulheres no parlamento em torno de 10%, Brasil é penúltimo em ranking da América Latina, à frente apenas do Haiti
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