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Chapéu
Terceirização

Ameaça a concursos atinge em cheio a categoria

Linha fina
A conta é simples, mas o problema é grande: cada terceirizado que entra, é um concursado a menos
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Foto: Marcos Santos / USP Imagens

São Paulo – O Projeto de Lei da Terceirização aprovado no dia 22 de março, pela Câmara dos Deputados, pode ser o fim do concurso público. Essa é a avaliação do procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ronaldo Fleury, que explica: “Não vai ter mais concurso público porque todos esses serviços poderão ser terceirizados”, disse em entrevista ao Brasil de Fato, logo após a votação.  

Da forma como foi aprovado, o projeto de lei não específica que apenas as pessoas jurídicas de direito privado (empresas privadas) estão liberadas para contratar terceirizados em todas as atividades. Ao não fazer essa ressalva, a lei dá margem para que também as pessoas jurídicas de direito público (a administração pública direta, inclusive os bancos) possam implantar a terceirização, até em setores essenciais.

Dentro deste cenário prejudicial aos trabalhadores, os concursos públicos podem ser afetados em empresas públicas federais e estaduais como: bancos públicos (Caixa, Banco do Brasil, entre outros); Petrobras; Detran; Correios; agências reguladoras; INSS; magistério; profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, entre outros).

O secretário-geral da Contraf-CUT, Carlos de Souza, explica que as empresas públicas irão preferir contratar terceirizados, ao invés de fazer concursos públicos. “Determinados serviços da categoria bancária serão ocupados pela terceirização, como o setor de caixa, por exemplo. Hoje passamos por um ataque aos bancos públicos e aos funcionários das instituições. O governo golpista de Temer tem demonstrado seu interesse em privatizar e reduzir o papel dos bancos públicos”, afirma.

O secretário ainda alerta: “A perspectiva, agora, é ainda pior, com menos concursos públicos. Os efetuados não estão sendo implementados, pessoas já aprovadas não estão sendo nem chamadas. As vagas não são repostas e com esse horizonte, a possibilidade de outros concursos, pelo visto, nem pensar. Um imenso retrocesso”, reforça.

Wagner Nascimento, coordenador da Comissão de Empresa do Banco do Brasil, explica que não só as agências, mas muitos outros setores dos bancos serão afetados. “A terceirização da atividade-fim, além de colocar em risco o emprego de milhares de funcionários do Banco do Brasil, acaba com os concursos públicos, uma vez que estabelece de vez a redução de funcionários no BB. Se hoje, com a intenção do banco de reduzir funcionários com planos de incentivo à saída, já se cancelou concursos, com a entrada de terceirizados em setores internos e agências, o problema se agravará.  Vários setores como centros de apoio aos negócios, engenharias e até agências poderão sofrer com a ‘pejotijação’, mais ainda do que já sofrem. E a conta é simples, para cada terceirizado que entra, é um concursado a menos”, critica.

Para Dionisio Reis, coordenado do CEE (Comissão Executiva dos Empregados) da Caixa, esse Projeto de Lei 4302/98 só serve aos interesses de quem já havia querendo reduzir o papel dos bancos públicos. “A partir do momento que permite a contratação de terceirizados em todas as atividades do banco, reduzindo e eliminando a necessidade de concurso público, precariza todas as atividades, como por exemplo dos caixas, dos gerentes e outros, precarizando o atendimento. Desta forma, reduz o papel desses bancos nos seus serviços à população”, explica Dionisio.

O procurador-geral, Ronaldo Fleury, afirma, porém, que há chances de a lei ser anulada por contrariar o segundo parágrafo do artigo 37 da Constituição Federal, segundo o qual “a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos”.

“Nós estamos avaliando a constitucionalidade do projeto que foi aprovado. Vai depender do texto que for sancionado e, se for o caso, nós vamos acionar a Procuradoria Geral da República para que entre com Ação Direta de Inconstitucionalidade [ADI]”, explica o procurador.

Luta – Os bancários estão na luta contra a retirada de direitos. Na sexta-feira 31, Dia Nacional de Mobilização, assembleias nos locais de trabalho vão deliberar a participação na greve geral convocada pelas centrais sindicais para 28 de abril. O protesto nacional visa barrar os ataques à Previdência e aos direitos trabalhistas promovidos pelo governo Temer e a base aliada no Congresso Nacional. Além disso, o Sindicato convoca os bancários a se unirem a professores, metalúrgicos, químicos e demais categorias em ato na Praça da República, a partir das 17h30 desta sexta. 

“Precisamos de toda mobilização agora. É hora de ir para as ruas e mostrar a esse governo e seus aliados no Congresso que não vamos aceitar que nos roubem conquistas como aposentadoria, férias, 13º”, afirma a secretária-geral do Sindicato, Ivone Silva.

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