São Paulo – Um painel sobre o cenário mundial e a situação do emprego no Brasil e no mundo, dados sobre o trabalho bancário hoje e os desafios que se desenham. Foram os assuntos abordados na segunda mesa de debates do Congresso Extraordinário da Contraf-CUT, que começou quinta-feira 9 e vai até sexta-feira 10, na Quadra dos Bancários. Com o tema Futuro do Emprego, a mesa reuniu o doutor em Ciência Política e coordenador acadêmico da Faculdade 28 de Agosto, Moisés Marques; a doutora em Ciências Sociais Carla Diéguez; e a economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) Vívian Machado.
O professor Moisés Marques traçou, em linhas gerais, considerações sobre a política nos Estados Unidos, na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. Citou o fortalecimento da direita e do fascismo no mundo, como exemplos a eleição – e aprovação por 76% da população – de um defensor do estupro de mulheres e do assassinato de usuários de drogas (Rodrigo Duterte) nas Filipinas; e a ascensão de candidatos da extrema direita nas eleições presidenciais da França (Marine Le Pen) e da Holanda (Geert Wilders).
Referiu-se ainda ao Estado Islâmico e ao medo do terrorismo que toma a Europa, à crise migratória no mundo, aos golpes parlamentares no Brasil e América Latina e, mais demoradamente à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Todos, segundo Marques, fatores que provocarão mudanças na forma como se organiza o trabalho no mundo. “Trump se elegeu com um discurso antiglobalização. Isso é uma mudança de padrão civilizatório. Ele fala em ‘América grande’ novamente, um discurso de crescimento autóctone, fala em cruzada antiglobalização... Vai atacar a China e a China passará a defensora do comércio internacional. Isso afeta a cadeia produtiva e, portanto, o emprego no mundo. Ele fala em fim da integração comercial entre países, o que pode trazer consequências sociais muito graves.”
O professor mencionou também a tecnologia e como ela está mudando o mundo do trabalho, inclusive o bancário. “O aumento da capacidade de processamento dos computadores, o grande crescimento do acesso à internet; as startups que estão afetando vários setores, inclusive o financeiro. A tecnologia está cortando empregos. Provavelmente até 2050 teremos 4 bilhões de desempregados no mundo”, ressaltou.
Tecnologia x emprego – A tecnologia, o desemprego e o trabalho precário foram abordados pela professora Carla Diéguez. A professora apontou para o fim do emprego formal também para a mão de obra mais escolarizada. “Se as pessoas com baixa escolaridade, imigrantes, refugiados, as mulheres, que sempre estão em maior quantidade entre os desocupados, já eram alvo do desemprego e da informalidade; isso agora se estende aos brancos, homens e com alta escolaridade”, afirmou a cientista social. “E com essa nova realidade que vamos ter de lidar agora”, acrescentou, lembrando que o bancário se encaixa nesse segundo grupo.
Ela citou os altos índices emprego no governo Lula e afirmou que o cenário atual não é nada animador: “O golpe, a recessão e a volta do alto índice de desemprego no país, essa reforma da Previdência que estamos enfrentando para poder ter direito a não morrer trabalhando, coisa que já fazem diversos trabalhadores do campo... O cenário político não é animador para o emprego, assim como o uso da tecnologia não é animador”, disse.
Mas mesmo diante dos indicadores e do contexto aparentemente desfavorável, Carla Diéguez se pergunta: “Não seria essa a hora de uma virada anticapitalista?”.
Emprego bancário – A economista do Dieese traçou um breve panorama do trabalho bancário. Em cinco anos (de fevereiro de 2012 a janeiro de 2017) foram extintos 53 mil postos de trabalho no setor bancário brasileiro. Ela também lembrou que as fintechs (pequenas empresas que usam a tecnologia para oferecer serviços bancários) e o uso cada vez maior de meios digitais pelos bancos estão mudando o perfil do trabalho no setor bancário e diminuindo os empregos.
A economista mostrou como os bancos vêm reduzindo suas agências físicas e aumentando as virtuais e como isso resulta em menos empregos, aumento da sobrecarga de trabalho para os bancários (um bancário de agência digital tem que ficar à disposição do cliente em diversos canais digitais, fora de seu expediente), aumenta a pressão sobre o trabalhador que é monitorado virtualmente o tempo todo, e resulta ainda em trabalho não remunerado (aquele que o bancário de agência digital faz fora de seu expediente).
E falou dos desafios do movimento sindical diante desse quadro: “Como chegar a esse bancário que não trabalha mais em uma agência física, que trabalha de casa ou de qualquer outro lugar? O impacto da tecnologia é grande sobre a mão de obra qualificada e tudo isso vai demandar sindicatos cada vez mais fortes”.