São Paulo – Para protestar contra as medidas defendidas e aprovadas pelo governo Temer, organizações e coletivos do movimento negro em São Paulo vão às ruas no sábado 1º, na Marcha Negra contra as Reformas Racistas de Temer. Os alvos dos protestos são as reformas da Previdência e trabalhista, que tramitam no Congresso Nacional, e a terceirização irrestrita e o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos, já aprovados e que, segundo os movimentos, atingem ainda mais diretamente a população negra.
O movimento também denuncia o aumento da repressão policial e a "destruição" de politicas afirmativas, como a gradual redução do Fies e do Prouni, além da inexistência de política de cotas raciais em universidades estaduais paulistas, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O manifesto convocatório lembra que o povo negro é "alvo histórico" de desigualdade, consequência dos séculos de escravidão, e que jamais usufruiu de efetiva cidadania. Mesmo os direitos civis, sociais e trabalhistas, conquistados através da luta dos trabalhadores, foram a eles negados, segundo o documento.
"A população negra será, sem nenhuma dúvida, a parcela mais afetada com o fim das aposentadorias, com o desmonte dos direitos trabalhistas, com o congelamento de investimentos sociais e com o aumento da repressão, alvo naturalizado que somos, das leis punitivas e da ação violenta das polícias", afirma Douglas Belchior, liderança do movimento negro e fundador da Uneafro-Brasil.
Integram a marcha entidades como a Frente Alternativa Preta, Uneafro-Brasil, Círculo Palmarino, Mães de Maio, Coletivo Negro Vozes, Instituto Luis Gama, Cooperifa, dentre outros.
A Marcha Negra contra as Reformas Racistas de Temer será realizada no sábado a partir das 13h, no Largo São Francisco, centro de São Paulo. De lá, a marcha segue até a Avenida Paulista, onde se encontra com o Cordão da Mentira, que celebra o 1º de Abril de maneira crítica e bem humorada.
Confira a íntegra do manifesto:
MARCHA NEGRA CONTRA AS REFORMAS GENOCIDAS DE TEMER
São Paulo, 30 de Março de 2017
A população negra, alvo histórico da desigualdade e da violência, fruto direto das consequências e continuidades dos 4 séculos de escravidão, jamais usufruiu da efetiva cidadania, demarcada em nossos avanços constitucionais.
Mesmo os direitos até hoje conquistados, civis, sociais, trabalhistas, fruto das lutas dos trabalhadores brasileiros, sempre foram sistematicamente negados ao nosso povo. O genocídio, o direto e o simbólico, sempre foi a principal característica da relação entre nós e o Estado.
Em momentos de crise do sistema do capital, como o que vivemos agora, as forças do “deus mercado” e dos grandes empresários e especuladores mundiais apertam o cerco e, por via de governos covardes e entreguistas, como o de Temer, buscam retirar os poucos direitos conquistados pelos trabalhadores, custe o golpe que custar. A ganância de manter e aumentar suas margens de lucro não tem fim.
Por outro lado, para reprimir a população e manter a “ordem social”, investem pesadamente em seu aparato militar, em regulamentações punitivas e restritivas de liberdade. O povo, cada vez mais pobre, é o inimigo. E a população negra, seguimento majoritário da classe trabalhadora é, mais uma vez, o descarte prioritário.
O fim do direito a aposentadoria, o desmonte dos direitos trabalhistas, a terceirização irrestrita do trabalho, o congelamento de investimentos sociais por 20 anos e o aumento da repressão e da violência policial tem um caráter explicitamente racista e genocida. Políticas de ações afirmativas comprovadamente eficazes para um equilíbrio futuro de oportunidades entre negras/os e não negras/os tem sido destruídas. É o que vemos o fim da ampliação de vagas em universidades federais, a gradual diminuição do prouni e fies, a descaracterização do enem, o esvaziamento da importância da lei 10.639, ou seja, a reprodução em nível federal, do que faz o governo do estado de SP através de USP e UNICAMP, que se opõem sistematicamente às políticas de cotas raciais em cursos de graduação e pós-graduação. Sim, com as reformas de Temer, os efeitos do racismo e o genocídio negro vão se aprofundar.
Nós, povo negro, temos um lado e vamos ocupar nosso lugar nesta luta, que não é só o de fazer volume em manifestações, mas de ajudar a dirigir - como maioria que somos - o processo revolucionário e a luta contra as elites racistas que querem nossa morte, que matam nossos filhos na bala, que estupram nossas mulheres pretas, que matam nossos velhos nas filas de hospital.
Por isso tudo, nos somamos às manifestações convocadas pelas Frentes de movimentos sociais, partidos e sindicatos, mas também construiremos agendas da luta negra, para a quais esperamos a mesma unidade.
Neste Sábado, 01 de Abril, estaremos em Marcha, a partir das 13h00, no Largo São Francisco, centro de SP, ‘Negras e Negros, contra as reformas racistas e genocidas de Temer!
Povo negro unido é povo negro forte!