Os empregados da Caixa Econômica seguem em estado de greve e na última terça-feira (27) fizeram uma paralisação histórica, com ampla participação dos trabalhadores, que, apesar da pressão da chefia e da gestão privatista do banco, resistiram.
A gestão do presidente da República, Jair Bolsonaro, e do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, a frente do banco continua mostrando suas garras contra o patrimônio do povo brasileiro. Mais um passo neste sentido foi o início da IPO (oferta pública inicial, em português) de ações da Caixa Seguridade nesta semana, o que provou manifestações de empregados do banco de Norte a Sul do país.
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região somou-se à Fenae e à APCEF-SP no ato realizado na manhã desta quinta-feira (29), na região central da cidade, em frente à Bolsa de Valores B3, em defesa da Caixa, contra as reestruturações, por contratações, pela vacinação prioritária aos bancários, temas sobre os quais a entidade encaminhou documento ao presidente do banco.
A mobilização vem na mesma semana em que a Caixa anunciou que descumprirá determinação judicial e descontará o dia trabalhado dos empregados que paralisaram suas atividades no dia 27, durante o estado de greve decidido pela categoria em assembleia. Os bancários pediram respeito aos empregados, ao direito de livre organização e de greve. E também estiveram na luta em defesa da saúde dos trabalhadores da Caixa, que têm desempenhado um papel fundamental no país durante a pandemia de Covid-19, e que recebem em troca de seu sacrifício a cobrança de metas abusivas, o desrespeito às normas sanitárias e a falta de contratações.
Nas ruas, nas redes e na Justiça
As ações não são apenas nas ruas e nas redes, mas também no Judiciário. No dia 16 deste mês, o Sindicato, a Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa) e a Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) lançaram a campanha “Brasil Seguro é Caixa Pública”, mobilizando, durante todo abril, entidades associativas e sindicais, os empregados e alertando os parlamentares e toda a sociedade sobre os graves prejuízos que a privatização vai causar ao banco e à população, em benefício do mercado privado.
Nesta semana, o Sindicato - na pessoa do seu diretor e ex-presidente Luiz Claudio Marcolino, que hoje é também vice-presidente da CUT - protocolou denúncias na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contra a venda de ações na IPO da Caixa Seguridade por descumprimento de duas das instruções da Comissão (539 e 400).
"Hoje, a Caixa 100% Pública deixou de ser algo concreto, material. A memória de um banco que pode viver de suas operações com respeito à população, com juros mais baixos, com respeito aos empregados com um enorme rol de direitos agora é apenas parte da história", relata Dionísio.
Gestão de desmonte
Desde que Pedro Guimarães assumiu a gestão da Caixa, na administração Bolsonaro, as operações de captação e oferta de crédito deixaram de ser as operações mais relevantes do banco. Estas deram lugar a venda de ativos, como as ações da Petrobras e do Instituto de Reseguros do Brasil (IRB). Esta venda de ativos fez com que o banco tivesse lucratividade alta a curto prazo, mas com um cenário incerto a médio e longo prazo, consagrando o modelo de gestão de manter a lucratividade com a venda de pedaços da empresa.
O mesmo modelo, inclusive, que foi adotado no Banco do Brasil, que vendeu o BB Seguridade garantindo capitalização a curto prazo mas que, a médio prazo, representou uma queda da rentabilidade, ameaçando os direitos dos funcionários do banco. A venda da Caixa Seguridade vem no mesmo sentido e de buscar capitalizar o banco vendendo partes dele.
Segundo a empresa, a oferta movimentou R$ 5 bilhões, considerando a oferta base de 450 milhões de ações e o lote suplementar de 67,5 milhões de ações. Sua liquidação deve somar um ganho bruto no resultado da Caixa de R$ 3,3 bilhões. A Caixa Seguridade é uma subsidiária da Caixa Econômica Federal que atua no segmento de seguros, com serviços nos ramos Habitacional, Prestamista, Vida e Residência.
Caixa 100% é passado?
"Tudo que a Caixa construiu sendo o terceiro maior gerador de empregos do país, direta e indiretamente, o papel do banco na retirada do Brasil do mapa da fome, na realização do sonho da casa própria para milhões de brasileiros e de ter financiado o desenvolvimento do Brasil a partir do consumo das classes mais baixas, tudo isso entrou para história. A Caixa 100% Pública deixa de ser algo concreto e se torna uma ideia, um sonho de um Brasil melhor e mais seguro, especialmente pra quem mais precisa", complementou o dirigente sindical.
Empregado-investidor
O Sindicato recebeu diversos relatos de empregados que foram pressionados para vender e comprar ações da Caixa Seguridade, o que acaba sendo um tiro no pé dos próprios trabalhadores. Confira alguns relatos e deixe o seu no formulário abaixo.
"Recebi ligações de manhã, de tarde, com cobranças, ameaças de descomissionamento, se eu realizasse minha meta. Então, fiz empréstimo e comprei pois haviam garantido rentabilidade. Hoje me arrependo, mas o medo foi maior”
- Empregada GGR em Agência
“Eu estava decidida que não iria comprar, mas a pressão foi aumentando cada vez mais. A meta é muito alta e o atendimento absurdo, até que você começa a pensar que se comprar as ações, a pressão diminuiria. Comprei, apesar de não ter dinheiro pra isso, nunca apliquei dinheiro na vida, mas desta vez não teve jeito. Tive de ceder”
- Empregada GGR em Agência