São Paulo – Os problemas da maior cidade do país só serão resolvidos com projetos estruturais e não com ações pontuais e superficiais, como vem sendo feito nos últimos anos. A afirmação é do pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, que conversou com blogueiros e jornalistas na sede do Sindicato, na terça-feira 8, no evento Cartas na Mesa, promovido pela Rede Brasil Atual.
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Haddad, que foi ex-ministro da Educação no governo Lula e no início da gestão da presidenta Dilma Rousseff, ressaltou que há um descompasso entre a capital do estado e o país. “O paulistano percebe que a vida melhorou da porta de casa pra dentro, devido às políticas federais que melhoraram a renda e o acesso a bens duráveis. Mas quando coloca os pés pra fora de casa, vê que as coisas pioraram, no que diz respeito aos serviços públicos.”
De acordo com Haddad, entre as áreas que exigem intervenções estruturais e imediatas na cidade estão transporte público, moradia, saúde e educação. “Temos de mexer com as entranhas da cidade, para que São Paulo possa fazer parte do projeto de desenvolvimento vivido hoje pela Brasil”, defendeu.
Educação – Ex-titular da pasta no governo federal, Haddad propõe para o município a oferta de educação integral a crianças e adolescentes. “A educação tem de abrir os horizontes culturais. Não associar cultura e educação é um erro”, disse.
Nessa perspectiva, educação integral não pode se restringir à escola, mas utilizar museus, bibliotecas, parques, clubes e outros espaços de São Paulo. “A cidade tem condições de atender essas crianças e adolescentes em tempo integral e temos de colocá-la à disposição desse projeto.” Mas para isso, acrescentou, é preciso ter transporte público de qualidade. “Precisamos de um sistema de mobilidade que permita a ocupação desses espaços pela escola.”
Transporte – O debate da mobilidade foi um dos temas do Cartas na Mesa. “O município tem de voltar a investir em transporte público intermodal. Temos de investir em transporte sobre pneus e ter um plano de metas para transporte sobre trilhos.” De acordo com Haddad, a prefeitura tem de ser contratante de serviços de metrô. “O município pode e deve determinar a linha e o cronograma de entrega.”
O pré-candidato também falou sobre a necessidade de gestão e engenharia de trânsito e de gerar empregos nos bairros. “A questão da mobilidade necessita planejamento, engenharia de trânsito, mas também descentralização das atividades econômicas. Sem essas três questões não haverá recursos suficientes para resolver o problema.”
Segurança – Para Haddad a segurança pública passa também pela ocupação dos espaços urbanos e sua revitalização. “Uma cidade é digna desse nome quando promove a interação face a face das pessoas. Pessoas produzem cultura, conhecimento, a partir da interação. Prover os parques da cidade com banda larga, por exemplo, possibilita essa convivência. É isso que torna a cidade mais segura, mais convidativa, mais produtiva culturalmente. Lugar ocupado é lugar seguro, uma cidade que tem vida comunitária é uma cidade que gera um circulo virtuoso: ocupação que gera segurança que gera mais ocupação.”
Moradia – Haddad destacou a importância de um plano habitacional para São Paulo, que vive seu pior momento nessa área. “Nunca se produziu tão pouco nesse sentido. E não há projeto ambiental de sustentabilidade sem um plano habitacional que dialogue com a questão das áreas verdes, do transporte e do saneamento básico. Temos de ter uma agenda de desenvolvimento urbano.”
Ele disse que o atual padrão de ocupação urbana segue a lógica construtiva excludente. “Mantida a dinâmica atual os trabalhadores de São Paulo não poderão morar em São Paulo. Não é verdade que não tem mais terreno na cidade. O que acontece é que o acesso à terra depende da forma como se vai adensá-la. Temos de ter projetos habitacionais que pensem no aproveitamento do hectare, em adensar populacionalmente. Barcelona tem o dobro da densidade populacional de São Paulo e o padrão de moradia é melhor.”
Andréa Ponte Souza - 8/5/2012
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Ex-ministro e um dos pré-candidatos à prefeitura defende projetos estruturais para a cidade e questiona: “a cidade está no rumo que queremos?”
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