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Lixo urbano requer plano de gestão, diz especialista

Linha fina
Em entrevista, professor da USP comenta como o poder público pode agir melhor na administração da limpeza e reciclagem para melhorar a vida dos cidadãos
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São Paulo - Questões que impactam na qualidade de vida dos trabalhadores são temas de reportagens especiais veiculadas na Folha Bancária e no site. Depois de abordar problemas que os paulistanos enfrentam no transporte público e com a falta de segurança, a série Sindicato Cidadão fala sobre o lixo na cidade.

> Limpeza urbana é desigual em SP
> Todas as matérias publicadas da série Sindicato Cidadão

Para o professor de Gestão em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) Ednilson Viana a raiz da questão é a necessidade de ser melhorada a gerência dos resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável da cidade. Segundo o especialista, o sistema de reciclagem, por exemplo, precisa ser repensado, uma vez que são poucos os programas que orientam a população a separar apenas o que tem mercado para reciclagem ou que pode ser escoado no município.

Em entrevista, o professor comenta como o poder público pode agir para melhorar a vida dos cidadãos em relação à limpeza urbana e diz que o assunto é “uma atitude de respeito do município para com o cidadão.”

Como o senhor vê a questão da limpeza urbana na cidade de São Paulo?
A limpeza urbana de uma megacidade como São Paulo não é uma tarefa fácil e, sobretudo, é muito desafiadora, importante e necessária. Embora haja muitos bairros ou vias públicas em que se nota uma limpeza exemplar, há outros em que parece que este tipo de serviço não está dimensionado de forma suficiente. Nota-se, principalmente em regiões mais periféricas, muito lixo descartado em canteiros de avenidas, praças etc. Isto tudo requer um plano de gestão, com maior clareza da dinâmica de geração do lixo nas mais diversas realidades da cidade.

De que forma o poder público municipal pode melhorar a limpeza urbana?
Em primeiro lugar mapear os pontos críticos de descarte de resíduos, rever a quantidade de coletores distribuídos pelas principais vias e praças e pontos de grande circulação de pessoas, rever o modelo de coletores e investir pesadamente em campanhas para atingir a população e buscar a mudança de hábito, não só no descarte, mas também para evitar a produção de lixo. Colocar coletores para alguém que não entende a importância pode ser pouco proveitoso. Por outro lado, sabemos que há depredação dos coletores e por isso é importante estudar muito bem onde colocá-los e que modelo adotar para que se evite ou minimize estes estragos.

E as ações públicas para a reciclagem?
Esta é uma questão muito atual e futurista. Em primeiro lugar, é preciso disponibilizar a coleta seletiva em todo o município e melhorar este sistema que se tem hoje, trabalhar intensamente na mudança de comportamento da população, voltado para evitar a produção e separar adequadamente o que é reciclável (ou tem reciclagem no município) e promover a ampliação do mercado de reciclagem - porque seria um gargalo coletar todos os recicláveis de São Paulo sem ter como escoar estes materiais. Fazer valer processos de compostagem, muito esquecidos pelos municípios. Foram desativadas duas usinas de reciclagem de resíduos orgânicos em São Paulo. Por volta da metade (50%) do lixo municipal são resíduos orgânicos e hoje já existe tecnologia para esse tipo de reciclagem, gerando um produto para ser utilizado na agricultura e que não gera nenhum outro subproduto.

A instalação de novos postos de coleta seletiva na cidade o processo de reaproveitamento do lixo? Que medidas são necessárias para que o lixo coletado seletivamente seja, de fato reaproveitado?
Sem dúvida beneficia, mas tem de ser feito de forma adequada. Eles devem ser muito bem estudados e dimensionados para a realidade local, monitorados e reavaliados constantemente. Em primeiro lugar, é preciso ampliar o mercado de recicláveis, incentivar o uso de produtos reciclados e o que poucos programas de coleta seletiva fazem: pedir que as pessoas separem apenas aquilo que de fato tem mercado ou que pode ser escoado. Esta é uma atitude de respeito do município para com o cidadão. É fundamental informar à população o que de fato deve ser separado. Um programa de coleta seletiva deve ser monitorado e deve-se utilizar indicadores para isto, que já estão estabelecidos, tais como a quantidade coletada, qualidade da separação, quantas residências contribuem etc.

Existem cerca de cem cooperativas de reciclagem na cidade de São Paulo. Apenas 21 delas recebem o apoio da prefeitura. O senhor acha pouco?
Se for ampliada a coleta seletiva no município, e isto deveria ser prioridade, certamente esta quantidade [de cooperativas] é pouca. É necessário também que, em paralelo, se busque que elas agreguem também a questão ambiental no processo e não somente a geração de emprego e renda, pois a população espera mais do que isso.

De que forma a universidade pode contribuir para a questão do lixo em São Paulo?
A universidade como formadora de massa crítica e produtora de conhecimento tem um papel importante na discussão de soluções para a gestão dos resíduos sólidos e pode e deve ser incluída no processo.


Gisele Coutinho – 21/5/2012

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