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"Rapidinha" reflete sobre intolerância

Linha fina
Primeiros dois módulos de debates informaram sobre diversidade, orientação sexual e prazer
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São Paulo - O amor e a sexualidade foram os temas abordados no ciclo de debates "Rapidinha no Sindicato", ocorrido na sexta 24 e sábado 25 na sede do Sindicato. A plateia lotou o auditório amarelo e participou de reflexões sobre assuntos propostos pelas palestrantes, considerados tabus na sociedade, como o autoconhecimento do corpo, liberdade sexual e violência psicológica.

> Fotos: galeria de imagens do debate

Myrna Coelho, pesquisadora da USP e integrante do Observatório de Saúde Mental, Drogas e Direitos Humanos do Instituto Sedes Sapientiae, refletiu sobre a retomada do conservadorismo e retrocessos quanto ao sexo. "O que é normal e o que é anormal é pautado por um grupo que tem interesses financeiros", frisou. De acordo com a pesquisadora, a discussão sobre  sexualidade cada vez mais é ditada pela premissa do "corpo-máquina", do indivíduo que deve funcionar para o trabalho e produzir o lucro em função do patrão, deixando seu próprio bem-estar de lado.

"Onde fica o espaço para o prazer nisso tudo?", questionou Myrna, alertando ainda sobre a manutenção de um discurso burguês, de poder. Ela dá o exemplo da indústria farmacêutica que estaria alimentando a ideia de anormalidade e patologia na população para estimular o consumo de medicamentos, como o caso do Viagra. "O prazer atravessa nossa vida fundamentalmente pelo consumo. É por meio desta lógica que vamos consumir o que é normal e o que não é."

Junto a isso, acabamos não tendo tempo ou motivação para sentir prazer com coisas simples por diversos fatores do dia a dia, seja a correria ou o cansaço. Foi o que ressaltou a especialista em psicologia Junguiana e doutora em Saúde Pública Clara Cavalcante. "Quantas vezes sentimos prazer nas últimas semanas com coisas simples que não aproveitamos porque fazemos à toque de caixa?", indagou.

"Estamos criando modelos de sexualidade ou estamos abertos para discutir a liberdade sexual?" Com este questionamento, a doutora propôs uma discussão: que tipo de debate a sociedade está tendo acerca do tema? A formação de tudo isso, segundo ela, começa já na gestação de um bebê. "Quando a mulher está grávida, há a expectativa quanto ao sexo biológico da criança. As pessoas compram roupa azul para menino e rosa para menina. O brinquedo dado para os meninos é bola, e menina boneca", disse. Enquanto isso, o menino que poderia desenvolver seu potencial lúdico é criticado caso se interesse em brincar com boneca.

A cultura judaico-cristã enraizada na nossa sociedade, segundo Clara, dita as normas da sexualidade. Esta normatização - o que é certo e o que é errado - é ditada desde a escola. "A ideia que se desenvolve é que não temos que sentir prazer, e sim trabalhar", ressaltou. Esta premissa de que a mulher deve sentir as dores do parto e o homem deve ser o provedor é reproduzida desde os tempos da antiguidade.

Outra norma, segundo ela, é que o homem gay só pode ser melhor aceito em seus círculos sociais caso se vista com roupas masculinas e se comporte como tal em público. Já o homossexual com trejeitos femininos são estereotipados como se fosse de segunda categoria, algo negativo.

A intimidação e a intolerância - O bullying, ou a intimidação, são atos de violência psicológica ou física praticados por um grupo de pessoas de perfil autoritário, ou "valentões". Em cerca de 20% dos casos, o indivíduo é vítima e autor de bullying ao mesmo tempo. Margarete Barreto, delegada titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, ponderou que para falarmos sobre sobre o assunto, é preciso entender as atitudes humanas.

"Às vezes as crianças aprendem o preconceito na escola", disse a delegada. Este preconceito, em um primeiro momento, se dá pelas diferenças físicas, segundo Margarete. Pequenos atos de intimidação - como isolamento, xingamentos e agressão física - logo na infância podem trazer consequências na vida dos indivíduos envolvidos, como a homofobia e discriminação.

Estão programados outros dois módulos de debates sobre sexualidade, em setembro e dezembro.

Iniciativa - O evento contou com a participação do presidente da Afubesp, Camilo Fernandes, que parabenizou a diretora financeira da entidade e secretária de Relações Sindicais e Sociais do Sindicato, Maria Rosani Gregorutti, pela iniciativa. "É um tema muito bem colocado, e temos de levá-lo para outras instâncias", disse o dirigente. Também estiveram presentes a secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas, a secretária de Políticas Sociais da Fetec-SP Crislaine Bertazzi e Deise Recoaro, secretária de mulheres da Contraf-CUT.


Letícia Cruz, da Afubesp - 31/5/2013

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