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Grafiteiros se unem contra pichação homofóbica

Linha fina
Artista de rua refez obra em porta de papelaria no Rio de Janeiro após ver seu trabalho anterior atacado
Imagem Destaque
Rio de Janeiro – Um dia após ter seu grafite na Praça São Salvador pichado com mensagens homofóbicas, a artista visual RafaMon fez na segunda 2 nova pintura na porta da papelaria. No sábado 30 ela já havia desenhado uma flor gigante e multicolorida para cobrir mensagens de ódio.

A artista voltou ao local, na cidade do Rio de Janeiro, com o colega Bili Gebara e disse que outros grafiteiros já se dispuseram a "entrar na briga" contra as pichações homofóbicas. A nova arte mostra mãos coloridas entrelaçadas (foto ao lado). "A gente quer passar uma mensagem de amor agora, que tivesse algum significado, mesmo sem escrever. As mãos entrelaçadas mostram que a gente está junto. Ninguém precisa ser homossexual para defendê-los. Estamos juntos inclusive contra essa pressão fascista. Se picharem de novo, vou pintar de novo."

A ideia é buscar o diálogo com os pichadores que escreveram os xingamentos para que o vandalismo não ocorra novamente. "Existe um código não escrito em que os pichadores tendem a respeitar o grafite. Mas existe provocação, todo tipo de coisa. Nesse caso não é pichação, ele escreveu uma mensagem. É uma expressão dele, não concordo, mas respeito. O nosso desenho provoca o diálogo, pensamos em algo que abafe o conflito, queremos unir."

O dono da papelaria, Luiz Veltri, 92 anos, disse que a pichação feita no dia 18 de abril foi a primeira em 46 anos da loja. "Apareceram uns dizeres que repercutiram mal na comunidade. As meninas vieram e conversaram comigo [sobre o grafite] e eu aceitei, participei com o dinheiro das tintas. No sábado eu vi a pintura e achei maravilhosa, tinha gente parando carro para tirar foto. Foi uma coisa que agradou. Agora picharam de novo, falei que não valia a pena pintar de novo, mas resolveram pintar."

O segurança noturno, contratado pelos bares da região, disse não ter visto o autor das pichações, segundo Veltri.

A advogada Geórgia Bello, integrante do Coletivo À Esquerda da Praça, diz que a mensagem de ódio pode estar relacionada com o trabalho que o coletivo faz na praça, de promover debates sobre questões como direitos das mulheres e minorias.

"Acho que isso tem a ver com esse momento de ódio que o país vive, as pessoas são desrespeitosas. No domingo, um senhor me dirigiu ofensas porque eu estava com um adesivo “Fora Cunha”. Passamos por situações de ódio gratuito porque a gente defende um governo que a gente acredita. Qual o sentido de pichar a porta de um senhor de 92 anos, conhecido no bairro? Isso tem a ver com esse momento político e com o trabalho que a gente faz na praça, que acaba sendo uma formação política."

No sábado 8, cinco bares da região terão as portas grafitadas, "para colorir a praça", de acordo com os ativistas.


Akemi Nitahara, da Agência Brasil - 3/4/2016
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