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‘Gritaço’ na internet contra cultura do estupro

Linha fina
Em menos de uma hora, campanha havia alcançado o primeiro lugar entre as mais usadas no Twitter no Brasil e o terceiro lugar mundial
Imagem Destaque
São Paulo – Após as notícias de quinta-feira 26 de que duas adolescentes foram vítimas de estupros coletivos, no Rio de Janeiro e no Piauí, representantes de movimentos sociais, movimentos feministas, artistas, parlamentares e entidades pró-direitos humanos lançaram uma campanha nas redes sociais contra a cultura do estupro. A ideia é que até o fim de junho, internautas publiquem vídeos nas redes sociais dizendo não à violência contra a mulher, usando as hashtags #EstuproNuncaMais e #‎PeloFimDaCulturaDoEstupro?. Ainda na quinta, em menos de 1h, a campanha havia alcançado o primeiro lugar entre as mais citadas no Twitter Brasil e terceiro lugar mundial.

Centenas de pessoas mudaram suas fotos no Facebook, aderindo ao avatar “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”. A presidenta Dilma Rousseff foi uma delas. “Presto minha total solidariedade à jovem, menor de idade, estuprada por vários homens. Além de cometerem o crime, os agressores ainda divulgaram fotos e vídeos da vítima, desacordada, na internet. Uma barbárie”, disse no Twitter.

A atriz Letícia Sabatella também aderiu ao movimento e postou seu vídeo no Instagram e no Facebook.

> Assista ao vídeo 

Em Porto Alegre, mulheres se reuniram na Casa de Cultura Mario Quintana e realizaram um ato de repudio à cultura do estupro. Entre elas estava a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). “O estupro é parte de uma cultura perversa de dominação e violência contra as mulheres e meninas. Para enfrentar essa cultura, vamos ocupar as redes, as ruas, e repudiá-la com todas as nossas forças e unidade”, publicou no Facebook. “Aprendi com minha filha de 15 anos uma nova palavra: Sororidade. Ela significa uma especial solidariedade entre nós, mulheres. Diga não à cultura do estupro!”

O crime – A Polícia Civil do Rio de Janeiro tomou depoimento de uma jovem de 16 anos que foi drogada e estuprada por 33 homens. O crime foi denunciado após um vídeo com imagens da jovem desacordada e com órgãos genitais feridos e expostos ter sido postado na internet. Nas imagens, um homem diz que “uns 30 caras passaram por ela”. "Acordei com 33 caras em cima de mim. Só quero ir para a casa", disse a jovem, ainda no hospital, de acordo com o jornal O Globo.

> Temer chama reunião “de emergência” na terça 

O pai da jovem, muito abalado, afirmou que a agressão ocorreu no Morro São João, na capital fluminense: "Ela foi num baile, prenderam ela lá e fizeram essa covardia. Bagunçaram minha filha. Quase mataram ela. Estava gemendo de dor. Ficou tão traumatizada que só conseguia chorar".

A polícia já pediu a prisão de quatro homens. Um deles é Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, com quem a adolescente tinha um relacionamento, além de Marcelo Miranda da Cruz Correa, de 18 anos, Michel Brazil da Silva, de 20, e Raphael Assis Duarte Belo, de 41.

No Piauí – Em Bom Jesus, sul do Piauí, uma jovem de 17 anos foi violentada por cinco jovens, quatro deles menores de idade, na madrugada do último dia 20. Após uma briga com o namorado, a jovem teria ingerido bebida alcoólica e os suspeitos se aproveitaram da embriaguez para cometer o crime. Ela foi encontrada amarrada dentro de uma obra.

A ONU mulheres emitiu uma nota em que se solidariza com as duas jovens estupradas e pede ao poder público do Rio de Janeiro e do Piauí incorporem perspectiva de gênero na investigação, processo e julgamento dos casos. A organização também pede à sociedade brasileira “tolerância zero” a todas as formas de violência contra a mulher.

> ONU Mulheres pede "tolerância zero" à violência 

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro também divulgou nota repudiando “o ato de barbárie” cometido contra a jovem carioca e se prontificou a oferecer apoio jurídico a ela e a família.

“Os atos repulsivos demonstram, lamentavelmente, a cultura machista que ainda existe, em pleno Século 21”, diz o texto. “Importante ressaltar que cada frase machista, cada piada sexista, cada propaganda que torna a mulher um objeto sexual devem ser combatidas diariamente, sob o risco de se tornarem potenciais incentivadoras de comportamentos perversos. E, igualmente, lembrar que, se esse crime chegou ao conhecimento público, tantos outros permanecem ocultos, sem repercussão. Precisamos lutar contra a violência em cada lar, em cada comunidade, em cada bairro.”

Repercussão – Jornais de todo o mundo noticiaram o caso do Rio de Janeiro. O The Times of India afirmou que o caso é a crise de "Nirbhaya" brasileira, em alusão ao estupro coletivo dentro de um ônibus que terminou com a morte da vítima, em 2012, em Nova Déli. A reportagem lembra que o crime ocorreu menos de dois meses antes do início das Olimpíadas. "Apesar dos crimes sexuais não serem incomuns nas favelas, onde gangues armadas operam e muitas vezes têm como alvo vítimas inocentes, a brutalidade deste caso chocou completamente o país”, diz o texto.

No Reino Unido, a BBC e o Metro deram destaque para o caso, dizendo que o crime alarmou o Brasil e que a população exige resposta do poder público. O El País, da Espanha, destacou que o Ministério Público recebeu pelo menos 800 denúncias após a divulgação do vídeo.


Rede Brasil Atual, com informações de O Globo e Valor Econômico – 27/5/2016
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