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Chapéu
'Não investigam nada'

'CPI fantasma' ronda os corredores da Alesp

Linha fina
Comissão foi criada em dezembro do ano passado para apurar irregularidades supostamente cometidas nos planos de saúde, mas ainda não tem sequer relator
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Foto: Marco A.Cardelino / Alesp

São Paulo – Uma “CPI fantasma” ronda os corredores da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Instaurada em 9 de dezembro para "apurar eventuais irregularidades cometidas pelas operadoras de planos de saúde no estado, em que a conduta de tais empresas tenha como consequência violações aos direitos dos consumidores", a Comissão Parlamentar de Inquérito até hoje não tem sequer relator e apenas na terça-feira 9 realizou sua segunda reunião ordinária. A razão para a ausência dos trabalhos é a falta de quórum nas audiências. Leia íntegra da matéria na Rede Brasil Atual.

Apesar de instalada em dezembro, em função do recesso parlamentar de janeiro, a primeira tentativa de reunião ocorreu no dia 8 de março. Não houve quórum. Na semana seguinte, com número suficiente de parlamentares, o deputado Wellington Moura (PRB) foi eleito presidente da CPI, com o deputado Carlos Neder (PT) sendo escolhido vice-presidente. A partir dali, foram cinco tentativas sem sucesso – nos dias 28 de março, 4, 18, 25 e 26 de abril – de realizar a segunda reunião ordinária. Em cada tentativa fracassada, apenas o presidente e o vice compareceram a todas as audiências. Jooji Hato (PMDB) esteve presente em três das cinco ocasiões, enquanto Roque Barbiere (PTB) nunca apareceu e nem justificou as ausências.

São ainda membros da comissão os deputados Ramalho da Construção (PSDB), Ed Thomas (PSB), Doutor Ulisses (PV), Fernando Cury (PPS) e a deputada Célia Leão (PSDB). Durante o mês de abril, a CPI também teve a desistência dos deputados tucanos Pedro Tobias (PSDB) e Analice Fernandes (PSDB), além do Psol, que renunciou à sua vaga.

Para o deputado Carlos Neder (PT-SP), a CPI é mantida de modo “artificial” e há um rodízio entre os deputados que comparecem à reunião, porém nunca em número suficiente para dar quórum. “Criam a ilusão de que querem investigar, mas de fato isso não acontece. Se quisessem, já teriam nomeado o relator”, afirma o parlamentar petista.

Segundo Neder, uma das hipóteses para o não andamento dos trabalhos é que os deputados não têm interesse de investigar seriamente os planos de saúde. Entre as razões, ele acredita, pode estar o fato de as operadoras de saúde complementar terem sido financiadoras da campanha do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e de alguns dos próprios parlamentares.

“Não querem se indispor com a Amil, com a Qualicorp... Tudo isso está por trás da maneira como eles estão agindo. Deixou de ser interesse para eles investigar”, argumenta Neder, que ainda acredita haver uma espécie de “conluio” entre a medicina privada, o governador Alckmin e deputados que esperam ser financiados nas próximas eleições, talvez com doações de pessoas físicas do setor, já que agora a legislação eleitoral não permite mais a doação de empresas. “O prazo da CPI está sendo consumido para absolutamente nada, é um circo montado.”

Após a reunião da terça-feira 9, depois de todo o mês de abril perdido, a CPI teve o prazo de funcionamento prorrogado por 60 dias e terá mais 10 semanas de trabalho, com data de encerramento prevista para 18 de agosto.

Sem querer entrar no mérito das razões dos parlamentares que não compareceram nas reuniões convocadas, o deputado Wellington Moura (PRB), presidente da comissão, lamentou o tempo perdido e afirmou que fará a sua parte para que a investigação aconteça. “Queremos os esclarecimentos dos planos. Temos que defender a população, que quer respostas dos deputados. Vou fazer a minha parte, respondo pelo meu mandato. Não vou admitir que durante essas dez semanas se deixe de pautar toda a semana. Não vou permitir que o trabalho fique parado”, garante.

O deputado diz ter tomado “todas as medidas” necessárias para o andamento da CPI. “Infelizmente, numa reunião vinha um, vinha outro... É uma comissão de sumo interesse para o povo que sofre, que tem plano de saúde e é mal atendido”, diz. “Essa Casa não pode ficar de braços cruzados.”

Segundo o presidente da CPI, após finalmente ter sido realizada a segunda reunião – em que foram aprovados os requerimentos apresentados pelo deputado Carlos Neder para a convocação do secretário estadual da Saúde, David Uip, e do secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara –, os próximos passos da comissão são eleger o relator, ouvir agências reguladoras, sindicatos de médicos, conselhos de saúde, órgãos de defesa do consumidor e as empresas prestadoras dos planos de saúde. “Vamos chamar uma por uma das que têm reclamação”, destaca.

Questionado sobre a falta de interesse dos membros da CPI em investigar os planos de saúde e a possível relação disso com financiamento de campanhas, Wellington Moura preferiu não analisar tal possibilidade e disse fazer um trabalho “justo”. “Vou tomar todas as atitudes para que a população não sofra, farei a minha parte, não vou ficar de braços cruzados, vou defender o consumidor”, afirma.

Saúde em risco - Wellington Moura aponta que uma das consequências das irregularidades cometidas pelos planos de saúde complementar, principalmente no que se refere a exames mais caros que eles não querem cobrir, é a migração das pessoas para o Sistema Único de Saúde (SUS), sobrecarregando a rede pública. A avaliação é compartilhada pelo vice-presidente da CPI, Carlos Neder, que ainda acrescenta ao mau atendimento a crise econômica que tem feito as pessoas cancelarem os planos privados.

Diante da relevância do tema, o deputado petista enfatiza a importância da CPI cumprir seu objetivo e investigar as irregularidades, mesmo ciente da falta de real interesse dos outros membros da comissão.

“É fundamental que o parlamento estadual e nós, deputados, façamos a investigação com seriedade, trazendo todos os atores que possam ajudar a esclarecer por que a população da capital do estado de São Paulo e no país, como um todo, vem sofrendo frequentemente em função de contratos firmados, cujas cláusulas não foram observadas no dia a dia do atendimento aos cidadãos”, avalia.

Segundo Neder, não é novidade na Assembleia Legislativa paulista a existência de CPIs que, na prática, “não investigam nada”, mas a dos planos de saúde seria mais grave. “Essa é a mais escandalosa que já vi, nem relator tem.”

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