O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região conseguiu, na Justiça, anular a demissão e reintegrar uma bancária dispensada pelo Itaú no período pré-operatório para tratar Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e trombose decorrentes do trabalho. Hoje ela sofre com dores nos punhos, cotovelos, ombros, além de problemas nas colunas cervical, dorsal e lombar, estresse, ansiedade e síndrome do pânico.
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Segundo Carlos Damarindo, secretário de Saúde e Condições de Trabalho, o Sindicato fez várias tentativas de reintegrá-la administrativamente, porém, o banco se recusou e apostou que não haveria uma ação trabalhista.
"Teria sido muito mais digno se o Itaú tivesse cancelado a demissão e reparado os danos causados à bancária. Porém a empresa se negou. Então, conseguimos provar na Justiça que o banco agiu de má fé, pois a demissão ocorreu em um momento em que ela se tratava de doenças decorrentes do trabalho e se preparava para mais duas cirurgias. Por isso, é importante os bancários fortalecerem e estarem juntos ao Sindicato", diz o secretário de Saúde.
A bancária – que trabalha no banco Itaú desde 1991, foi desligada em agosto de 2019 e reintegrada em março de 2020 – diz que só conseguiu com a orientação do Sindicato. "O Sindicato não age sozinho, e nem a gente, ele foi um ponto de apoio primordial na minha batalha. Resisti a toda humilhação por parte dos médicos do banco e do INSS e só persisti porque eu gosto do meu trabalho, queria muito retornar, e o Sindicato esteve comigo o tempo todo. Através da minha luta eu espero que outros bancários, assim como eu, não desistam de seu emprego. Hoje estou feliz e me sinto preparada para fazer o que sempre fiz com muito carinho e dedicação: atender os clientes do banco", diz.
Entenda o caso
A bancária entrou no banco em 1991 e, após dois anos de atividades, desenvolveu LER nos punhos, cotovelos, ombros, além de problemas nas colunas cervical, dorsal e lombar.
"Os primeiros sintomas da LER apareceram em meados de 1993, com as crises de dores fortes e inchaço, naquela época os médicos tratavam como tendinite. Imobilizavam o membro afetado com gesso e receitavam medicamentos, eu ficava de dois a três dias em casa. Tirava o gesso e voltava ao trabalho, isso foi sendo repetido por algumas vezes. Cheguei até a me entupir de analgésicos e anti-inflamatórios para não me ausentar do trabalho", diz a bancária.
Ela ainda relata que cinco anos mais tarde, em 1998, teve uma crise mais forte e parte do corpo paralisado. "Acordei no meio da noite com o lado esquerdo paralisado, a dor era tão intensa que não conseguia mexer o braço e pensei que fosse infarto. Fomos para o pronto-socorro e o médico me disse que as dores eram decorrentes da LER", diz.
A bancária comenta que após os exames, abriu Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), e foi encaminhada ao INSS, afastando-se do trabalho até 2007, quando começaram as altas programadas.
"Nesse período, eu não tive condições psicológicas de voltar. Passei por longos quatro anos sem assistência por parte do banco, sem salário e sem nenhum tipo de auxílio por parte do INSS e isso, me levou ao fundo do poço. Contava somente com as orientações do Sindicato e seus advogados que ingressaram com um processo contra a Previdência, que continua tramitando até hoje (12 anos e 7 meses), já obtivemos êxito em Pericia no IMESC, êxito em duas instâncias e aguardo o final que acredito estar bem próximo", conta, acrescenta que por conta da pandemia de coronavírus, a conclusão do processo está paralisada.
Problemas não param aí
Ainda segundo a bancária, em 2011, quando retornou ao trabalho, mesmo ainda sob efeito de fortes medicamentos, aguentou o máximo que pode no trabalho. "Os anos foram passando e eu aguentei firme até que em 2014, não deu outra, os problemas com a LER e psicológicos começaram a se agravar ainda mais por conta da pressão e das metas intensas. Fiquei a ponto de surtar", conta.
Em meio a isso, a bancária ainda lutava para que o INSS reconhecesse a estafa e liberasse o afastamento. O que não ocorreu. E no final de 2015 teve de fazer uma cirurgia.
"Tive outro problema com o banco Itaú. Foi lançado um débito de quase R$15 mil do adiantamento do auxílio-doença. Esse débito foi crescente pois não tinha como fazer o pagamento, já que não havia recebido nada do INSS. Tentei de diversas maneiras resolver, mas sem sucesso. Daí procurei o Sindicato e ele ingressou com outra ação trabalhista. A perícia foi favorável. O processo teve êxito em duas instâncias com reconhecimento do Nexo de Casualidade, Convênio Médico Vitalício e Indenização de 12,5% por perda de força e limitações." Também por causa da pandemia de coronavírus, a conclusão do processo está paralisada.
Demissão
A bancária ainda relata que em março de 2019 teve de fazer outra cirurgia na lombar. Foi afastada em junho por conta de uma trombose chegando a ficar internada por 5 dias, sendo 4 deles na UTI.
"Voltei a trabalhar no mesmo mês após a cirurgia, me dediquei totalmente para compensar o tempo em que fiquei afastada. Um mês e meio depois, me preparei para mais duas cirurgias: uma na coluna e outra por conta da trombose, fui desligada em agosto de 2019. Sem nenhuma explicação. Procurei novamente o Sindicato e eles conseguiram reverter minha demissão", relata com emoção a bancária.
"O caso da bancária vai de encontro com a reforma trabalhista. O trabalho do bancário está entre as atividades que mais adoecem. Os bancos jogam muito peso no desmonte dos direitos trabalhistas para terem segurança jurídica, tentando minimizar a responsabilidade. Por isso, reforço a importância da sindicalização, pois só assim, poderemos garantir a resistência e os direitos", finaliza Damarindo.
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