Foi realizada nesta quinta-feira 13, no âmbito da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados, por iniciativa do deputado Alexandre Padilha (PT), audiência pública sobre a situação dos aprovados em concurso de 2014 da Caixa e os impactos do quadro defasado de empregados e do desmonte do banco público no atendimento à pessoa idosa.
Participaram da audiência, além do deputado Alexandre Padilha e outros parlamentares, o empregado da Caixa e secretário de Relações Sindicais e Sociais do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Dionísio Reis; Isabela Freitas Santana, presidenta da Comissão Independente dos Aprovados no Concurso da CEF 2014; Carina Katherine Bhering, membro da Comissão Independente dos Aprovados no Concurso da CEF 2014; Fabiana Uehara Prosholdt, diretora da Contraf-CUT e coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa); Sérgio Takemoto, presidente da Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa (Fenae); Carlos Benante, Superintendente Nacional de Suporte Operacional da Caixa; e Domício Tinoco, gerente nacional de Recrutamento, Mobilidade e Quadro de Pessoas da Caixa.
Na sua intervenção, que abriu as falas dos convidados da audiência, Dionísio enfatizou a luta pelo fortalecimento do banco público.
“A Caixa é fundamental para o país. Não uma Caixa com uma estrutura reduzida, uma Caixa fazendo poucas funções, mas uma Caixa crescendo. Um banco que pode fomentar a economia, investir no desenvolvimento, servir aos brasileiros em todos as cidades e bairros. Servindo, além do serviço bancário, com os programa sociais. Com a capilaridade que só a Caixa tem. (…) Por isso, é um banco que tem abraçado as tarefas fundamentais para o nosso país. Foi assim, por exemplo, no pagamento das contas inativas do FGTS, com uma demanda grande, e no pagamento do auxílio emergencial. Nestes dois momentos, a direção do banco promoveu desligamentos, por meio de PDV, antes dessas grandes operações de atendimento à população”, declarou o diretor do Sindicato.
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“O que temos visto é a Caixa fazendo contratações por conta de uma ação civil pública, movida pelo MPT, que teve início por conta do Acordo Coletivo de Trabalho, que garantia a contratação naquela época de mais dois mil trabalhadores. Bom lembrar que falamos de 2014, quando tínhamos, no fim daquele ano, 101 mil trabalhadores na Caixa (…) O número de clientes na Caixa só cresceu. E o atendimento não é só para o cliente Caixa. Fazemos o atendimento para mais de 80 milhões de brasileiros, com a gestão premiada do FGTS e o pagamento do auxílio emergencial”, acrescenta.
O diretor do Sindicato abordou também o atendimento aos idosos nas agências.
“Na prática, nas grandes capitais, vemos que não existe como garantir o atendimento exclusivo aos idosos. Os empregados fazem o maior esforço para cumprir o atendimento preferencial, no entanto, com um só caixa, com um atendente. É muito difícil, ou até mesmo impossível, cumprir a legislação que prevê direitos aos idosos.”
Dionísio Reis
Sobre o déficit de empregados, Dionísio citou levantamento da Apcef/SP, que mostra que desde 2016, apenas no estado de São Paulo, a Caixa extinguiu 12.556 postos de trabalho. “As contratações nunca alcançam o número de empregados que saíram e não são suficientes para suprir a demanda de atendimento, principalmente no estado de São Paulo (…) As entidades continuam na luta pelas contratações, um tema que foi judicializado por falta de intenção da Caixa de negociar e avançar nesse sentido. Para a boa gestão da Caixa e para o bom atendimento à população, é fundamental que o banco contrate, e mais do que vem contratando.”
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Por sua vez, Isabela Freitas Santana, presidenta da Comissão Independente dos Aprovadas na CEF 2014, destacou que a não contratação dos concursados prejudica os empregados do banco público e toda a população. “No concurso de 2014, foram aprovados 32.880 para cadastro de reserva. Foi o maior concurso público do Brasil e um dos maiores do mundo, com mais de um milhão de inscritos. Ao longo dos anos que se passaram, a Caixa realizou diversos Planos de Demissão Voluntária, resultando em déficit superior a 20 mil funcionários, sem a devida reposição, o que tem provocado sobrecarga de trabalho aos empregados, que estão com altíssimos níveis de estresse, doenças laborais e, lamentavelmente, existem até mesmo casos de suicídio; além de um atendimento precário aos clientes e usuários, gerando filas em todo o Brasil. Basta passar na frente de uma agência, que você vê.”
“Queria entender como temos aumento de demanda de serviços, abertura de agências, e não temos uma reposição razoável do quadro de funcionários. Razoável seria o aproveitamento de 100% dos aprovados para cadastro de reserva no concurso de 2014, o que já não seria suficiente para suprir a necessidade”, complementou Carina Katherine Bhering, também membro da Comissão Independente dos Aprovados.
Já a coordenadora da CEE/Caixa, Fabiana Uehara, apontou que o ritmo de contratação pela Caixa não cobre nem mesmo o dos desligamentos. “Mesmo se a Caixa contratar o número de empregados anunciado pelo presidente Pedro Guimarães, ele não cobre os que saíram em 2020. Ou seja, teremos menos empregados do que tínhamos em 2020. A nossa reivindicação é mais empregados para a Caixa para atender melhor a população. É injusto que um cidadão fique cinco, seis horas em uma fila para receber auxílio emergencial. É injusto que empregados da Caixa tenham de focar na venda de produtos em um momento de pandemia e de crise econômica. E grande parte do público de uma agência é a população idosa.”
“O que estamos vendo é a privatização da Caixa, mas o governo não fala que vai privatizar a Caixa porque a população é contra, e o STF proibiu a privatização das empresas públicas sem passar pelo Congresso. Mas é permitida a privatização das subsidiárias. O governo então adotou essa estratégia: criar subsidiárias e vender as partes mais lucrativas das empresas, como foi feito com a Caixa Seguridade. A nossa maior luta nesse ano é contra a privatização. E a luta contra a privatização passa, sem dúvida, pela contratação de mais empregados”, acrescentou o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.
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Em contraponto às falas dos concursados e empregados da Caixa, os representantes do banco público afirmaram que a Caixa está contratando os concursados, de acordo com a ordem de classificação, e que chegará a mais de 85 mil empregados com a convocação de 2.766 aprovados, destes 90% já admitidos. Alegaram também que o quadro de funcionários da Caixa é limitado pelo quantitativo determinado pela Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais).
Todos os outros convidados da audiência pública, sem exceção, afirmaram que as contratações citadas pelos representantes da Caixa são insuficientes.
“Este cronograma coloca um objetivo que é insuficiente e, por isso, ele é plenamente alcançável. Chega a um patamar que está atrás do ponto de partida. Fazem primeiro as demissões, sai um monte de gente, e depois a gente retorna a um determinado patamar, como se chegar a 85 mil hoje fosse uma grande conquista (…) Pedro Guimarães tem histórico de preparar bancos para a privatização e não está fazendo diferente na Caixa. Está fazendo um processo de esvaziamento, fatiamento e privatização. Agências que tinham 60 empregados, hoje não possuem doze. Temos agências com só cinco empregados. A situação é de calamidade”
Dionísio Reis
Por fim, o deputado Alexandre Padilha se comprometeu a utilizar todas as ferramentas do poder legislativo em relação à devida convocação dos aprovados no concurso de 2014.
“Todos nós estamos sentindo a necessidade de ampliação da capacidade operacional da Caixa. Fila em banco hoje não é só uma questão de bom atendimento, mas de saúde pública, com a exposição de usuários e trabalhadores em aglomerações, ao risco de contaminação por Covid-19 (…) Somos contra qualquer proposta de privatização ou desmonte da Caixa. O Congresso Federal não vai permitir isso. Vamos lutar até o fim para que isso não aconteça”, finalizou o parlamentar.
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