
Ao se retirar da sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado, para a qual foi convidada, na manhã desta terça-feira, 27 de maio, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, atuou com total dignidade, representando todas nós, mulheres trabalhadoras.
Por diversos momentos, o presidente da Comissão, senador Marco Rogério (PL-RO), silenciou o microfone de Marina, enquanto ela ainda estava falando, e chegou a mandar a ministra "se pôr no seu lugar".
Apesar das condições adversas e tratamento extremamente rude e sexista, Marina seguiu adiante na audiência, enfrentando ataques do senador Omar Aziz (PSD-AM), que teve a coragem de, como a própria ministra disse, colocá-la como "bode expiatório" em temas estruturais do Amazonas, em período que nem mesmo ela exercia algum cargo ministerial, enquanto Omar Aziz carrega no currículo o fato de ter sido governador do estado. "Durante 15 anos, continuei sendo usada como bode expiatório para esconder a incompetência dos que fazem promessas e não cumprem", disse bravamente Marina Silva.
Mas o ataque sofrido por ela e que mais nos causou repulsa foi o ataque do senador Plínio Valério (PSDB-AM), que iniciou uma das suas falas com os seguintes termos: "Olhando para a senhora, estou falando com a ministra, e não com uma mulher".
Marina, dignamente, rebateu: "Eu sou as duas coisas". Mas, tanto Plínio quanto o presidente da Comissão, Marco Rogério, seguiram com ataques à ministra, com falas ainda mais desastrosas.
A ministra exigiu desculpas e lembrou, diante de todos, que Plínio foi o mesmo que disse sentir vontade de enforcá-la. Isso ocorreu em março deste ano, durante um evento da Fecomércio do Amazonas.
As desculpas não vieram e a ministra retirou-se da audiência.
Quando Marina Silva se levantou, levantou-se por todas nós. Porque, claramente, foi misoginia (preconceito, aversão contra a mulher, manifestada nas mais diversas formas de violência de gênero) o que a ministra do Meio Ambiente enfrentou.
Infelizmente essa não é a primeira vez, no período recente, que assistimos à prática da violência política de gênero em uma das casas do Congresso, que tem a obrigação de respeitar e representar as mulheres.
Lembramos os parlamentares da lei 14.192/2021, que considera violência política de gênero “toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher.”
Concluímos com a exigência de que medidas efetivas sejam tomadas para evitar práticas misóginas no Congresso. É lamentável a não superação do machismo estrutural nas casas que legislam e determinam políticas fundamentais ao nosso país.
Confederação Nacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Ramo Financeiro/Contraf-CUT
