
O Dia Internacional de Combate à LGBTfobia é relembrado neste 17 de maio, mas você sabe a origem dessa data? Até 1990, a homossexualidade era considerada um distúrbio mental pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Somente em 17 de maio daquele ano que a entidade retirou a orientação sexual da CID, a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde.
Em 2010, a data entrou no calendário oficial com um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, o movimento LGBTQIA+ brasileiro promove a data como um marco de reflexão e alerta sobre a importância do combate à homofobia e à transfobia. É o que reforça Diego Carvalho, bancário do Banco do Brasil e coordenador do Coletivo LGBTQIA+ do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
"Essa data nos ajuda a relembrar os inúmeros casos de violência física e verbal, infelizmente, recorrentes contra a comunidade LGBT. É um momento para nós da comunidade refletirmos sobre como podemos agir para exigir nossos direitos e nos articularmos em prol da equidade. Por meio dessa data, as pessoas aliadas também podem entender a importância de combater narrativas e 'brincadeiras' que geram segregação e podem inflamar discursos de ódio."
Diego Carvalho
Coordenador do Coletivo LGBTQIA+ do Sindicato
LGBTfobia segue presente na vida bancária
Casos de homofobia e de transfobia não são raros no cotidiano da comunidade LGBTQIA+ que trabalha no setor financeiro. No final de 2024, o Sindicato atendeu um caso de homofobia que causou grande sofrimento ao trabalhador envolvido.
Um gerente de um banco privado, que preferiu não se identificar, sofreu discriminação ao enviar mensagens via WhatsApp corporativo para uma cliente. O esposo da mesma interveio na conversa debochando da foto de perfil do bancário, afirmando que com aquele cabelo e rosto "de bicha", ele nunca seria gerente de banco. Como se não bastasse, após o bancário enviar uma mensagem de áudio, o esposo da cliente novamente interveio e perguntou em tom ofensivo: "com essa voz, você deve ser daquela turma do todes, né? Você é menine? Você faz o L?"
O bancário procurou o Sindicato e recebeu apoio do Coletivo LGBT da entidade. Além de ser amparado pelos dirigentes sindicais, o bancário recebeu apoio jurídico para registrar Boletim de Ocorrência: "Só fiquei mais tranquilo quando conversei com o Sindicato e obtive ajuda para fazer o banco agir corretamente na situação."
"Chorei várias vezes e fiquei com medo de nada acontecer, ou pior, o banco ficar do lado da cliente e do esposo dela. É uma situação que, por mais que uma pessoa gay como eu saiba que pode acontecer, a gente não espera em um ambiente de trabalho, onde o respeito deveria imperar. É como se o agressor não entendesse que ele cometeu um crime", relata o bancário.
O uso do banheiro adequado ainda é outra questão que gera casos de violência nos bancos. Um bancário homem trans relatou sentir isso na pele durante a rotina de trabalho como analista em um banco privado: "Sofro constantemente com piadas e comentários maldosos, do tipo 'o que será que ele tem lá embaixo no meio das pernas para querer usar um banheiro masculino?'"
"Atualmente, nos pólos, temos um sistema binário. Muitas vezes, eu passo o dia todo apertado porque não me sinto confortável em ir nem no banheiro masculino, nem no feminino", complementa o analista ao descrever as dificuldades que persistem no local de trabalho.
Um assistente de banco público, cisgênero e gay, denunciou ao Sindicato ter sido preterido para uma promoção por sua orientação sexual. Ele soube disso graças a uma colega, que presenciou a fala de um superior confirmando essa discriminação no momento da decisão.
Em outra situação, o mesmo bancário ouviu uma cliente lhe dizer que "não queria ser atendida por um gay". Nesse caso, ele recebeu apoio do seu gerente, que se recusou a atender a cliente e reforçou para a mesma que o bancário estava habilitado para o atendimento, independentemente de sua sexualidade ou gênero.
"Na época, ainda não existia a decisão do STF de equiparar homofobia à injúria racial e racismo, assim como não havia os compromissos dos bancos contra a homofobia e a transfobia que hoje constam nas negociações com os sindicatos. Se essas situações que relatei tivessem ocorrido hoje, eu teria denunciado", avalia o bancário enquanto valoriza os avanços recentes obtidos junto aos bancos.
Sindicato presente na luta
Desde 2019, o Sindicato promove por meio do Projeto Basta um canal para acolher e solucionar denúncias de violência de gênero, racismo e LGBTfobia. Com suporte jurídico, o projeto atua junto aos coletivos LGBT, de Mulheres, de Combate ao Racismo e de Trabalhadores e Trabalhadoras com Deficiência do Sindicato, colocando em prática uma luta interseccional.
"Nossa categoria tem uma diversidade muito grande. Por isso, estamos sempre desenvolvendo ações que englobam diferentes comunidades e temáticas. É o caso do Projeto Basta e também do Sons da Democracia, evento mensal no Café dos Bancários que aborda temas como machismo, povos indígenas, orgulho LGBT, combate ao racismo, pessoas com deficiência, entre outros."
Francisco Pugliesi
Secretário de Relações Sociais e Sindicais do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
"Na Campanha Nacional 2024, conquistamos importantes avanços na Convenção Coletiva de Trabalho, como o uso do nome social para todas as pessoas trans inseridas nos bancos, compromisso dos bancos de acelerar a empregabilidade e ascensão das pessoas trans no mercado financeiro, assim como a possibilidade do uso do banheiro adequado de acordo com sua identidade de gênero e o completo repúdio dos bancos a qualquer forma de discriminação em suas políticas internas", pontua Diego Carvalho.
