
O mundo se despediu nesta terça, 13 de maio, de José Alberto Mujica Cordano, mais conhecido como Pepe Mujica. Ex-guerrilheiro, preso político, camponês e presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica deixa um legado de luta, resistência, defesa da democracia, humildade e humanidade para a política mundial.
“Nestes tempos difíceis - com o avanço da extrema-direita, a eleição de políticos autoritários, propagação de discursos de ódio, rebaixamento do debate político e ataques contra os direitos humanos, trabalhistas e sociais – o legado de Pepe Mujica é uma inspiração para as lutas do campo democrático e progressista. Sua jornada de luta, resistência e humanidade guiará as ações de todos que acreditam que um mundo melhor, no qual as pessoas não vivam só para o trabalho, é possível. Pepe Mujica, além de um dos maiores líderes políticos latino-americanos, foi um importante aliado e amigo da classe trabalhadora e do Brasil. Pepe Mujica, sempre presente”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato
Luta contra a desigualdade social e a ditadura
Natural de Paso de la Arena, zona rural na região metropolitana de Montevidéu, Mujica ingressa no Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) nos anos 1960, que na época lutava contra a desigualdade social e por direitos para os trabalhadores uruguaios. Mujica e os Tupanamaros também travaram uma forte luta contra a ditadura uruguaia (1973 a 1985).
Preso três vezes enquanto membro dos Tupanamaros, Mujica encarou o maior período no cárcere durante a ditadura uruguaia, quando ficou preso por 13 anos sem sequer ser julgado, sendo submetido à tortura, isolamento, humilhações e maus tratos de toda espécie.
Movimento de Participação Popular (MPP)
Em 1984, um ano após o fim da ditadura militar, é decretada a libertação dos Tupanamaros. Em 1985, Mujica é solto e anuncia o fim da luta armada pelos Tupanamaros, optando então por se somar à Frente Ampla, uma coalizão partidária de esquerda.
Em 1989 - após ter sido uma das principais lideranças na luta pela derrubada da Lei de Caducidade das Pretensões Punitivas do Estado, que pretendia anistiar militares que cometeram crimes na ditadura – Mujica cria o Movimento de Participação Popular (MPP), partido mais à esquerda da Frente Ampla.
Trajetória política
Em 1994, é eleito deputado, pelo MPP, pela primeira vez. Em 1999, Mujica é eleito senador e, em 2004, é reeleito no mesmo pleito em que Tabaré Vázquez vence a disputa pela presidência, consolidando politicamente a Frente Ampla.
Na gestão de Vázquez, Mujica foi nomeado ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca. Como ministro, Mujica consegue aumentar a exportação de carne e, em paralelo, implementa política de redução dos preços de cortes mais consumidos pelos uruguaios, medida que ficou conhecida como “el asado del Pepe”. Sua atuação no ministério faz crescer ainda mais a sua popularidade. Nesta época, Mujica que já era conhecido por sua humildade e por não parecer com os políticos tradicionais.
Em outubro de 2009, Mujica é eleito presidente do Uruguai.
Marcos da gestão
Entre os marcos da gestão de Mujica, destacam-se a descriminalização da maconha; permissão ao aborto até a 12ª semana de gestação; e a autorização do casamento e adoção de crianças por casais homoafetivos.
Durante seu governo, a pobreza caiu de 30% para 11%; o desemprego chegou ao menor nível da história, 6%; e o PIB teve crescimento de 7,8% no primeiro ano de mandato.
Coerência e humildade
Para além de sua trajetória enquanto ex-guerrilheiro, militante e liderança política, Mujica ficou conhecido em todo mundo pela sua coerência, estilo de vida simples e forma de encarar a vida.
Pepe nunca se beneficiou das benesses dos cargos que ocupou, permanecendo coerente, até o último dia de vida, a uma das suas mais célebres frases: "Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade."
