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Pochmann: classe média não quer Estado

Linha fina
Para economista, ascensão dos trabalhadores no país não levou à ampliação desse segmento, que tradicionalmente é contra políticas de inclusão social
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São Paulo - A partir da década de 2000, houve inegável avanço material e social no Brasil, com criação de milhões de empregos, redução da miséria, ampliação das políticas públicas inclusivas, principalmente em educação e habitação, e aumento do poder de consumo dos trabalhadores. Mudanças que levaram ao surgimento de uma nova classe média, ideia questionada pelo economista Márcio Pochmann. O debate, realizado nessa segunda-feira, no Sindicato, foi promovido pelo Centro de Pesquisas 28 de Agosto.

“É um equívoco. A classe média no Brasil teve tradicionalmente seus interesses aliados aos dos ricos. Ela não quer políticas sociais, quer devolução de impostos. Quem faz política pública para a classe média é o Ministério da Fazenda, porque até a empregada doméstica se pode declarar no imposto de renda”, disse Pochmann ao abordar tema que está em seu livro O Mito da Grande Classe Média, recém-lançado pela editora Boitempo.

O economista destacou que a ampliação de empregos formais no país contribuiu para tornar menos abundantes a oferta de serviços baratos, o que não é bem visto pela classe média brasileira. “A nossa classe média tradicional não percebe melhorias no país, mas pioras. Estão chateados porque o custo dos serviçais aumentou. Porque antes pagavam uma miséria para cortar a grama e agora têm de pagar mais, e culpam o Bolsa Família. Porque hoje encontram o porteiro do prédio em Miami”.

A base da pirâmide social, ao contrário, precisa de políticas do Estado. “A classe trabalhadora precisa do Estado. Se não tiver serviço público ela não tem educação, não tem transporte”, afirmou, citando outra diferença com a classe média.

Desafio – Para Pochmann, se por um lado houve avanços na estrutura social brasileira, com aumento do poder de consumo e o surgimento de novos atores, por outro lado se percebe “desconexão entre esses atores e as instituições” que os representariam.

Segundo ele, a maioria dos 21 milhões de postos de trabalho criados no Brasil na última década foi na área de serviços. E de cada 10 novos trabalhadores, apenas dois se sindicalizaram. Dos oito que não se filiaram, quatro apontaram como motivo o fato de o sindicato não os representar, e os outros quatro consideram importante, mas não se associaram por não saber como e não conhecer a entidade que os representaria.

“Essa desconexão com as instituições de interesse também se percebe em outras esferas, como associações de bairro. Ou ainda: 2 milhões de jovens ascenderam ao ensino superior, mas eles não foram para o movimento estudantil”, exemplificou.

Ele chamou a atenção para o desafio que isso representa para sindicatos e movimentos sociais. “Estão surgindo movimentos sem pauta porque não estão representados por instituições. Não estamos sem futuro nem sem projeto, mas estamos sem agenda para esses trabalhadores e é preciso alcançá-los.”


Andréa Ponte Souza - 9/6/2014
 

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