São Paulo – A Secretaria estadual da Educação de São Paulo cancelou reunião marcada para segunda 15 que tinha objetivo de acertar o calendário de reposição das aulas por causa paralisação dos professores, entre 13 de março e 12 de junho. Com a suspensão da greve, em assembleia, os professores da rede estadual paulista reafirmaram o compromisso assumido com estudantes e pais de repor as aulas que deixaram de ser ministradas.
O cancelamento da reunião, conforme o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), teve como justificativa de que haveria, no mesmo horário, um encontro do secretário Herman Voorwald com o Tribunal de Contas do Estado. Para a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, esta é uma demonstração do desinteresse do governo com a reposição das aulas e dos conteúdos.
"Os professores estão, sim, dispostos a repor, mas querem receber os respectivos pagamentos", afirma Bebel, para quem há uma aparente disposição da secretaria de se negar a discutir a reposição com os professores, da mesma maneira como foi se negando a negociar durante o movimento grevista.
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Ainda segundo a dirigente, quem deve decidir sobre o calendário da reposição são os pais e alunos, por meio dos conselhos de escola. "O estado tentar impor, sem discutir com a comunidade, a forma de reposição, aos sábados ou nos meses de julho e janeiro", diz Bebel.
A assessoria de imprensa da Secretaria da Educação afirmou à reportagem da RBA desconhecer que houvesse uma reunião marcada com os representantes dos professores. E informou que cada escola terá autonomia para definir como deverá ser a reposição, levando em conta o impacto da paralisação. E repetindo o discurso do governo Geraldo Alckmin (PSDB) de que não havia greve, afirmou que nem toda escola deverá repor aulas porque não houve paralisação. E que nos poucos casos em que um ou outro professor aderiu, foram contratados professores temporários.
Demissões - De acordo com o sindicato, há informações de que professores que aderiram à greve estão sendo convocados às suas escolas e comunicados de exonerações e cessações de contrato. Trata-se, conforme a Apeoesp, de um ataque injustificável à categoria, que exerceu o legítimo direito de greve, e uma contradição do secretário Voorwald, que havia assegurado em reuniões que não haveria perseguições.
Bebel reforçou que o movimento dos professores por melhores condições de trabalho e por uma educação pública de melhor qualidade não terminaram com o fim da paralisação.
Uma delas será contra a maneira como o estado tem anunciado que reformará o ensino médio. Para a dirigente, antes de adotar o que ela chama de "currículo a la carte", é preciso definir a identidade dessa etapa de ensino conforme as necessidades desse perfil de aluno – filho de trabalhadores e ele próprio muitas vezes um trabalhador.
"Será uma etapa voltada para o ingresso no mercado de trabalho? Ou para a continuidade dos estudos na universidade?", questiona. "A secretária de Educação de Covas (Rose Neubauer), que impôs a promoção automática, não conseguiu impor um novo modelo de ensino médio. E ela era do ramo da educação. E não é o atual secretário, que nem é do ramo, que vai conseguir impor."
A medida, no seu entender, é mais uma estratégia do governador Geraldo Alckmin (PSDB) para adotar, aos poucos, a promoção automática também no ensino médio. "Ele quer flexibilizar a escolha das disciplinas porque sabe que faltam professores de Física, Química e Matemática – justamente disciplinas que os alunos têm pouca afinidade. Com isso, a tendência é que os estudantes optem por disciplinas da área de humanas, tida como mais atraentes. Com isso, vai-se promover a promoção automática também no ensino médio. E a reprovação acontecerá mais tarde, quando o estudante for reprovado no final."
Segundo seu currículo na base Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Voorwald é engenheiro mecânico pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre e doutor na mesma área – pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica e Unicamp, respectivamente. Ainda conforme a base curricular, "tem experiência na área de engenharia de materiais e metalúrgica, com ênfase em propriedades mecânicas dos metais e ligas, atuando principalmente em fadiga, aço ABNT 4340 e resistência à fadiga.
Bebel ainda criticou o secretário por desconhecer a legislação da educação ao ter afirmado, recentemente, que o ensino médio deveria ser responsabilidade dos municípios. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que detalha a Constituição em termos de ensino, cabe aos estados a manutenção, prioritária, do ensino médio.
Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual - 16/5/2015
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De acordo com sindicato dos professores, secretaria de educação quer impor cronograma sem debater com comunidade escolar. Entidade denuncia perseguição a grevistas
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