Desde 2003, a violência no campo no Brasil não era tão alta quanto foi em 2017. Naquele ano foram 73 pessoas assassinadas, enquanto ano passado a estatística macabra chegou em 71 pessoas mortas. O número é 16,4% maior que em 2016, quando aconteceram 61 assassinatos, e quase o dobro de 2014, com 36 vítimas.
A análise consta no relatório Conflitos no Campo Brasil 2017, lançado na segunda-feira 4, em Brasília, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Além do alto número de assassinatos no campo, o ano de 2017 também é marcado pela quantidade de massacres: foram cinco, com 31 vítimas, o que representa 44% do total de assassinatos em conflitos no campo. Os massacres aconteceram em Colniza (MT), com nove mortos; Vilhena (RO), com três vítimas; Pau D’Arco (PA), com 10 assassinatos; Lençóis (BA), com seis; e Canutama (AM), com outras três vítimas. A CPT considera que houve massacre quando três ou mais pessoas são assassinadas em um único conflito, no mesmo dia.
O relatório sobre conflitos no campo é realizado desde 1985. Na série histórica, desde 1988 não se registrava mais do que dois massacres no mesmo ano. Para Airton Pereira e José Batista Afonso, integrantes da CPT, os cinco massacres de 2017 assustam pelo elevado grau de brutalidade e crueldade. “Cadáveres degolados, carbonizados, ensanguentados, desfigurados. Exemplos que deverão ficar marcados para sempre na alma de homens, de mulheres, de jovens e crianças. Uma pedagogia do terror”, afirmam no estudo.
Na análise da CPT, os 71 assassinatos de 2017 são ainda mais expressivos se comparados com o número total de conflitos, 1.431 ocorrências, 6,8% menos do que em 2016, quando aconteceram 1.536 conflitos. “Em 2017, o número corresponde a um assassinato a cada 20 conflitos, enquanto em 2016 correspondia um assassinato a cada 25 conflitos. O índice de 2017 é maior do que em 2003, quando os 73 assassinatos ocorreram num total de 1.639 conflitos, igual a um assassinato a cada 22 conflitos."
Ruptura Política
O estudo divulgado pela CPT cita a interpretação dos dados feita pelo professor Carlos Walter, da Universidade Federal Fluminense, para quem o aumento da violência no campo brasileiro está relacionado ao período de 2015-2017, definido por ele como o da “ruptura política”.
Por essa perspectiva, a média anual de assassinatos durante a “ruptura política” foi de 60,6 mortes, índice superior ao primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), com média de 47,2 assassinatos. Muito acima do segundo mandato de Lula (2007-2010), quando houve redução e a média foi de 28,7, e ainda superior ao primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff (2011-2014), cuja média foi de 33,7 mortes no campo.
“O ano de 2017 escancara o alto preço que as populações do campo estão pagando como resultado do golpe político-parlamentar-midiático desfechado contra a democracia”, analisa o relatório da CPT.
Além dos assassinatos, o estudo revela que outras formas de violência contra a pessoa no campo também cresceram em 2017, se comparados com o ano anterior. As tentativas de assassinato subiram de 74 para 120 – aumento de 63% –, enquanto as ameaças de morte passaram de 200 para 226. A quantidade de pessoas torturadas aumentou de uma para seis, enquanto o total de presos subiu de 228 para 263.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.