Na abertura do último dia do 38º Conecef (Congresso Nacional dos Empregados da Caixa), nesta sexta-feira 10, os empregados da Caixa receberam o ator, humorista, roteirista e escritor Gregório Duvivier para debater o tema Democracia.
A mesa teve a coordenação de Clotário Cardoso, diretor de Administração e Finanças da Fenae e coordenador suplente da CEE/Caixa; e foi composta por Jorge Luiz Furlan, secretário de Relações Sindicais do Sindicato dos Bancários do ABC e representante da Fetec-CUT/SP na CEE/Caixa; e Rachel de Araújo Weber, diretora de Politicas Sociais dia Fenae e representante da Fetrafi Rio Grande do Sul na CEE/Caixa.
Durante a sua exposição, muito bem humorada como de costume, Gregório trouxe conceitos muito importantes para o debate sobre a democracia. Entre eles o fato de que a democracia não é uma conquista irrevogável e também não se traduz em um sistema binário, no qual ou temos democracia ou não temos.
“Muita gente acha que a democracia uma vez conquistada, que ninguém vai tirar da gente, mas a democracia não é um sistema binário. A democracia na verdade é um grande espectro, onde podemos caminhar a longo do tempo para um lado ou para o outro”, destacou Gregório.
De acordo com Gregório, com Bolsonaro o país regrediu muitos passos na democracia. “Você tem mil formas de minar uma democracia por dentro, sem golpe e sem tanque. Você pode desobedecer decisão do STF. Você pode colocar um monte de militar do governo, em cargos sobre os quais não entendem nada, como na Saúde. Ninguém fez mais mal para a imagem dos militares do que Bolsonaro. Quando ele coloca um Pazzuelo na Saude, todo mundo se pergunta como esse cara está na mais alta patente do exército”, disse.
Outro aspecto muito citado por Gregório, dentro do tema Democracia, foi a questão do medo como uma forma de minar nossas liberdades e atuação democráticas. “O medo de um golpe favorece muito Bolsonaro. O medo é uma estratégia fascista. O medo paralisa, despolitiza. É sempre o medo que é usado para a gente não se manifestar politicamente. E hoje acontece uma coisa muito perigosa, a censura prévia. Ela está instaurada dentro da nossa cabeça. O censor se instalou na nossa cabeça e censura antes da gente falar.”
“No golpe contra a Dilma, criou-se um ambiente no qual todas as entidades patronais ficaram pelo impeachment. Então, muita gente não teve coragem de se manifestar contra o golpe. Já com Bolsonaro, criou-se uma sensação de hegemonia, eles são muito barulhentos. Em cidades menores, por exemplo, como o empregado vai ter coragem de se manifestar politicamente se o patrão está com um adesivo enorme no carro, fazendo campanha. No Rio, que tem 40% do território dominado pela milícia, o Freixo não pode fazer campanha em metade da cidade. Cadê a democracia”, exemplificou Gregório.
Gregório também exemplificou a questão do medo como elemento danoso à democracia com o recente episódio em que o diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, elogia o Exército Brasileiro. Na mensagem, com a logomarca do banco sendo exposta no início e no final do vídeo, o executivo diz que aprendeu no quartel que “missão dada é missão cumprida” e que “o soldado Lazari continua de prontidão”, o que deixa transparecer ser uma peça institucional, que pode ser entendida como apoio do Bradesco a Bolsonaro e aos ataques à democracia.
“Vocês viram o presidente do Bradesco, bajulando militares, dizendo que está de prontidão. Ele faz esse vídeo dentro do Bradesco, com o logo do Bradesco, e fiz que o Bradesco não tem nada ver com aquilo (…) Como o funcionário do Bradesco vai se manifestar?”, questionou Gregório.
Por fim, Gregório fez uma analogia na qual compara a democracia com uma pedra que carregamos ladeira acima. “Ela vai cair, e a gente vai ter que buscar ela de novo. No Brasil, parece que a democracia dura 25 anos, e temos que buscar ela de novo. A democracia dá trabalho, um trabalho árduo, temos de disputá-la todos os dias, mas ao mesmo tempo nos dá uma missão. A luta organiza a vida. Acho que todos que estão aqui, unidos, descobriram na luta um sentido para a vida.”
“Vamos ter muito trabalho este ano, mas teremos ainda mais trabalho em 2023. Muitas instituições foram degradadas e corrompidas. Vamos ter o trabalho de recompor, de recomeçar(…) Tudo indica que esse pesadelo [governo Bolsonaro] vai acabar esse ano”, concluiu Duvivier.
Conferência Nacional dos Bancários
No final de semana, entre a noite desta sexta-feira (10) e domingo (12), será realizada a 24ª Conferência Nacional dos Bancários, na qual será definida a pauta de reivindicações da categoria na Campanha Nacional Unificada dos Bancários 2022.