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Chapéu
Caiu!

Após denúncias de assédio sexual, Pedro Guimarães pede demissão da Caixa

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O presidente da Caixa, Pedro Guimarãers (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

Alvo de acusações de assédio sexual relatadas por empregadas da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães oficializou seu pedido de demissão da presidência do banco público. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região já havia cobrado sua saída do comando da instituição financeira.

A comunicação da entrega do cargo ocorreu na tarde desta quarta-feira 29, em um encontro com o presidente da República, Jair Bolsonaro. As informações são da jornalista Bea Megalle, do jornal O Globo.

“Esperamos que o processo de investigação das denúncias prossiga com toda lisura que deve ocorrer. Não deve haver qualquer interferência do governo nas investigações, e o sigilo e identidade das empregadas devem ser preservados. As entidades seguirão acompanhando o processo e dando todo apoios a as vítimas. Nós esperamos que a verdade prevaleça e todos paguem pelos seus atos!.”

Tamara Siqueira, dirigente sindical e empregada da Caixa

O pedido de demissão foi acompanhado de uma carta entregue ao presidente, e dirigida aos brasileiros e aos empregados do banco. No texto, Guimarães agradece o apoio do presidente Jair Bolsonaro, nega as acusações e afirma que “na atuação como Presidente da Caixa, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio”.

“Esta carta é uma afronta a essas mulheres que tiveram a coragem de denunciar os casos de assédio sexual, e a todos os empregados da Caixa que têm sofrido na mão desta gestão, pois os números de pessoas afastadas por questões ligadas à saúde mental e denúncias de todo tipo de assédio só aumentam. E isso porque boa parte dos trabalhadores se calam com receio de retaliações”, afirma Tamara.

As denúncias de assédio sexual envolvendo Pedro Guimarães já vêm sendo investigadas desde o ano passado pelo Ministério Público Federal, sob sigilo, mas tornaram-se públicas na noite desta terça-feira 28, em reportagem do portal Metrópoles, e rapidamente repercutiram na mídia e no Congresso Nacional, onde a oposição exigiu o afastamento de Guimarães.

´Asquerosas, terríveis, aterradoras´

Em entrevista ao UOL News, Miriam Belchior, ex-presidente da Caixa no governo Dilma Rousseff, lembrou que, na época em que presidiu o banco, havia duas instituições para denúncias: a ouvidoria e a corregedoria, que eram apartadas da estrutura de execução do banco, justamente para atuarem com autonomia e não sofrerem interferência do comando da empresa.

“Pelo que se tem apurado, uma parte das mulheres envolvidas não fez denúncias nas estruturas do banco exatamente pelo comprometimento dessas instituições, que infelizmente é um traço deste governo: comprometer as instituições do Estado brasileiro.”

“Como mulher e como ex-presidente da Caixa, é terrível tomar conhecimento sobre as denúncias de prática constante de assédio moral e assédio sexual do ex-presidente da Caixa. As informações são asquerosas, terríveis, aterradoras para qualquer ser humano decente. É muito doloroso saber que, em pleno século 21, um presidente de um banco público, que é reconhecido como uma instituição de caráter social, é capaz de usar o seu cargo para fazer assédio moral e sexual”, afirmou Belchior.

“Após afastamento do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, é imprescindível que seja instaurada uma investigação rigorosa dos fatos, com a preservação do sigilo das vítimas. O Sindicato reivindica há anos a inclusão de cláusulas específicas contra o assédio sexual. Este ano, na nossa minuta de reivindicações da campanha, vamos manter nossa luta. É fundamental que as denúncias de assédio sejam apuradas numa comissão bipartite (sindicato e empresa), com sigilo das vítimas e punição dos assediadores. Toda denúncia de assédio sexual deverá ser protocolada pelo superior hierárquico do assediador, com cópia para o sindicato para acompanhamento.”

Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região

CCT bancária possui cláusulas contra violência de gênero

A Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) bancária possui cláusulas de combate à violência de gênero, como a 51, que garante à empregada vítima de violência doméstica realocação para outra dependência do banco; ou a 49, que determina que os bancos informem, por meio de comunicado interno, tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher (física, moral, patrimonial, psicológica, sexual e virtual).

Basta! Não irão nos calar

O Sindicato mantém também o programa Basta! Não irão nos calar que busca dar suporte às mulheres vítimas de abuso sexual, assédio moral e sexual, e violência de gênero na relação com seus pares no banco ou na sua vida familiar.

Desde sua implantação, o programa atendeu 282 mulheres que sofrem violência de gênero, e foi responsável por 123 medidas protetivas. Nove sindicatos de bancários participam da iniciativa, dentre eles o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

O agendamento para atendimento pelo projeto Basta! Não vão nos calar! É realizado via Central de Atendimento, por chat, no telefone 3188-5200 e também via WhatsApp, por meio do número 11 97325-7975 (Clique aqui para falar diretamente via WhatsApp)

Cotada para assumir a Caixa tem perfil neoliberal

A cotada para comandar a instituição financeira no lugar de Guimarães é Daniella Marques, secretária especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, e considerada braço direito do ministro Paulo Guedes (Economia). Formada em administração pela PUC do Rio de Janeiro, Marques foi sócia de Guedes na Bozano Investimentos.

“Caso a indicação de Marques se concretize, lamentavelmente a Caixa continuará servindo à agenda neoliberal, e não aos propósitos de um banco social, dado o caráter deste governo e ao currículo da eventual nova presidente do banco”, afirma Tamara.

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