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Chapéu
De geração em geração

Resistência une diversas gerações de mulheres negras

Linha fina
Encerramento da terceira edição da Marcha das Mulheres Negra registra união de diversas famílias na luta contra o racismo. Marielle Franco foi celebrada como símbolo de luta
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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Sete em cada 10 pessoas assassinadas no Brasil são pretas ou pardas. A constatação na desigualdade de mortes violentas por raça/cor vem aumentando no país, sem nenhum indicativo de trégua, como comprovam os dados apresentados pelo Atlas da Violência de 2018.

A reportagem é da Rede Brasil Atual.

Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, ocorrida na quarta-feira 25, levou à rua a denúncia desse genocídio, o lamento pela juventude perdida e o clamor pela resistência. Para alguns personagens presentes na marcha, a luta contra o racismo é desafio transmitido entre entre gerações.

Há um ano, a professora da rede pública municipal Júlia Franco e a estudante de Direito pela Faculdade Zumbi dos Palmares Clariane Santos não puderam comparecer ao ato por estarem prestes a ganhar suas filhas. Nesta terceira edição, as duas ouviam estavam lá com suas crianças.

"Isso significa tanta coisa... para mim é muito especial porque amanhã ela completa um ano de idade", afirma a professora, acrescentando a importância de mostrar a representatividade, o empoderamento racial e a união pela causa desde cedo. "Eu sou mãe solo e eu precisei muito das minhas amigas pretas no processo de me cuidar no pós-parto e de cuidar dela. Então, estar juntas com as pretas é estar em família."

Ao longo do trajeto, da Praça Roosevelt até a altura do Largo do Paissandu, na região central paulistana, a cena de união era comum à maioria dos grupos que pediam o fim da violência e do preconceito. Os sons que remetiam às tradicionais manifestações populares dos movimentos afros fluíam em sintonia com o tom de protesto e reivindicação.

"O cortejo traz uma leveza, mas ao final a ideia da marcha é mostrar a questão do genocídio, a violência sobretudo contra a mulher. A gente vai falar sobre a vulnerabilidade que recai na mulher preta, principalmente se ela for ainda mais retinta, mãe e periférica", observa a estudante de Direito, acompanhada pela tia Vera Delfina.

Professora aposentada e atriz, Vera diz estar na militância há anos. "Luto pelo empoderamento da mulher, de se autoafirmar negra e assim se sentir com orgulho. Eu venho de militância desde a minha avó", conta. Embora se reconheça privilegiada por ter conseguido cursar nos anos 70 o ensino superior, Vera questiona a suposta liberdade. "Depois de Marielle alguém tem dúvida?"

Representações da vereadora do Psol e perguntas sobre a investigação do caso, estampavam camisetas e cartazes. Para Clariane, a recuperação do episódio é fundamental para a permanência de sua história. "A Marielle deixa um legado de luta. Nós que estamos aqui temos que continuar essa luta, começada por outras pessoas que ela também continuava, mas foi interrompida".

caso Marielle é considerado uma brutalidade por interromper de forma violenta a trajetória política de uma mulher que representava as demandas das populações negra, LGBTs e periférica, cuja a participação ainda é abaixo do ideal, conforme aponta o relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgado em 2016. Nas últimas eleições, menos de 15% de mulheres negras concorreram ao cargo de vereadora e menos de 1% ao de prefeita.

"Para reverter esse quadro é necessário, em primeiro lugar, que os partidos políticos cumpram a lei. E outra coisa é que nós, mulheres negras, vamos para dentro dos partidos e tentemos fazer a transformação deles", afirma a ativista e fundadora do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo (NCN-USP), Jupiara Castro, que acredita no processo educativo para a garantia da igualdade. "Quando eu brigo por direitos, você quer manter seu privilégio e esse é grande problema que as pessoas tem que entender: eu não vou tomar o seu lugar, mas eu quero espaço em um lugar onde eu possa fazer a transformação".

A fala da fundadora do núcleo da USP converge com a leitura da auxiliar de educação do núcleo educativo do Museu Afro Brasil, Renata dos Santos. "É preciso consciência de que as pessoas brancas se beneficiam do racismo e de que para ser ativo nessa luta é necessário abrir mão de privilégios." Segundo Renata, o atual momento pede a participação na luta antirracista também de pessoas brancas. "É uma luta de todas as pessoas, negras, brancas, assim como a luta contra o machismo é uma luta de homens e mulheres", defende.

Jupiara retoma o ato de resistir, expressado pelas diversas gerações das famílias que marchavam, para criticar o tratamento dado pelo Estado à população negra. "É um momento muito difícil, a conjuntura para 2019 se apresenta muito difícil. Nós precisamos reverter esse estado de coisas e fazer o enfrentamento necessário contra essas políticas."

 

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