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25 de julho: Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

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Data surgiu em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado na República Dominicana; nos bancos, uma mulher negra recebe em média 26% menos do que um homem branco
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Foto: Paulo Pinto/Agência PT

No próximo dia 25 é celebrado o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data surgiu em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado na República Dominicana, no qual foi criada a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas.

“Eu, como mulher negra brasileira, sei o quanto essa data é importante para continuarmos na luta contra o racismo, preconceito, machismo e feminicídios. Estamos enfrentando um retrocesso enorme por parte do governo em políticas públicas, desemprego e com a reforma da Previdência, que afeta muito mais as mulheres negras, pois sabemos que muitas se encontram no trabalho informal. Mulher Negra é sinônimo de resistência, força e de muita luta. Não podemos esquecer de exaltar as mulheres negras que fizeram história e deixaram um legado lindo como Dandara, Carolina de Jesus, Marielle Franco e tantas outras guerreiras. Não descansaremos enquanto não tivermos a visibilidade que merecemos” enfatiza a dirigente e coordenadora do Coletivo de Igualdade Racial do Sindicato, Ana Marta.

Por ocasião do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no dia 25 será realizada a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, com concentração as 17h30 na Praça da República, no centro da capital paulista. Este ano, a marcha terá como tema “Sem violência. Sem racismo. Sem discriminação. Sem fome. Com dignidade, educação, trabalho, aposentadoria e saúde.  

Brasil

No Brasil, a mulher negra encontra-se em uma das posições mais vulneráveis da nossa sociedade quando analisados fatores como, por exemplo, taxa de homicídios, inclusão no mercado de trabalho, disparidade salarial, condições de trabalho e desemprego.

De acordo com o estudo Atlas da Violência 2018, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a taxa de homicídios de mulheres negras ficou em 5,3 a cada 100 mil habitantes. Entre mulheres não negras, esse índice cai para 3,1 a cada 100 mil habitantes, uma diferença de 71%.

Outros dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelam que mulheres negras estão 50% mais suscetíveis ao desemprego do que outros grupos. Segundo o Ipea, enquanto o desemprego entre mulheres negras subiu 80% em relação ao período anterior à crise econômica, entre homens brancos o aumento foi de 4,6 pontos percentuais - entre homens negros, houve crescimento de 7 pontos percentuais.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 39,8% de mulheres negras compõem o grupo submetido a condições precárias de trabalho – homens negros abrangem 31,6%; mulheres brancas, 26,9%; e homens brancos, 20,6% do total.

Esse quadro de desigualdade é evidenciado mesmo quando a graduação no ensino superior é considerada. De acordo com a pesquisa “O Desafio da Inclusão”, do Instituto Locomotiva, divulgada em 2017, o salário de uma mulher negra com o ensino superior completo é, em média, R$ 2,9 mil. Dentro desse mesmo cenário, o de uma mulher branca é R$ 3,8 mil; o de um homem negro, R$ 4,8 mil; e o de um homem branco, R$ 6,7 mil.

> Assista ao Momento Bancário sobre visibilidade negra e combate à discriminação

Categoria bancária

No setor bancário, o fato de ser uma mulher negra também coloca as trabalhadoras em posição de desvantagem frente aos demais colegas. Um exemplo é a disparidade salarial. Uma bancária negra ganha em média 26% menos do que um bancário branco. 

Mesmo com mais anos de escolaridade, representando praticamente metade da categoria bancária (48,3%) e sendo a maioria no Sudeste (51,9%), as mulheres enfrentam maiores barreiras para ascender na carreira no setor financeiro. 

Entre as mulheres, a proporção de bancárias com ensino superior completo é de 47,9%, enquanto que entre os homens essa proporção cai para 38,9%. Ainda assim, apenas 0,3% das mulheres no setor ocupam cargos de alta direção, enquanto que entre os homens a proporção sobre para 1%. Além disso, entre todas as bancárias, 19,9% já foram promovidas mais de três vezes no banco. Já entre homens, a proporção sobe para 31,7%.

“A realidade da mulher negra nos bancos é tão difícil quanto a do país em geral. Fazemos parte de dois grupos sociais que historicamente enfrentam todo tipo de desigualdade e preconceito, as mulheres e os negros. Por sermos a intersecção desses dois grupos, somos os trabalhadores bancários que mais barreiras encontram pela frente no setor, seja em relação à disparidade salarial ou na ascensão na carreira. Uma das bandeiras históricas do Sindicato é justamente a construção de um setor com mais equidade e mais justo para todos. Não descansaremos enquanto essa luta não for, de uma vez por todas, vitoriosa”, destaca Ana Marta.        

Novo Censo da Diversidade

Uma das conquistas dos bancários na Campanha Nacional de 2018 foi a realização de um novo Censo da Diversidade Bancária. O levantamento, feito pela primeira vez em 2008 e uma segunda em 2014, traça um perfil da categoria por gênero, orientação sexual, raça e PCDs (pessoas com deficiência). O objetivo é embasar políticas de inclusão, de combate à discriminação e de promoção da igualdade de oportunidades no setor bancário.

A proposta foi apresentada pelos trabalhadores à Fenaban (federação dos bancos) na mesa de igualdade de oportunidades e já começou a ser implementada.  Lançada no site da Febraban na segunda-feira 15, e disponível também no site da Contraf, a campanha se prolongará até outubro, quando também se encerrará a fase de questionário do Censo, que iniciará no final de agosto. Os dados serão tabulados e analisados entre novembro e janeiro, e os resultados serão divulgados em fevereiro de 2020. O censo deste ano vai além da coleta de dados: também será realizada uma campanha de sensibilização da categoria para o tema, que inclui a formação de agentes da diversidade nas agências e departamentos.

“O objetivo não é apenas traçar um perfil da categoria bancária, mas que os agentes da diversidade promovam reflexões e debates capazes de transformar o quadro de desigualdade de gênero e racial no setor bancário e na sociedade em geral”, diz a presidenta do Sindicato, Ivone Silva. 

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