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Chapéu
Banco da Inclusão?

Falta estrutura nas agências da Caixa para receber PCDs contratados

Linha fina
Governo Bolsonaro propagandeia chamamento de 2 mil pessoas com deficiência até o fim do ano para reforçar atendimento em todo o país, mas banco não investe em sistemas e suportes adequados tampouco em políticas de promoção para estes empregados
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Arte: Marcio Baraldi

O anúncio pelo governo Bolsonaro do chamamento até o fim do ano de 2 mil PCDs aprovadas no concurso público de 2014 da Caixa para trabalho nas agências do banco esconde uma série de dificuldades hoje enfrentadas pelos empregados com deficiência. Além de propagandear como benesse a contratação (quando na verdade foi obrigada pela Justiça a cumprir o artigo 93 da Lei 8.213/91, que prevê que empresas com mais de mil trabalhadores tenham 5% dos cargos ocupados por pessoas com deficiência ou reabilitados), a atual administração tem a desfaçatez (ao mesmo tempo em que entra com recursos para reverter a decisão judicial) de falar em iniciativa de inclusão em um banco público que sequer tem política de promoção para PCDs, tampouco investimento em sistemas e suportes adequados para auxiliar os empregados acometidos por casos mais crônicos de deficiência.

Após denúncias dos empregados, o Sindicato apurou que a situação mais delicada para o desenvolvimento do trabalho é a de pessoas com deficiências sensoriais, auditivas e visuais.

Percalços no “banco da inclusão”

Há cerca de dois anos é esperado o Jaws, um leitor de tela para pessoas com deficiência visual. Em muitos locais de trabalho é comum encontrar informações em braile, mas que estão disponíveis em material danificado, impedindo a leitura correta. Também é corriqueiro nos elevadores de uso tanto de clientes como de empregados a ausência de alto-falantes internos e externos que informem os passageiros os andares onde estão e para onde vão. Não bastasse isso, o Portal Integramais segue inacessível para empregados com cegueira.

Já os empregados com deficiência auditiva severa e profunda também encontram muitos problemas para seu desenvolvimento na empresa. Normalmente, esses graus de perda auditiva comprometem o atendimento à população nas agências, bem como o uso do telefone. Como o trabalho em agências é basicamente de atendimento ao público, PCDs acabam por realizar outras tarefas administrativas e não encontram oportunidades de crescimento. Para piorar a situação, nem todos os vídeos da Universidade Caixa e outros exibidos pelo banco público têm legenda, como as transmissões via Stream.

Novos contratados PCDs

Antes de iniciar o atendimento nas agências, as pessoas com deficiência contratadas terão de passar por um processo que consiste na realização de exames médicos e na entrega de documentos. Depois acontece o estágio probatório de 3 meses, nos quais PCDs podem ser dispensadas.

“As agências não estão preparadas para receber esses trabalhadores, que terão de lidar diretamente com o público. Além dos poucos funcionários nesses locais de trabalho, faltam sistemas e suportes que auxiliem os casos mais graves de deficiência”, relata um empregado que tem perda auditiva neurossensorial.

“Hoje, além do atendimento presencial, a rotina dos empregados nas agências é de ligação para clientes antes do expediente, das 9h às 10h, e depois, das 16h. Eu, por exemplo, não tenho como fazer ligação. E não há nas agências um sistema que me permita, o que exclui um PCD de bônus por mérito, por exemplo”, acrescenta.

Segundo o empregado, PCDs também estão marginalizadas dos processos de promoção da Caixa. “Nos PSIs (Processos Seletivos Internos), quando há uma PCD inscrita, ela geralmente é eliminada nas primeiras etapas. Falta política de inclusão social”, enfatiza, acrescentando que também há o temor das poucas pessoas com deficiências mais crônicas, hoje lotadas principalmente nas áreas meio, pararem nas agências. “Há todo um processo arbitrário de transferência de pessoal em curso. E os PCDs, por essa falta de estrutura tecnológica, temem cair na burocracia da agência”.

Dados da própria Caixa mostram que o índice de trabalhadores com deficiência em atuação é de apenas 1,42%, menos de 1/3 do exigido pela legislação. O baixo índice levou o banco público a sofrer condenação no TRT em ação para cobrar a contratação de PCDs, de modo a cumprir a legislação.

“É muito incongruente essa postura da Caixa. O Sindicato está preocupado com as PCDs que chegarão ao banco, tendo em vista questões como disponibilização de suporte e tecnologias. E levaremos para a Gipes a proposta de identificar quais PCDs teriam melhor rendimento em áreas meio para reivindicar a transferência. Assim, também amenizaríamos a escassez de mão de obra nessas áreas da Caixa que estão sofrendo um duro golpe com as realocações anunciadas”, enfatiza Dionísio Reis, diretor executivo do Sindicato e coordenador da Comissão Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa).

“Não basta contratar e cumprir a Lei de Cotas. É necessário dar oportunidade às PCDs para que possam se desenvolver na carreira e colaborar com o crescimento do banco. E isso passa, inclusive, pela correta alocação de PCDs de acordo com as necessidades e peculiaridades de sua deficiência” acrescenta o dirigente.

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