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Paola Carosella cobra ações contra pesticidas

Linha fina
Para chef de cozinha, sem informações "estamos matando nossos filhos quando fazemos um suco de laranja". Mas é possível "fazer um suco sem espremer as pessoas junto, sem matá-las"
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São Paulo – Famosa pela participação em programa na TV, a argentina radicada no Brasil Paola Carosella dispensa o título glamuroso de chef e vai direto ao ponto: "Sou cozinheira". Conforme conta, na casa em que nasceu, nos arredores de Buenos Aires, havia uma horta. "Orgânico não era uma definição alternativa. Era a única coisa que existia. E não sou tao velha assim", diz Paola, de 44 anos.

De la pra cá, tudo mudou muito rapidamente. "Hoje que sou conhecida e converso com as pessoas, digo que estamos comendo veneno; que estamos matando nossos filhos ao fazer um suco de laranja. Eu passo essa informação e a pessoa faz o quê?", questiona, lembrando que, segundo o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), há cerca de 500 feiras orgânicas catalogadas em todo o país.

"É muito pouco. Precisamos de leis que facilitem sobretudo a agroecologia, a produção orgânica. Eu e muita gente que conheço queremos comprar produtos 100% orgânico e não temos como. Não tem carne orgânica."

Para ela, há uma série de coisas que devem ser mudadas, especialmente a comunicação. "Temos de comunicar, passar para as pessoas o que elas têm de fazer. Não apenas apontar o dedo, mas ter ações amorosas porque a grana não vai deixar de ser a moeda de troca. Não vamos viver num mundo que não precisa de dinheiro, mas a ambição tem de ser menos desmedida. É possível fazer um suco sem espremer as pessoas junto, ou matá-las. É possível e precisamos fazer isso urgente."

Paola participou da audiência pública realizada sexta-feira (12), em São Paulo, pelo mandato do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP). O parlamentar integra a comissão especial que analisa o PL3.200/2015. Mais conhecido como PL do veneno, o projeto revoga os principais pontos da Lei dos Agrotóxicos em vigor, facilitando o registro de novos agroquímicos e afrouxando as regras e punições.

A chef que foi cozinhar para alunos na ocupação da Escola Estadual Fernão Dias, contrários à reorganização da rede imposta pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), se diz impressionada com tamanha desinformação. "As pessoas não sabem o que está acontecendo, chegam ao ponto de confundir integral (alimentos que não passam por processo de refino e por isso conservam seus nutrientes) com orgânicos (livres de venenos em sua produção).

A desinformação da população quanto aos perigos dos alimentos produzidos com utilização de agroquímicos e a importância da alimentação saudável, livre de venenos, segundo Paola, prevalece também nas classes mais favorecidas.

Restaurantes e hotéis de luxo, nos quais diferenças de preços de alimentos orgânicos seriam irrelevantes, em sua maioria continuam utilizando produtos carregados de agrotóxicos em sua produção.

"Fala-se que alimento orgânico é muito caro, elitista. Será? Eu conheço um monte de hotel cinco estrelas, restaurantes caríssimos, que não servem orgânicos. Existe, na verdade, uma negligência gigantesca por trás de tudo isso e falta informação", acredita.

"O que a gente tem de fazer é educar amorosamente, ensinar a todos esses consumidores, nós todos, o que está acontecendo. E buscar leis que torne tudo isso mais claro. Eu tenho que saber o que tem por trás da abobrinha que eu compro", afirma, ressaltando que, ao comprar um quilo de abobrinha, aparentemente "tão inocente quando comparada à batata frita de pacote", na verdade, "já deixou de ser inocente. O abacaxi não é mais inocente, nem a cebola, e nem muita gente. É uma sacanagem você querer fazer uma salada e acabar sustentando outras coisas por trás, que a gente não sabe."

Paola defende também a necessidade de educação da população em termos de nutrição. Conforme destacou, as pessoas precisam aprender sobre a importância da variedade de nutrientes à saúde. Hoje, a soja e o milho estão em praticamente todos os alimentos produzidos, empobrecendo-os do ponto de vista nutricional. E é justamente esses dois alimentos que têm as maiores lavouras transgênicas, cujos riscos à saúde e ao meio ambiente são grandes justamente pelo aumento do uso de agroquímicos nessas lavouras.

"Se eu como frango, como soja e milho; se tomo leite, lá estão a soja e o milho; se tomo um suco, estou tomando soja e milho."

Apesar de todas essas dificuldades, Paola se considera otimista. "Fico pensando no que aconteceu com o tabaco (campanhas para redução do tabagismo no Brasil). Então é possível. Tenho muita fé de que isso vai terminar. Mas é necessário que cada um faça a sua parte para que a gente faça ações urgentes, que se espalhem muito mais rápido que o pesticida."


Cida de Oliveira, da Rede Brasil Atual - 15/8/2016

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