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Tramitação de PL sobre crimes de ódio está travada

Linha fina
Autora do projeto que criminaliza atos de intolerância, deputada Maria do Rosário (PT-RS), disse durante 13º Seminário LGBT que pedido de distribuição nas comissões foi proposital para dificultar sua aprovação
Imagem Destaque
Brasília – Autora do projeto de lei (7582/14) que propõe tornar crime os atos de intolerância contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Pessoas Trans e Intersexuais (LGBT) e outros grupos considerados vulneráveis, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) disse na quarta-feira 17, no segundo dia do 13º Seminário LGBT do Congresso Nacional, que a proposta não avançou por interferências propositais de alguns deputados.

O texto, que tramita há dois anos, chegou a ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em novembro de 2014, mas foi arquivado em janeiro de 2015. O desarquivamento ocorreu um mês depois, mas a proposta foi redistribuída para que diversas comissões analisassem o mérito.

“Fechar os olhos à lei é o mesmo que fechar os olhos para muitos assassinatos todos os anos. O projeto estava pronto e houve um pedido de redistribuição, que foi para várias comissões. Foi proposital. Foi uma redistribuição para travar”, disse.

A parlamentar lembrou de avanços em leis de proteção à mulher, citando a Lei Maria da Penha, e outros segmentos, como o Estatuto da Criança e Adolescente e o Estatuto do Idoso. “Podemos citar várias outras, mas não avançamos quando se trata de identidade de gênero. É uma negação de direito”, afirmou.

Bancada da bala – O destravamento da proposta foi cobrado pelos participantes do evento, que representam entidades da sociedade civil ligadas à comunidade LGBT. Uma das principais críticas foi a distribuição do texto para análise da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, integrada principalmente por parlamentares da chamada bancada da bala.

Combate ao preconceito – Para o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), é preciso uma revisão do Código Penal para agravar crimes de ódio, mas esta não é a única solução para acabar com o preconceito no país. “A homofobia é antes de tudo uma vigilante de fronteiras de gênero. Aos 6 anos ouvi a palavra veado como forma de insulto e isto se repete pelo Brasil afora. E não é na escola. A escola é uma extensão do que acontece dentro das famílias”, afirmou.

Manifestação – No início da tarde, o encontro acabou sendo interrompido por um homem, não identificado, que vaiou e criticou os debates, se posicionando, no final do auditório Nereu Ramos, da Câmara, em forma de cruz, como manifesto contra o movimento. Jean Wyllys reagiu imediatamente, e disse que o manifestante estava na plateia filmando momentos do Congresso. “Você vai ser interpelado judicialmente por possíveis distorções dessas imagens”, alertou o deputado.

Outro participante da segunda mesa do dia, Léo Mendes, da Articulação Brasileira de Gays (Artgay), reforçou o alerta ao indivíduo. “Eu não autorizo a utilização de nossa imagem. Chegou uma informação de que a pessoa promoveria curso de cura gay. Isto é crime de charlatanismo. E o fim disto é a delegacia”, disse.

“Santa Inquisição” – Mãe Nangetu, representante das religiões de matrizes africanas no Conselho Nacional de Promoção do Respeito e Valorização da Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, alertou que os terreiros são alvos de ataques frequentes por aceitarem a orientação sexual de cada pessoa. “O povo tem que ser respeitado. Os terreiros vivem hoje o medo da santa inquisição. É o ódio, a falta de respeito, a intolerância. É meu dever ensinar para os meus filhos a respeitar os outros. A intolerância nasce dentro da nossa casa”, afirmou.

Para a drag queen Lorelay Fox – que há dez anos mantém uma conta no canal Youtube para promover debates sobre o preconceito –, o autoconhecimento e reconhecimento podem reduzir a violência contra esta comunidade. “A gente gosta de ser reconhecido como pertencendo a algum grupo, mas somos nós que temos que nos inserir neste grupo e não os outros que têm que nos colocar lá”, disse. Lorelay lembrou ainda que há preconceito e violência dentro da própria comunidade. “O público hétero enxerga a gente de forma até divertida, mas dentro da comunidade as pessoas te julgam muito. O preconceito é muito grande quando o homem invade qualquer barreira que invade o feminino. Sofri muito, mas me dei conta que me deixou mais forte anos depois. É um tabu muito grande. A roupa já é motivo para a gente ser odiado na sociedade. Ser drag é enfrentar todos os dias, o tempo inteiro, por vontade própria, o preconceito”, completou.


Agência Brasil, com edição da Redação – 18/8/2016
 
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