1989 foi o pico da desigualdade no Brasil. Ou era. O economista Marcelo Neri, por meio da análise da PNAD Contínua, calculada pelo IBGE, mostrou em seu estudo ‘A Escalada da Desigualdade’ que o Brasil vive um período de sete anos de aumento da concentração de renda.
A reportagem é do Reconta Aí.
São 17 trimestres de aumento na concentração de renda no país. As conclusões de Marcelo Neri dão conta de que a crise começou no quarto trimestre de 2014, estendendo-se no tempo até agora, o segundo trimestre de 2019.
O estudo aponta também, que mesmo com uma recuperação da renda média observada no primeiro trimestre de 2017, não houve impacto no bem-estar da população. Ele foi anulado pelo aumento constante da desigualdade. O estudo analisou também quem mais perdeu e quem mais ganhou com a crise desde o último trimestre de 2014.
A metade mais pobre da população viveu variações reais acumuladas de -17,1%; os 40% da população que tem renda intermediária teve perdas de -4,16%; a parcela correspondente à classe média tradicional, que compreende 10% da população, teve um aumento médio de renda da ordem de 2,55% e o 1% mais rico do país teve ganho de 10,11%.
A pesquisa também se debruçou nas perdas por grupos sociais. Nesse âmbito é possível inferir que as maiores perdas de renda foram sentidas por jovens de 20 a 24 anos (-17,76%), analfabetos (-15,09%), pessoas de cor preta (-8,35%) e moradores das regiões Norte (-13,08%) e Nordeste (-7,55%).
Verdade e consequência
O desemprego foi o grande vilão da escalada da desigualdade no Brasil. E, com as políticas de austeridade propostas pelo governo, provavelmente o cenário não mudará. A falta de investimentos públicos que promova uma nova onda de investimentos no país está diretamente ligada ao desestímulo do investimento das empresas no setor produtivo.
Mesmo com as mudanças nas Leis Trabalhistas, como a Reforma Trabalhista de 2017 e a Mini-Reforma proposta pela MP 881/2019, o aquecimento do mercado não veio e a previsão de recessão técnica está cada dia mais próxima da realidade.
A realidade cada vez mais próxima é um aprofundamento ainda maior na desigualdade e um retorno à 1980, conhecida como a década perdida.