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Chapéu
Resistência

Marcha das Margaridas toma Brasília em defesa da soberania e da democracia

Linha fina
Mais de cem mil mulheres trabalhadoras do campo, da floresta e das águas devem ocupar a capital federal, com eventos na terça 13 e a tradicional caminhada na quarta 14. O Sindicato dos Bancários de São Paulo estará presente
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Foto: José Cruz/Agência Brasil

Brasília receberá na terça-feira 13 e quarta-feira 14, milhares de mulheres na Marcha das Margaridas 2019. A manifestação, que ocorre desde 2000, a cada quatro anos, reúne mulheres do campo, da floresta e das águas, com o objetivo de conquistar visibilidade, reconhecimento social, político e cidadania plena. Elas lutam contra toda forma de exploração, dominação, violência e em favor de igualdade, autonomia e liberdade para as mulheres.

A marcha mesmo, quando as participantes caminham até a Esplanada dos Ministérios, será realizada na manhã da quarta-feira. Mas a mobilização começa na terça, com uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados, às 9h, e a Mostra de Saberes e Sabores das Margaridas, a partir das 14h, no Parque da Cidade. Lá, à noite, será realizado também um ato político cultural.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região participará mais uma vez da Marcha. A presidenta da entidade, Ivone Silva (foto abaixo), destaca sua importância. “A Marcha das Margaridas é um movimento que mostra a forças das mulheres, trabalhadoras do campo e da cidade. Este ano, mais do que nunca, é fundamental realizarmos uma grande mobilização, que faça frente a este período de grande retrocesso no país, com o acirramento do desemprego e da substituição de postos de trabalho formais por contratos precários, uma consequência da reforma trabalhista aprovada no pós-golpe”, destaca Ivone.

Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo

A dirigente lembra que outra enorme ameaça tramita rapidamente no Congresso, a reforma da Previdência, que vai dificultar as aposentadorias e reduzir os valores dos benefícios de milhões de trabalhadores. “Nossas aposentadorias estão ameaçadas. O governo propôs uma reforma para economizar às custas dos trabalhadores que já recebem ou receberão muito pouco de aposentadoria ou pensão. Uma viúva, por exemplo, terá sua pensão reduzida em 60%, caso não tenha filhos, e receberá 10% a mais por cada filho menor de 21 anos. São mulheres que já vivem com muito pouco, e terão menos ainda para sobreviver. Essa reforma nefasta vai aumentar ainda mais a miséria, a fome e as desigualdades sociais e nos fazer retroceder na história.”

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Além da Marcha das Margaridas, em Brasília, haverá em todo o país, na terça-feira 13, o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Educação e da Previdência. Na capital paulista, haverá protesto na Avenida Paulista, com concentração a partir das 16h, em frente ao Masp. O Sindicato também participará do ato e, antes disso, percorrerá centros administrativos bancários para conversar com os trabalhadores.

Homenagem a Margarida Alves

A Marcha homenageia a líder camponesa Margarida Maria Alves, que nesta segunda-feira 12 completa 36 anos de morte: foi assassinada em 12 de agosto de 1983. Presidenta do sindicato dos trabalhadores rurais de Alagoa Grande, município da Paraíba, Margarida Alves lutava por direitos básicos que, em pleno século 20, ainda não haviam chegado para os homens e mulheres do campo no Brasil, entre eles, carteira de trabalho assinada, descanso remunerado, jornada de trabalho de oito horas, 13º salário e férias. Sua luta desagradou os coronéis do nordeste, em especial os senhores de engenho. Ela foi assassinada na frente do marido e do filho, com um tiro de escopeta calibre 12, que desfigurou seu rosto. O proprietário da maior usina de açúcar local, a Usina Tanques, foi acusado de ser o mandante.

A Marcha

Em entrevista à Rede Brasil Atual, a coordenadora-geral da Marcha 2019, Maria José Morais Costa, a Mazé, contou que milhares de mulheres se envolvem na construção do evento. “É um processo de formação, mobilização e construção na base. A gente define o lema, o caráter e os eixos temáticos que estaremos trabalhando na base”, diz.

“Aí as mulheres passam praticamente dois anos discutindo, fazendo o processo de formação na base. Termina uma marcha, as mulheres já vão pensando (a próxima). Faltando dois anos, já começam a intensificar esse processo. Envolve não só as 100 mil que vêm à Brasília, mas milhares de outras por todo o canto do país e do mundo, que sabem o que é a Marcha das Margaridas”, explica Mazé, que é secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais Agricultoras Familiares da Confederação Nacional de Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag).

Com 27 federações e mais de 4 mil os sindicatos filiados, a Contag promove as marchas também em parceria com movimentos feministas, de mulheres trabalhadoras, centrais sindicais e organizações internacionais.

De 20 mil participantes no ano 2000, a Marcha multiplicou-se para 40 mil em 2003, 70 mil em 2007, 100 mil nos anos de 2011 e 2015.

Mazé relata que este ano as mulheres estão encontrando muitas dificuldades para a Marcha. “Nesse governo que aí está, que só quer retirar os direitos da classe trabalhadora, sobretudo das mulheres, a gente não tem nem como dialogar.”

Assim, os eixos políticos da Marcha 2019 tocam em pontos nevrálgicos, sob risco no governo Jair Bolsonaro. Tratam da defesa da terra, água e agroecologia; da autodeterminação dos povos, com soberania alimentar e energética; pela proteção e conservação da sociobiodiversidade; por autonomia econômica, trabalho e renda; por previdência e assistência social pública, universal e solidária; por saúde pública e em defesa do SUS; por uma educação não sexista e antirracista e pelo direito à educação do campo; pela autonomia e liberdade das mulheres sobre seu corpo e sua sexualidade; por uma vida livre de todas as formas de violência; por democracia com igualdade e fortalecimento da participação política das mulheres.
 

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