
Reunidos na capital paulista, nesta sexta-feira 22, bancários e bancárias do Itaú de todo o Brasil debateram as transformações institucionais e as condições de trabalho no banco e aprovaram plano de luta para fazer frente aos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores.
O Encontro Nacional dos Funcionários do Itaú contou com a presença de 86 delegados e delegadas representantes de todos os estados. O debate ocorreu paralelamente aos encontros dos demais bancos e precede a 27ª Conferência Nacional dos Bancários, que inicia na noite desta sexta e vai até domingo 24, também na capital paulista.
“Durante o Encontro Nacional do Itaú, construímos um plano de lutas com foco em um futuro justo, sustentável, inclusivo e democrático. Entre os principais temas, destacamos a preocupação com o fechamento de agências físicas e seus impactos sobre o emprego, a imposição de metas abusivas que afetam a qualidade de vida e a saúde mental dos trabalhadores, além do aumento alarmante dos casos de adoecimento psíquico entre o funcionalismo do Itaú. Defendemos condições dignas de trabalho, com respeito à saúde do bancário e garantia de emprego frente à transformação digital no setor”, destacou o diretor do Sindicato, Maikon Azzi, coordenador do coletivo do Itaú na entidade.
Debate sobre conjuntura
A presidenta da Fetec-CUT/SP, Aline Molina, também diretora do Sindicato e bancária do Itaú, participou do primeiro debate do dia, sobre análise de conjuntura. Ela falou sobre a necessidade de se defender a soberania nacional, diante dos ataques dos EUA, e de defender a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários, ameaçada pelos bancos.

“O que Trump está fazendo com o tarifaço é uma guerra comercial. Não tem nada a ver com o Bolsonaro, tem a ver com os interesses dos EUA nas riquezas da América Latina: do Brasil, da Bolívia, da Colômbia, da Venezuela... Não podemos tentar entender o Brasil hoje sem voltar a palavras que algumas pessoas achavam que eram das décadas passadas: luta contra o imperialismo, luta de classes... estamos vivendo a luta de classes na veia”, disse Aline.
“Os bancos não querem que a gente avance em nenhum direito na nossa CCT. Eles querem fatiar a nossa CCT, para concorrer com as fintechs. Então vamos ter que lutar muito para manter nossa CCT, lutar para reeleger Lula, lutar contra o imperialismo, e lutar para eleger deputados e senadores de esquerda. Vai ter muita luta enquanto o imperialismo quiser nos dominar, enquanto nossa soberania estiver ameaçada, enquanto nossa CCT estiver ameaçada. E nós vamos lutar juntos, com cada um que está aqui nesta sala”, concluiu a dirigente.
Transformações tecnológicas no Itaú
O Itaú-Unibanco é uma das instituições financeiras no Brasil que mais investe em IA e IA Generativa (que cria conteúdos). E o uso dessas novas tecnologias tem levado ao fechamento agressivo de agências físicas pelo banco, à extinção de empregos e a uma migração de postos para a área de TI da holding.
Números dessa transformação foram apresentados pela técnica do Dieese Cátia Uehara, na mesa sobre tecnologia e empregos. “Enquanto globalmente o orçamento em tecnologia dos bancos cresceu 35% entre 2018 e 2023, no Brasil, o crescimento foi de 97%”, informou a economista, para ilustrar a rápida mudança no setor.
Diante disso, o Itaú tem cortado empregos. De março de 2011 a junho de 2025 já são 18.247 postos de trabalho extintos no Itaú. Por outro lado, há um aumento de postos na TI. No terceiro trimestre de 2024, por exemplo, 380 empregados da rede Itaú foram transferidos para a TI.
No balanço do quarto trimestre de 2024, nota-se a mudança no perfil dos funcionários, com mais profissionais em tecnologia e menos em áreas operacionais: houve o crescimento de 12,5% dos empregados da área de tecnologia e a redução de 2,2% no quadro geral de funcionários do banco, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Outra consequência dos avanços tecnológicos tem sido o fechamento de agências. De junho de 2014 a junho de 2025, já foram encerradas 2.031 unidades do Itaú, o que significa uma média de 3,5 agências fechadas por semana. Em 12 meses, o Itaú fechou 223 agências (-4,27/semana), em 6 meses fechou 158 agências (-6,1/semana) e em 3 meses, 63 agências (-4,8/semana).
“Infelizmente, não é uma prática exclusiva do Itaú. Em doze meses, foram fechadas 1.127 agências pelos quatro maiores bancos brasileiros”, ressalta a técnica do Dieese.
Durante os debates, dirigentes lembraram que bancos são concessões públicas e que, como tal, devem disponibilizar atendimento presencial à população, principalmente aos mais idosos que têm dificuldade em usar as novas tecnologias, e manter unidades físicas em todos os municípios.
Adoecimento dos bancários
Outro debate importante no encontro foi o adoecimento psíquico geral da categoria, e em particular dos funcionários do Itaú, em decorrência de metas abusivas, sobrecarga, pressão constante e assédio moral. Todos esses problemas, já velhos conhecidos dos bancários e bancárias do Itaú, somam-se a um mais recente: a vigilância excessiva do trabalhador por meio da IA, com monitoramento constante e invasivo, por meio das tecnologias digitais.
O papel do Programa GERA no adoecimento psíquico dos funcionários do Itaú foi também destaque. Com seu sistema de monitoramento, o GERA leva a rankings de desempenho, com exposição pública de resultados; leva a cobranças em tempo real, com pressão inclusive fora do expediente. E seus dados de presença, atendimento e interação alimentam algoritmos de avaliação, outro impacto da IA. Essa combinação de fatores resulta em mais adoecimento mental, isolamento e constrangimentos no ambiente de trabalho adoecedor do Itaú-Unibanco.
“O encontro nacional é um dos mais importantes para o funcionalismo do banco. E nesse momento que bancários e bancárias do Itaú de todo o país discutem a realidade de trabalho no Itaú para, a partir disso, elaborar um plano de lutas e uma pauta de reivindicações que são essenciais para os trabalhadores neste cenário drástico de fechamento de agências, da eliminação de postos de trabalho, do adoecimento mental da categoria e dos impactos da IA no trabalho bancário. Temos muitos desafios pela frente, e vamos responder a eles com nossa organização e luta”, ressalta o dirigente do Sindicato, Sérgio Francisco, coordenador da COE estadual do Itaú-Unibanco.
