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Chapéu
Ataque à soberania

Nunca houve tanta submissão aos EUA como agora, diz ex-chanceler

Linha fina
Celso Amorim denuncia que o que está ocorrendo com as empresas públicas não se trata apenas de privatização, mas da entrega do patrimônio nacional para potências estrangeiras, e muitas vezes para estatais de outros países
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Foto: Twitter/Reconta Aí

O ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2011) e ex-ministro da Defesa (2011 a 2015) Celso Amorim afirmou que nunca antes na história do Brasil houve tamanha subserviência aos Estados Unidos como no governo Bolsonaro. A avaliação foi feita nesta quarta-feira 4, no seminário que marca o lançamento da Frente Nacional Mista em Defesa da Soberania Nacional.

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“Houve um embaixador no governo Castello Branco [1964-1967] que disse que tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, mas aquilo foi uma afirmação abstrata, não foi para justificar uma ação concreta. E esse governo tem feito isso de maneira concreta, e na defesa de uma posição totalmente subalterna”, afirmou.

Ele citou como exemplos a privatização de partes ou a possibilidade de entrega de toda a Petrobras, a intenção da venda da Eletrobras, e enfatizou a entrega da Embraer para a Boeing, por US$ 5,2 bilhões, negócio iniciado no governo Temer e finalizado no governo Bolsonaro.

“A venda da Embraer foi uma coisa incrível. Não é privatização, porque não teve nenhum Ermírio de Moraes, não teve nenhum Gerdau para comprar”, disse Amorim, citando dois grandes capitalistas brasileiros.

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“A privatização, na realidade, é desnacionalização. É a entrega do patrimônio brasileiro para as mãos dos estrangeiros. Você até poderia discutir se valeira a pena ou não privatizar certas coisas para empresários nacionais, mas não. É entregar. E muitas vezes para estatais estrangeiras. Há todo um argumento que estatal não funciona e você entrega para uma estatal estrangeira.”

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Amorim afirmou ainda que o estado do Rio de Janeiro investe mais em pesquisa do que São Paulo, graças à Petrobras e à Eletrobras.

“É a força das empresas públicas brasileiras. Essa noção de que você defende as riquezas nacionais, de que você defende a capacidade de atuar não só na exploração mas na destinação [dos recursos], como foi feito originalmente com relação aos lucros da Petrobras com o pré-sal para a educação, não se pode pedir que a Shell ou que a Statoil [atual Equinor, estatal petrolífera norueguesa] vão fazer isso. Elas vão investir na terras delas.  E a mesma coisa vai acontecer com a Boeing em relação a Embraer. No começo vai manter uma operação aqui, enquanto interessar, mas a pesquisa vai ser toda passada para lá, a tecnologia vai ser toda passada para lá. Aqui vai ficar uma casca oca. Se ficar alguma coisa. Esse é o destino certo da Embraer. E era um grande orgulho nacional, como a Petrobras é um grande orgulho nacional.”

Amazônia

Amorim também lembrou a questão da Amazônia. Segundo ele, a floresta é um problema global, mas de responsabilidade nacional. “Nós temos que dizer como fazer [a preservação] porque afeta a nós, afeta a nossa população, afeta as populações locais, afeta a população de São Paulo, como se viu há pouco tempo, com a nuvem que atingiu a cidade, é uma responsabilidade nacional, mas sim um tema que interessa a população de todo o mundo. Nós não podemos desconhecer isso.”

O ex-chanceler, no entanto, deixou claro que não concorda com o debate que estava sendo colcoado pelo presidente francês, Emmanuel Macron. “Sou totalmente contra um estatuto internacional da Amazônia. Nunca mais tinha se ouvido falar na internacionalização da Amazônia, agora os desmandos, declarações e impunidade são de tal ordem, que esse tema voltou a ficar na ordem do dia. 'Os brasileiros não estão conseguindo ou, o que é pior, não querem cuidar da Amazônia'. Então esse tema da internacionalização voltou. Sou contra, mas o Brasil tem que ser capaz de assumir responsabilidade. É uma grande riqueza, é nossa riqueza. A biodiversiade é nossa, mas temos de saber cuidar.”

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