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Recuo lento na desigualdade econômica de gênero

Linha fina
Em média, no mundo inteiro, as mulheres ganham metade do que os homens para desempenhar as mesmas funções no mundo do trabalho; estudo aponta 170 anos para desaparecer
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Flávio Aguiar, da Rede Brasil Atual
27/10/2016


São Paulo - O Relatório Sobre Disparidade Global Entre Gêneros/2016, do Fórum Econômico Mundial (aquele que se reúne anualmente em Davos, na Suíça, e é considerado o antípoda do Fórum Social Mundial, ou vice-versa) afirma que, no ritmo atual, a disparidade econômica entre homens e mulheres (renda, salários, acesso a postos de trabalho) levarão 170 anos para desaparecer (até 2186).

O relatório é mais pessimista do que o ano passado, que falava em 118 anos, apontando que o ritmo de diminuição da desigualdade caiu.

O estudo, elaborado desde 2006, leva em conta quatro critérios: o econômico, mais acesso à educação, à saúde e o empoderamento político (participação em cargos políticos em todos os níveis). Analisa dados de 144 países e usa uma metodologia bastante complexa e sofisticada. Suas fontes, dentre outras, abrangem as agências da ONU, como a Unesco, a Organização Internacional do Trabalho, a Organização Mundial da Saúde e até a CIA que, como se sabe, mantêm uma tabela sobre dados econômicos de todos os países onde age, acessível na internet.

Em média, no mundo inteiro, as mulheres ganham metade do que os homens para desempenhar as mesmas funções no mundo do trabalho. Este é o segundo pior índice em termos de disparidade. O pior é o do empoderamento político, e os melhores índices são os de acesso à educação e à saúde. Para estes dois últimos, segundo o relatório, mantido o ritmo atual de diminuição a disparidade mundial poderia, em média, desaparecer em dez anos. Atenção: o relatório não examina o acesso global à educação, isto é, desde os níveis elementares até o ensino superior, nem, por exemplo, o nível de renda, mas tão somente a disparidade entre os gêneros, com foco principal no ritmo da sua diminuição.

A pesquisa apresenta algumas surpresas. Em termos de ritmo global de diminuição da disparidade, quatro países nórdicos mantêm a primazia: pela ordem, Islândia, Finlândia, Noruega e Suécia. Até aí, não há surpresas. Porém o quinto país, neste hierarquia, é Ruanda, na África. Isto se deve a uma melhora substancial no setor econômico e na participação política. Ruanda é o país com percentual mais alto no mundo de participação de mulheres nos parlamentos, em todos os níveis. Seu desempenho mais fraco está nos setores da educação e da saúde.

Os outros países que completam a lista dos dez melhores são Irlanda, Filipinas, Eslovênia, Nova Zelândia e Nicarágua.

O Brasil está em 79º lugar na lista dos 144. Seu desempenho mais fraco está na economia, com a 91º posição. Depois vêm a política (86º lugar), a educação (42º) e –nova surpresa! – o acesso à saúde, onde o país compartilha, com outros 37 países, o primeiro lugar. Entre estes outros 37 países estão a Argentina, as Bahamas, Barbados, Equador, El Salvador, Guatemala, Jamaica, México, Nicarágua, Paraguai, Trinidad-Tobago, Uruguai e Venezuela. Cuba tem seu melhor índice na educação, com disparidade próxima de zero, e o pior na participação política.

O relatório ressalta, quanto ao Brasil, a importância de o nosso país ter eleito recentemente a primeira mulher como presidenta, fator que desaparecerá no próximo. Sem falar na famosa foto inaugural do governo Temer, com aquela corte de homens de terno preto e alma e tez brancas.

Outro fator importante é que a nota máxima obtida pelo nosso país em termos de acesso à saúde se deve, sem dúvida, à universalização do SUS, fator que tenderá a desaparecer com a provável aprovação da PEC 241, a do fim do mundo no Brasil.
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