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Rodrigo Gomes, da Rede Brasil Atual
10/10/2016
São Paulo – O Controle de Trens Baseado em Comunicação (CBTC, na sigla em inglês), sistema operacional da Linha 2-Verde do Metrô (Vila Madalena-Vila Prudente), pode definir a mesma rota para dois trens, sem verificar o risco de colisão entre eles. A situação quase levou ao choque entre as composições G19 e G20, na manhã do dia 29 de setembro, na estação Vila Prudente, na zona leste de São Paulo.
Em áudio obtido pela RBA, o engenheiro de sinalização do Metrô Marcelo Martins diz que o problema é conhecido pela companhia, que aguarda uma solução pela Alstom, fornecedora do equipamento, na próxima versão, que não tem data para ser instalada na linha.
“Desde quando o CBTC foi mostrado pra gente, em fábrica, já tem essa dificuldade e o Metrô briga com a Alstom até hoje para resolver esse problema. O que o Metrô quer e que vai ser resolvido na próxima versão do CBTC é que os equipamentos de campo, não o OTS (operador do trem), fiquem responsabilizados para não deixar alinhar essa rota no lugar onde já tem um trem”, relata Martins – trecho do áudio pode ser ouvido ao final da reportagem. Ou seja, hoje, quando o sistema falha, cabe exclusivamente aos operadores perceber o problema e garantir a segurança da composição e dos passageiros.
O áudio diz respeito à reunião da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da Linha 2-Verde do Metrô paulista, realizada no dia 5, para discutir o ocorrido em 29 de setembro. Segundo documentos repassados à RBA pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, parte do sistema operacional falhou e o trem G19, que saia da estação Tamanduateí (TTI) com destino à estação Vila Prudente (VPT) carregado de passageiros, foi mandado em direção ao trem G20, que estava parado no local. Ao perceber o problema, visualizando que havia um trem parado, e sua velocidade estava em cerca de 50km/h, o operador do trem acionou o freio de emergência e conseguiu parar a composição.
Ainda segundo os documentos, as telas de monitoramento do Centro de Controle Operacional (CCO) ficaram “congeladas” por 50 segundos, não mostrando o que estava ocorrendo na Linha 2. Nesse tempo, o trem G20 solicitou rota para concluir seu percurso e, sem resposta, o próprio CBTC o encaminhou para a plataforma 2 da estação Vila Prudente. Quando o sistema retornou, o trem G19 acabou seguindo a rota definida para o G20, quando devia ter sido mandado para a plataforma 1.
Os sistemas de controle de velocidade, definição de rota e segurança contra colisão são separados nessa linha. Nas linhas 1-Azul e 3-Vermelha, o sistema ATC controla todas as funções. E ocorreu que, enquanto um sistema definiu a rota, o que deveria verificar a segurança falhou. E o G19 foi de encontro ao G20. “Tem um equipamento que faz alinhamento de rota. Ele não fica vendo onde está o trem. Isso quem faz é outro equipamento. Esse equipamento que alinha rota obedece o CCO. O que aconteceu, provavelmente, o OTS solicitou a rota para o trem G20 e não teve retorno dessa informação. Isso fez com que, ao voltar a indicação, o trem G20 já estava lá”, explicou Martins na reunião (veja primeira imagem abaixo).
Para os trabalhadores, o problema é grave, como se pode concluir de emails obtidos pela RBA, como um pedido de reunião entre agentes da Cipa e da direção do Metrô. “Essa situação, aparentemente causada por falha no sistema, foi de extrema gravidade e deve ser analisada imediatamente em todas as instâncias necessárias”, diz o documento. E prossegue, destacando que “as constantes falhas que o atual sistema de controle de trens ocasiona trazem insegurança” e que a Cipa “já tratou sobre situações semelhantes (...) demonstrando que este ocorrido relatado não pode ser considerado de forma isolada”.
A companhia minimizou o caso em outro e-mail, em resposta ao pedido da Cipa, alegando que “não houve falha de segurança no sistema, pois o trem G19 iria parar a uma distância segura do G20”. Em e-mail assinado pelo supervisor de operação Nilo Leite da Cunha, é relatado que “em nenhum momento os empregados que estavam operando os trens correram riscos graves de acidente”. E afirma que a velocidade do trem no momento da parada era de 30km/h, e não 50 km/h, como relatou o operador (veja segunda imagem abaixo).
Porém, segundo relatórios administrativos, a situação era grave. A operadora do G20 relatou que estava pedindo liberação da plataforma ao CCO, quando notou que outro trem se aproximava. “Comecei a falar com o CCO quando vi o trem chegando pelo túnel. Pensei que ele havia me retido devido ao trem que vinha e que provavelmente iria primeiro para a via 1 e depois o meu seria despachado. Acabei de falar com o CCO e na sequência ele começou a falar continuamente para o G19 parar. Percebi que o trem vinha em minha direção. Comecei a dar farol para ele atentar-se, caso não estivesse ouvindo o CCO”.
O operador do trem G19 relatou que não percebeu nada de anormal na composição. Martins admitiu aos trabalhadores que a composição vinha apresentando pequenos problemas de comunicação desde o início da manhã daquele dia. O instrutor do relatório conclui que a “atuação do OTM2-TRA (operador de trem) foi correta, merece elogios, evitou um possível acidente” (veja terceira imagem abaixo).
A recorrência das falhas no CBTC da linha 2-Verde já foi alvo de várias denúncias dos metroviários. E pode ser comprovada no próprio áudio, quando o engenheiro Marcelo Martins relata que um caso semelhante ao do dia 29 ocorreu na estação Vila Madalena, da mesma Linha 2-Verde. “Assim como aconteceu em VPT, nós tivemos recentemente, só pra ilustrar pra vocês, um (trem da frota) K quebrou em (Vila) Madalena 1 e o CCO demorou para reagir e o trem que veio de trás alinhou rota e encostou no outro. Foi um transtorno. Aí já é tarde. Eu tenho um trem que não anda e o outro trem já entrou na rota”, afirmou, sem dizer a data da ocorrência.
Outro relatório administrativo da companhia, datado de 28 de setembro, relata o caso da composição E06, que após ser estacionada, iniciou sozinha o procedimento de partida da plataforma. “Ao deixar o trem conforme procedimento no comando Leste, o trem fez o barulho característico de inversão de comando e buzinou duas vezes avisando despacho, aliviou freio e movimentou-se por aproximadamente um metro em direção ao trem E01. Imediatamente dei emergência pela bola vermelha parando o trem completamente. Perguntei à torre se ele havia despachado o trem, como a resposta foi negativa, solicitei permissão para realinhar o trem de volta ao ponto de parada”.
O sistema passou a operar integralmente na Linha 2-Verde em fevereiro deste ano. O CBTC foi adquirido pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), da Alstom, em 2008. A promessa era reduzir o intervalo entre trens em todas as linhas, mas, até agora, a aplicação só funciona na linha verde. Porém, desde a instalação, a linha é a que mais apresenta problemas. Segundo dados obtidos por Lei de Acesso à Informação pelo site Fiquem Sabendo (clique aqui), a Linha 2-Verde teve 17 panes com gravidade entre janeiro e julho de 2016, quando a circulação dos trens foi interrompida ou prejudicada por tempo considerável.
Procurado, o Metrô não se manifestou.
10/10/2016
São Paulo – O Controle de Trens Baseado em Comunicação (CBTC, na sigla em inglês), sistema operacional da Linha 2-Verde do Metrô (Vila Madalena-Vila Prudente), pode definir a mesma rota para dois trens, sem verificar o risco de colisão entre eles. A situação quase levou ao choque entre as composições G19 e G20, na manhã do dia 29 de setembro, na estação Vila Prudente, na zona leste de São Paulo.
Em áudio obtido pela RBA, o engenheiro de sinalização do Metrô Marcelo Martins diz que o problema é conhecido pela companhia, que aguarda uma solução pela Alstom, fornecedora do equipamento, na próxima versão, que não tem data para ser instalada na linha.
“Desde quando o CBTC foi mostrado pra gente, em fábrica, já tem essa dificuldade e o Metrô briga com a Alstom até hoje para resolver esse problema. O que o Metrô quer e que vai ser resolvido na próxima versão do CBTC é que os equipamentos de campo, não o OTS (operador do trem), fiquem responsabilizados para não deixar alinhar essa rota no lugar onde já tem um trem”, relata Martins – trecho do áudio pode ser ouvido ao final da reportagem. Ou seja, hoje, quando o sistema falha, cabe exclusivamente aos operadores perceber o problema e garantir a segurança da composição e dos passageiros.
O áudio diz respeito à reunião da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) da Linha 2-Verde do Metrô paulista, realizada no dia 5, para discutir o ocorrido em 29 de setembro. Segundo documentos repassados à RBA pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, parte do sistema operacional falhou e o trem G19, que saia da estação Tamanduateí (TTI) com destino à estação Vila Prudente (VPT) carregado de passageiros, foi mandado em direção ao trem G20, que estava parado no local. Ao perceber o problema, visualizando que havia um trem parado, e sua velocidade estava em cerca de 50km/h, o operador do trem acionou o freio de emergência e conseguiu parar a composição.
Ainda segundo os documentos, as telas de monitoramento do Centro de Controle Operacional (CCO) ficaram “congeladas” por 50 segundos, não mostrando o que estava ocorrendo na Linha 2. Nesse tempo, o trem G20 solicitou rota para concluir seu percurso e, sem resposta, o próprio CBTC o encaminhou para a plataforma 2 da estação Vila Prudente. Quando o sistema retornou, o trem G19 acabou seguindo a rota definida para o G20, quando devia ter sido mandado para a plataforma 1.
Os sistemas de controle de velocidade, definição de rota e segurança contra colisão são separados nessa linha. Nas linhas 1-Azul e 3-Vermelha, o sistema ATC controla todas as funções. E ocorreu que, enquanto um sistema definiu a rota, o que deveria verificar a segurança falhou. E o G19 foi de encontro ao G20. “Tem um equipamento que faz alinhamento de rota. Ele não fica vendo onde está o trem. Isso quem faz é outro equipamento. Esse equipamento que alinha rota obedece o CCO. O que aconteceu, provavelmente, o OTS solicitou a rota para o trem G20 e não teve retorno dessa informação. Isso fez com que, ao voltar a indicação, o trem G20 já estava lá”, explicou Martins na reunião (veja primeira imagem abaixo).
Para os trabalhadores, o problema é grave, como se pode concluir de emails obtidos pela RBA, como um pedido de reunião entre agentes da Cipa e da direção do Metrô. “Essa situação, aparentemente causada por falha no sistema, foi de extrema gravidade e deve ser analisada imediatamente em todas as instâncias necessárias”, diz o documento. E prossegue, destacando que “as constantes falhas que o atual sistema de controle de trens ocasiona trazem insegurança” e que a Cipa “já tratou sobre situações semelhantes (...) demonstrando que este ocorrido relatado não pode ser considerado de forma isolada”.
A companhia minimizou o caso em outro e-mail, em resposta ao pedido da Cipa, alegando que “não houve falha de segurança no sistema, pois o trem G19 iria parar a uma distância segura do G20”. Em e-mail assinado pelo supervisor de operação Nilo Leite da Cunha, é relatado que “em nenhum momento os empregados que estavam operando os trens correram riscos graves de acidente”. E afirma que a velocidade do trem no momento da parada era de 30km/h, e não 50 km/h, como relatou o operador (veja segunda imagem abaixo).
Porém, segundo relatórios administrativos, a situação era grave. A operadora do G20 relatou que estava pedindo liberação da plataforma ao CCO, quando notou que outro trem se aproximava. “Comecei a falar com o CCO quando vi o trem chegando pelo túnel. Pensei que ele havia me retido devido ao trem que vinha e que provavelmente iria primeiro para a via 1 e depois o meu seria despachado. Acabei de falar com o CCO e na sequência ele começou a falar continuamente para o G19 parar. Percebi que o trem vinha em minha direção. Comecei a dar farol para ele atentar-se, caso não estivesse ouvindo o CCO”.
O operador do trem G19 relatou que não percebeu nada de anormal na composição. Martins admitiu aos trabalhadores que a composição vinha apresentando pequenos problemas de comunicação desde o início da manhã daquele dia. O instrutor do relatório conclui que a “atuação do OTM2-TRA (operador de trem) foi correta, merece elogios, evitou um possível acidente” (veja terceira imagem abaixo).
A recorrência das falhas no CBTC da linha 2-Verde já foi alvo de várias denúncias dos metroviários. E pode ser comprovada no próprio áudio, quando o engenheiro Marcelo Martins relata que um caso semelhante ao do dia 29 ocorreu na estação Vila Madalena, da mesma Linha 2-Verde. “Assim como aconteceu em VPT, nós tivemos recentemente, só pra ilustrar pra vocês, um (trem da frota) K quebrou em (Vila) Madalena 1 e o CCO demorou para reagir e o trem que veio de trás alinhou rota e encostou no outro. Foi um transtorno. Aí já é tarde. Eu tenho um trem que não anda e o outro trem já entrou na rota”, afirmou, sem dizer a data da ocorrência.
Outro relatório administrativo da companhia, datado de 28 de setembro, relata o caso da composição E06, que após ser estacionada, iniciou sozinha o procedimento de partida da plataforma. “Ao deixar o trem conforme procedimento no comando Leste, o trem fez o barulho característico de inversão de comando e buzinou duas vezes avisando despacho, aliviou freio e movimentou-se por aproximadamente um metro em direção ao trem E01. Imediatamente dei emergência pela bola vermelha parando o trem completamente. Perguntei à torre se ele havia despachado o trem, como a resposta foi negativa, solicitei permissão para realinhar o trem de volta ao ponto de parada”.
O sistema passou a operar integralmente na Linha 2-Verde em fevereiro deste ano. O CBTC foi adquirido pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB), da Alstom, em 2008. A promessa era reduzir o intervalo entre trens em todas as linhas, mas, até agora, a aplicação só funciona na linha verde. Porém, desde a instalação, a linha é a que mais apresenta problemas. Segundo dados obtidos por Lei de Acesso à Informação pelo site Fiquem Sabendo (clique aqui), a Linha 2-Verde teve 17 panes com gravidade entre janeiro e julho de 2016, quando a circulação dos trens foi interrompida ou prejudicada por tempo considerável.
Procurado, o Metrô não se manifestou.