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Movimentos pedem reforma política e da mídia

Linha fina
Ato no feriado do Dia da Consciência Negra na capital paulista reuniu baterias de escola de samba, passistas, baianas e religiosos. No Rio, o MTST protestou por moradia na praia do Leblon
Imagem Destaque

São Paulo – Para comemorar o Dia da Consciência Negra, na quinta-feira 20, movimentos negros foram às ruas em São Paulo para pedir por reforma política e da mídia, desmilitarização da polícia e pela destinação de mais recursos para as políticas de inclusão social. Cerca de 500 pessoas, segundo a Polícia Militar, participam do ato, que reúne baterias de escola de samba, passistas e baianas, além de religiosos.

O ato começou na Avenida Paulista e, no fim da tarde, os manifestantes ocupavam um dos sentidos da Avenida Consolação, com destino ao Theatro Municipal, no centro da capital.

Foi a 11ª edição da Marcha da Consciência Negra e, este ano, segundo Dennis Oliveira, coordenador do Coletivo Quilombação, o protesto englobou sete eixos principais de luta: a reforma política, pelo fim do financiamento de empresas nas campanhas políticas; a reforma da mídia, em que defendem a democratização dos meios de comunicação; a desmilitarização da polícia e o fim dos autos de resistência; a destinação de mais recursos para as políticas de inclusão social; a implantação das leis antirracismo; o direito de expressão das religiões de matriz africana; e o combate ao machismo e à violência contra a mulher negra.

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“Esta é uma marcha que a gente faz pela décima primeira vez na cidade de São Paulo. O objetivo principal é dizer o que significa a consciência negra não só para nós, negros, como para toda a sociedade brasileira”, disse Flávio Jorge Rodrigues da Silva, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).

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Ele explicou que o ato terminou no Theatro Municipal porque o local é um dos símbolos da luta do movimento negro. “O Theatro Municipal tem uma importância muito grande para nós, negros e negras, porque foi onde realizamos nossas primeiras manifestações públicas, nas escadarias, em julho de 1978, em plena ditadura”, lembrou.

De acordo com Silva, duas lutas se destacam na manifestação. A primeira é a reforma política. “Nos sentimos subrepresentados no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais”, disse. A segunda, envolve a juventude negra. “Há um genocídio da juventude negra brasileira. Então, para nós, a desmilitarização da polícia e o fim dos autos de resistência são questões centrais”, acrescentou.

Rafael Costa, da União Nacional dos Estudantes, ainda destacou a questão envolvendo a maioridade penal. “Também estamos nas ruas para dizer que somos contra a redução da maioridade penal que não só não resolverá o problema de segurança pública como aumentará o encarceramento principalmente da juventude negra e periférica”, disse. “Está em curso no Brasil um verdadeiro genocídio da juventude negra, onde 75% dos jovens assassinados são negros”, ressaltou.

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Antes da caminhada ao Theatro Municipal, quando o ato ainda estava concentrado no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a artista plástica Olívia Vitória fez uma performance tirando toda a sua roupa e a substituindo por colares no pescoço e lenços amarrados na cabeça e na parte de baixo do corpo. Segundo ela, a performance demonstrava um ritual da estética afro. “Fiz isso em homenagem a Dandara, Zumbi e a todos os meus ancestrais negros”, explicou. “Vim aqui hoje na tentativa de mostrar para a sociedade o que é a estética afrodiaspórica. Por que as pessoas não se vestem mais assim?”, indagou.

No Rio – Centenas de pessoas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) se manifestaram na Praia do Leblon, no Rio de Janeiro, e aproveitaram para passar o feriado da Dia da Consciência Negra na praia. De ônibus, eles partiram de São Gonçalo, na região metropolitana, onde a ocupação Zumbi dos Palmares foi desmontada na semana anterior. A ideia era aproveitar o dia também para lembrar que o racismo e a exclusão social nas cidades dificultam o acesso à moradia digna.

Um dos coordenadores do MTST, Carlos Augusto Melo, disse que a sociedade precisa acelerar o acesso a direitos para a população negra, como forma de superar a exclusão provocada pela escravidão e a falta de políticas públicas desde então. “Há racismo na própria ausência de negros em espaço privilegiados como esse. E, mais diretamente, na revista que as pessoas sofrem, por exemplo, para chegar até aqui”, criticou.

Nas contas do movimento, cerca de 55% da população de São Gonçalo – município mais populoso do estado – é formada por pessoas pretas e pardas. Vivendo de aluguel e em moradias precárias, eles aderiram ao movimento, com a expectativa de receber imóveis do Programa Minha Casa, Minha Vida Entidades, em que o governo atua em conjunto com organizações da sociedade.


Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil – 21/11/2014

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