Para marcar os três anos do crime ambiental da Samarco, que devastou o Rio Doce em 5 de novembro de 2015, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) preparou uma série de atividades na cidade mais atingida, Mariana (MG). O principal evento reuniu moradoras de toda a região para cobrar reparação da empresa e criticar a lentidão da Justiça. “Muita coisa foi prometida e até hoje nada”, critica a indígena Josenita Pego.
A reportagem é da Rede Brasil Atual.
“Hoje faz três anos da primeira negociação numa sala fechada. Fizemos vários encontros com a Samarco, mas nada aconteceu”, afirma durante o evento “Encontro de Mulheres e Crianças Atingidas do Rio Doce”. No local da tragédia do rompimento da barragem do Fundão, distrito de Bento Rodrigues, nenhuma casa foi reconstruída, a população afetada não foi ressarcida e a empresa, nem suas controladoras, a BHP Billington e a Vale, foram punidas.
O encontro de mulheres faz parte de uma série de ações do MAB, que vão até o dia 14. A “Marcha Lama no Rio Doce: 3 Anos de Injustiça” denuncia a Fundação Renova, constituída pelas empresas envolvidas para reparar os danos, como ineficiente. “A Fundação Renova foi criada para que se esqueça quem cometeu o crime, para esconder o nome das empresas Samarco, BHP e Vale”, afirma a presidenta da CUT Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, deputada estadual eleita (PT).
Beatriz falou também sobre a ausência de atitudes concretas do corpo político, em especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. “Precisamos ocupar esse lugar para que os criminosos sejam punidos e para rever o modelo de mineração que afeta tantas famílias e tantas vidas.”
A deputada eleita falou sobre a importância do MAB neste momento de dificuldade na vida dos afetados, e lamentou movimento de setores políticos e da sociedade que falam em criminalização das lutas sociais. “No momento do ódio não há nada mais revolucionário do que o afeto. Convido todas a se levantar e abraçar a companheira ao lado. Nos abracemos, nos fortalecemos, entendendo a necessidade de cada uma que está fazendo essa luta.”
Aline Ruas, militante do MAB, reforçou a fala de Beatriz. “Não vamos admitir isso (a criminalização dos movimentos sociais) na sociedade brasileira, que é muito bonita por ser como é. Somos exemplo de luta e, por isso, temos que contagiar todo o povo brasileiro, por mais difícil que seja a conjuntura.”
Balanço do desastre
Em nota, o MAB faz um balanço do descaso das empresas e do poder público com os afetados do desastre de Mariana. “O MAB jamais esquecerá dos 19 mortos e do aborto forçado pela lama, 1.600 desalojados logo após o crime e mais 1.200 novos casos ao longo dos três anos. Três municípios sem abastecimento de água (apenas com caminhão pipa há três anos: Resplendor, Itueta e Ipaba).”
Dos 43 municípios atingidos, apenas quatro deles contam com assessoria técnica para frear a contaminação por metais pesados, que acarretam em problemas de saúde relatados em toda a Bacia do Rio Doce.
O MAB ainda denuncia que, após o cadastramento de 300 mil atingidos pela Fundação Renova, “mais de 1 milhão ficarão sem reconhecimento. 70% das mulheres cadastradas não obtiveram resposta alguma, 17 aldeias, quatro territórios e três povos, um total de 3.540 indígenas atingidos”. “São oito municípios, totalizando 633.373 habitantes abastecidos com água contaminada, a pesca está proibida em toda Bacia e em parte do litoral sem previsão de retorno. Milhares de trabalhadores da rede de pesca estão sem trabalho”, completa o movimento.
Delegação internacional
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) está no Brasil para uma série de observações, em especial sobre a situação campesina. A comissão estará em Ouro Preto (MG) e Mariana no dia 6. Das visitas, devem sair relatórios e documentos de recomendações sobre os impactos de indústrias extrativas e impactos socioambientais.