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Manobras impedem investigações sobre Metrô/CPTM

Linha fina
Bancada do PSDB na Alesp usa táticas para blindar suspeitos de envolvimento no cartel que atuou em licitações
Imagem Destaque

São Paulo – A bancada de apoio ao governador Geraldo Alckmin na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) está obtendo êxito na blindagem contra investigações sobre o cartel que atuou em licitações do Metrô e da CPTM.

Desde 2008, a oposição luta para instaurar CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) e para convocar integrantes do governo tucano, consultores e empresários suspeitos a prestarem esclarecimentos nas comissões de Transporte e de Infraestrutura da Alesp.

De agosto para cá, segundo o jornal Folha de São Paulo, foram apresentados 38 requerimentos para que fossem chamadas 26 pessoas. Dessas, apenas três foram ouvidas pelos deputados.

As táticas das comissões que receberam os pedidos de convocação – com maioria governista – passam pela análise de vários pedidos indefinidamente, rejeição de outros e ainda transformação de convocações em convites, o que exime o suspeito de comparecer.

Integrantes da base aliada de Geraldo Alckmin alegam que não há um processo de blindagem e que as únicas três pessoas ouvidas eram as mais relevantes: o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e os atuais presidentes do Metrô, Luiz Antonio Pacheco, e da CPTM, Mário Manuel Bandeira.

“As pessoas mais importantes foram chamadas, e todos os deputados puderam tirar suas dúvidas. Foi tão transparente que nenhum questionou qualquer resposta dada por eles", disse João Caramez (PSDB), presidente da Comissão de Transportes.

O líder do PT na Assembleia, Luiz Claudio Marcolino, tem opinião diferente. “Os convocados foram mais para falar sobre obras e ações do Metrô e da CPTM do que para dar explicações sobre os esquemas de corrupção.”

Para Marcolino, a blindagem ocorre para quem realmente poderia esclarecer algo sobre o cartel de trens. “Quem efetivamente poderia entrar nesses detalhes são os executivos da Alstom e da Siemens. Ou seja, pessoas que têm autorização para negociar em nome das empresas.”

Para protelar a análise de requerimento para convocar testemunha, os deputados da base governista se aproveitam de uma norma do regimento da Assembleia que permite que cada deputado peça vistas do pedido uma vez, adiando a votação por uma semana.

Entre as pessoas que deixaram de depor está Pedro Benvenuto, ex-assessor da Secretaria de Transportes Metropolitanos acusado de repassar informações do Metrô e da CPTM a um consultor. Sua convocação foi transformada em convite a pedido de um deputado do PPS, mas ele não compareceu no dia marcado.

Os presidentes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Vinicius Carvalho, e da Siemens, Paulo Stark, e o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) também ignoraram convites das comissões e não compareceram.

Estão para ser apreciados na pauta da Comissão de Transportes pedidos para ouvir os executivos da Siemens que denunciaram o cartel ao Cade. Entre eles Everton Rheinheimer, que disse à Polícia Federal que políticos do PSDB receberam propina do esquema.

Essa comissão derrubou ainda requerimentos para ouvir João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM que recebeu US$ 836 mil numa conta na Suíça, e José Fagali Neto, consultor que recebeu informações de Pedro Benvenuto.

“Estamos recebendo quase todas as semanas novos elementos que reforçam o pedido de CPI”, lembra Marcolino, citando como exemplos o pedido do Ministério Público estadual para a suspensão de contratos de reforma de trens e a comprovação de envolvimento entre lobista da Alstom e integrantes do alto escalão do governo de Geraldo Alckmin.  

> Novos indícios reforçam pedido de CPI dos trens

“Existem muitos elementos que justificam as investigações, por isto vamos continuar insistindo na abertura de uma CPI no ano que vem”, afirma Luiz Claudio.


Redação, com informações da Folha de S. Paulo – 23/12/13

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