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Alunos encerram ano prometendo mais mobilização

Linha fina
Secundaristas de São Paulo planejam encontro para janeiro e reforçam que continuarão a luta contra a “reorganização”, suspensa por Alckmin, e também por educação pública de qualidade
Imagem Destaque

São Paulo – “Estamos desocupando as escolas, mas a luta continua. Vamos continuar nos organizando e lutando contra qualquer ataque à educação. Mas se tentar fechar alguma escola, ocupamos de novo”, afirmou João Vítor Santos, de 17 anos, do Comando das Escolas em Luta, durante mais um protesto contra o fechamento de escolas estaduais proposta pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), encerrado na noite de segunda-feira 21.

De acordo com o grupo, 22 escolas ainda estavam ocupadas até aquele momento, e algumas seriam desocupadas nos dias seguintes, mas parte delas permanecerá assim, por demandas específicas dos alunos.

Os secundaristas pretendem promover um encontro de estudantes de todo o estado em janeiro, para se articular em torno de pautas que busquem melhorias na educação. “Criação de grêmios, gestão democrática das unidades e redução do número de alunos por sala são algumas das nossas demandas”, destacou João Vítor.

A luta dos alunos da rede estadual teve início em setembro, quando o então secretário estadual da Educação, Herman Woorvald, informou que o Executivo paulista pretendia realizar uma reorganização no ensino público, com objetivo de separar totalmente os alunos das escolas estaduais por ciclo – fundamental I, fundamental II e médio. Na prática, a reorganização levaria ao fechamento de pelo menos 94 escolas, atingindo mais de 300 mil alunos. Diante da forte mobilização dos estudantes, que chegaram a ocupar cerca de 200 escolas, o governador anunciou a suspensão da reorganização em 4 de dezembro, e em seguida Woorvald deixou o cargo.

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Por duas vezes, a Justiça paulista deu ganho de causa aos estudantes: primeiro rejeitando o pedido de reintegração de posse – sob argumento de que os estudantes não reivindicavam os prédios, mas sim debater o projeto e melhorias na educação – e depois suspendendo a própria reorganização. “Foi uma vitória importante, mas temos consciência de que foi só o início da guerra. Queremos escolas que, como as próprias ocupações, tenham mais participação dos estudantes. Que tenha debate político e uma proposta educacional mais próxima do que vivemos”, afirmou João Vítor.

Os estudantes foram apoiados pelo Comitê de Mães e Pais em Luta, grupo formado por familiares dos alunos, que apresentou denúncias de violência e abuso policial na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). Os pais fizeram denúncias também à Comissão Nacional de Direitos Humanos e à Comissão Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe). “Organizamos um dossiê com mais de 100 casos de violência e abusos da PM nas escolas e nas manifestações, que não podem ficar impunes”, disse Luís Braga, membro do grupo.

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Ato – No ato do dia 21, os estudantes saíram do vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, pouco antes das 19h. E seguiram rumo à Praça da Sé, no centro velho da capital. Animados com uma fanfarra, eles desceram a Rua da Consolação cantando e dizendo palavras de ordem contra a reorganização, o governador e a PM. Também era grande o número de manifestantes mascarados, que formaram uma fila junto ao cordão de policiais que caminhavam ao lado da marcha.

Houve um momento de correria quando PMs e manifestantes se empurraram, próximo à Praça Roosevelt, já na região central, com alguns policiais apontando armas de bala de borracha para os estudantes. Depois disso, a polícia continuou a acompanhar o ato, mas mantendo distância. Parte dos manifestantes deixou o protesto após o grupo parar no cruzamento da Avenida São Luís com a Rua da Consolação. Outro grupo se dispersou no Viaduto do Chá. Dali em diante, a maioria dos manifestantes era de mascarados – não houve registro de incidentes.

Violência no Metrô – Mas na chegada à Praça de Sé, os manifestantes tomaram a escadaria da catedral e, com os punhos fechados, entoaram contra a reorganização: “Não tem arrego”. Dali seguiram para a estação do Metrô, onde iniciaram um “catracaço” – ação de pular as catracas para não pagar a condução.

A princípio, os poucos seguranças do Metrô que estavam no saguão não reagiram contra as dezenas de jovens que pulavam as catracas. Porém, minutos depois, outro grupo de seguranças chegou para impedir que a ação continuasse. Nesse momento, outro grupo de jovens entrou na estação e forçou a entrada, com o auxílio dos que já estavam dentro. Os seguranças reagiram com violência, usando cassetetes, empurrando e arrastando os “catraqueiros”.

Um homem que não estava entre os manifestantes aproveitou a confusão e também pulou a catraca. Foi perseguido, agredido e arremessado por cima das catracas pelos seguranças. Vários jovens foram agredidos. Um fotógrafo que registrava a ação teve a câmera quebrada por um segurança. Um agente mostrou uma pedra que foi arremessada contra ele, mas não o atingiu. A PM foi acionada e também usou cassetetes contra os manifestantes. Ninguém foi preso ou se feriu com gravidade.


Rede Brasil Atual, com edição da Redação – 23/12/2015

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