A Quadra dos Bancários foi palco do Natal dos Catadores em São Paulo (SP), evento organizado anualmente pelo Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável.
A Quadra dos Bancários virou símbolo de luta contra a fome durante a crise causada pela pandemia do coronavírus. Desde maio de 2020, o local já distribuiu centenas de milhares de refeições para moradores em situação de rua, em uma média de mil por dia. A ação também está atendendo pessoas que têm moradia, mas foram afetadas pela crise do coronavírus.
“Aqui tem quase 4 mil pessoas por dia pegando comida, por isso eu quero agradecer à diretoria do Sindicato dos Bancários, a generosidade de vocês, de colocar esse espaço do Sindicato à serviço do povo oprimido e do povo pobre de São Paulo”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou do Natal dos Catadores pelo 18ª ano consecutivo.
“Quero agradecer o Sindicato dos bancários pelo trabalho que faz na Quadra. A gente passa aqui, sempre tem a fila, a gente vê o trabalho de vocês”, disse Gleisi Hoffmann, deputada federal (PT-PR) e presidenta do PT, cuja sede fica na rua adjacente à rua da Quadra dos Bancários.
Hoje, de acordo com dados do Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas), 41% da população brasileira, ou 84,9 milhões de pessoas, convivem com fome ou algum grau de insegurança alimentar.
“Nós temos empresários que estão preocupados em conhecer como é a vida de vocês, porque a gente precisa humanizar o povo brasileiro. Nós precisamos tirar o ódio que está implantado neste país, como se fosse um tumor maligno”, disse Lula.
“Esse país que não está certo. Esse país que precisa mudar. E aqui ninguém precisa ser revolucionário. Nós temos que ser cristão, nós temos que ser democratas, nós temos que ser humanistas, nós temos que ser seres humanos, para a gente poder olhar na cara das pessoas e dizer: você também tem direito. Se eu vou comer um frango no dia de Natal, você também tem direito de comer um frango. Que mundo é esse que produz alimento suficiente e tem 800 milhões de pessoas passando fome? Que país é esse com 230 milhões de cabeças de gado para 213 milhões de pessoas, e a maioria das pessoas não pode comer carne, e ainda tem gente na fila para pegar osso?”, questionou o ex-presidente.
“Aqui em São Paulo e no Brasil estamos vivendo uma crise humanitária. A população de rua cresce mais do que o crescimento demográfico, Hoje, aqui em São Paulo, teremos mais de 35 mil pessoas nas ruas da cidade: mulheres, crianças, idosos sem ter onde morar e sem ter o que comer. O Brasil vive uma das mais graves crises econômica, política e social da sua história. Quase 14 milhões de estão desempregados, 34,7 milhões na informalidade, sem qualquer direito; inflação fora de controle, principalmente no custo dos alimentos. E o país de volta ao mapa da fome, resultado da omissão do governo federal”, afirmou Luiz Claudio Marcolino, vice-presidente da CUT e ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.
“Eu encontrei nessa semana uma criança com um mês tomando agua com maizena. Se você pede na rua hoje o acolhimento de uma família, leva de 8 a 10 horas para uma resposta dizer 'o homem vai para um lado e a mulher com as crianças para o outro'. Depois todos falam: ‘família, família’. A gente não sabe de que família eles estão falando. Acho que da família deles. Porque não é da família do povo, dos que sofrem”, disse o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo.
Lancellotti lembrou do surto de gripe na cidade de São Paulo “além da pandemia, que não terminou. A população de rua está sendo duramente atingida por esse surto de gripe. E nas unidades básicas de saúde de São Paulo e nas UPAs não tem [nem] dipirona. Não tem na rede pública estadual e nem na municipal. A população de rua não tem acesso a água potável.”
“Para contrariar o que dizem os poderosos, eu vou dizer uma coisa para ouvir uma resposta: o Senhor esteja convosco. Está no meio de nós. Não acima. Está no meio. Isso é o Natal. E quem diz que está acima é protofascista”, declarou o padre.