Imagine ter uma rotina adaptada ao home office, com maior convívio com a família e sem longas horas de deslocamento no trânsito, e precisar retornar ao trabalho presencial contra sua vontade. Essa é a difícil situação que os bancários e bancárias do Itaú estão enfrentando desde o início de fevereiro, quando foram obrigados a comparecer oito vezes por mês no local de trabalho.
Em reportagem publicada no dia 7 de fevereiro, o SP Bancários denunciou o caos ocasionado pelo retorno ao trabalho presencial no CT (Centro Tecnológico), na Mooca. Longas horas de deslocamento, insegurança na plataforma do terminal Brás, refeitório superlotado, demora para esquentar as refeições e o fim do rodízio para estacionar dentro do CT foram alguns dos problemas relatados.
O dirigente do SP Bancários e bancário do Itaú, Edegar Faria, ressalta que o endomarketing do banco sobre o retorno ao presencial contrasta com a insatisfação generalizada dos empregados. Desde julho de 2023, quando o Itaú anunciou o retorno ao trabalho presencial com o modelo híbrido, foi iniciada uma campanha nas dependências dos prédios administrativos e, principalmente, no perfil de Instagram “Itubers” (maneira como o banco denomina seus trabalhadores), com mensagens de incentivo ao trabalho presencial, como encontrar os colegas, aproveitar as amenidades dos prédios, entre outros.
Entretanto, relata Edegar, a realidade mostra que a maioria dos empregados está revoltada com o retorno obrigatório. "Trocar a comodidade de casa por até 4 horas diárias de deslocamento nos transportes públicos não é bem o que podemos chamar de benefício, ou felicidade. Essas horas perdidas no trânsito, metrô, ônibus e trens poderiam ser utilizadas para estudos, autodesenvolvimento, interagir com a família, ou mesmo para descanso", avalia o dirigente.
Promessa de exceções não se confirma
No mesmo comunicado em que anunciou a mudança do modelo home office para o híbrido, o Itaú citava a possibilidade de análise de exceções. Segundo o banco, os pedidos para permanência no modelo home office seriam avaliados pela diretoria executiva. Com essa necessidade de análise na diretoria, o comunicado deu a entender que seria muito difícil haver exceções. Até o momento, o sindicato não soube de nenhum caso em que o trabalhador conseguiu permanecer 100% remoto.
A polêmica do raio de 100 km
A nova regra de trabalho presencial oito vezes ao mês abrange todos os empregados que residem em um raio de 100 km, contados a partir do centro de São Paulo. Por conta dessa mudança, o SP Bancários tem recebido reclamações de trabalhadores que se sentem ludibriados pelo Itaú.
De acordo com o dirigente Edegar Faria, a promessa verbal garantia o home office. Contudo, os contratos de trabalho desses profissionais foram celebrados na modalidade “flexível”, ou seja, a definição da modalidade de trabalho caberia ao empregador.
"Na época em que os contratos foram firmados, a tendência vigente era a de que o home office quebrava as fronteiras para a atração de talentos. Então o Itaú passou a buscar profissionais do interior de SP e até de outros estados. Agora, com a implementação forçada do modelo híbrido, há casos de pessoas que passaram a gastar mais de R$ 1.000,00 mensais em deslocamentos, pois a regra do vale-transporte não abrange transporte rodoviário e não houve a menor sensibilidade do RH e da diretoria executiva para avaliar as situações", afirma o dirigente.
Compensação com cara de punição
Visando coibir atestados de consultas marcadas nos dias de trabalho no polo, algumas áreas criaram a prerrogativa da compensação do presencial. Dessa forma, se o trabalhador se ausentar no dia em que a sua equipe estará no prédio, precisará comparecer presencialmente, ainda que sozinho, para compensar os oito dias mensais in loco.
A medida adotada demonstra falta de sensibilidade dos gestores, remetendo a uma forma de punição pelo simples fato do trabalhador não poder comparecer em um dia de consulta médica. O mesmo ocorre com os trabalhadores que apresentam atestados abaixo de 15 dias de afastamento, exigindo a compensação das “ausências do presencial” em dias que sua equipe não estará reunida.
Tendência mundial
Se não há determinação no contrato individual de trabalho, o retorno ao modelo presencial/híbrido não infringe nenhuma lei trabalhista, pois o poder de estabelecer em quais condições o trabalho será realizado é do empregador. Mesmo assim, desde o fim da pandemia, trabalhadores e empresas estão em um cabo de guerra. Cada vez mais companhias determinam o fim do modelo home office, enquanto que os profissionais não querem abrir mão da qualidade de vida adquirida.
O gráfico abaixo demonstra o descompasso entre a quantidade de dias em home office desejada pelos trabalhadores e a quantidade praticada pelas empresas. É possível perceber que a diferença é ainda maior nos países da américa latina em relação à média global.
Fale com o sindicato
O SP Bancários está acompanhando a situação no Itaú e está à disposição dos trabalhadores. Sua área se reúne no presencial para fazer reuniões via Teams? Você está sendo punido e trabalhando sozinho no prédio para compensar ausências em dias de presencial? Utilize o Canal de Denúncias e faça um registro anônimo com o seu relato.