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Chapéu
Não às reformas

Movimentos seguirão na rua contra política 'já derrotada'

Linha fina
Agenda que governo tenta impor foi derrotada nas quatro últimas eleições, lembra presidente da CUT de São Paulo. O que cria emprego é crescimento, afirma, criticando mídia e ações policiais
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Foto: CUT

São Paulo – As manifestações de março, a greve geral da sexta-feira 28 e o 1º de Maio mostram rejeição da sociedade a políticas de austeridade, traduzidas em reformas como as da Previdência e trabalhista, avalia o presidente da CUT de São Paulo, Douglas Izzo. "Essa política foi derrotada nas quatro últimas eleições. A classe dominante, ao dar o golpe e a caneta de presidente para Michel Temer, recoloca sua agenda", afirma, apostando na mobilização para pressionar deputados e senadores, contra "um governo que recoloca o projeto derrotado e enfia o país numa crise profunda".

Para o dirigente, a insatisfação com as reformas ficou clara com duas manifestações seguidas. "Fizemos dois grandes eventos num curto espaço de tempo. Sem dúvida, a maior greve geral da história, envolvendo várias categorias, e o 1º de Maio", diz Douglas. Segundo ele, a manifestação de ontem tornou-se mais desafiadora diante das dificuldades impostas pela prefeitura de São Paulo, que obrigaram os organizadores a praticamente dividir o ato em duas partes, na Avenida Paulista e na Praça da República, com uma passeata pela Rua da Consolação. "Essas ações visavam a confundir a militância."

Apesar de alguns problemas, as manifestações foram bem sucedidas. "O trabalhador está firme no propósito de combater as políticas do governo. Em pouco tempo, a gente conseguiu mobilizar as categorias, com um ato político e um ato cultural politizado. Várias palavras de ordem vinham do próprio público. Vamos continuar com a mobilização."

O ato de 1º de Maio da CUT, da CTB e da Intersindical seria realizado, inicialmente, diante do vão livre do Masp, na Avenida Paulista, mas a prefeitura barrou, alegando impedimentos legais. Houve uma reunião conciliatória no Tribunal de Justiça, que resultou em acordo para realização da primeira parte da manifestação na Paulista, três quarteirões adiante, e dos shows na República. A passeata pela Consolação teve outro incidente: a Polícia Militar impediu que um caminhão de som seguisse o trajeto. "A PM pegou a chave do caminhão e não deixou de descer", lembrou Douglas – a alegação, segundo ele, era de que o veículo não havia passado por vistoria. "Foi um ato coercitivo de impedimento à livre manifestação",  protestou. 

Criatividade e solidariedade - A secretária de Comunicação da CUT-SP, Adriana Magalhães, observou que o enfrentamento da mais grave crise da história recente do país, desde a redemocratização, impulsionou um "retorno às origens" do movimento sindical em relação ao 1º de Maio. "É historicamente um dia de luta. Quem foi ontem à Paulista foi por uma causa. E os artistas que encerraram o ato também, pois são ativistas de uma batalha cultural e de liberdade para a juventude", disse Adriana (foto abaixo).

"Apesar de todos as adversidades promovidas por uma gestão autoritária da prefeitura, fomos as ruas assim como fomos no dia 28. A crise é grave, mas é uma oportunidade para o sindicalismo rever suas práticas, com criatividade e solidariedade", observou. "Ingressei no movimento sindical muito jovem e sempre fui crítica ao 1º de Maio show, onde o povo estava lá para ver exclusivamente os artistas. Claro que isso não é um problema, em si. O problema é a quando cultura é alienante, e não ser libertadora, contestadora. Este 1º de Maio foi um marco para o sindicalismo, as coisas estão mudando e a juventude estava lá."

Os próximos passos preveem ocupação em Brasília durante a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287, que mexe com a Previdência, na Câmara, e o agora Projeto de Lei (PLC) 38, de "reforma" trabalhista, que acaba de chegar ao Senado. Para o presidente estadual da CUT, a mídia tradicional desinforma. "Uma parte da população está batendo palma para o fim do imposto sindical, mas a grande imprensa esconde as armadilhas que podem representar o fim da organização sindical e a flexibilização de direitos", observa, lembrando que a central é contra a contribuição sindical obrigatória.

Da mesma forma, os meios de comunicação formais buscam "vender" a ideia de retomada da economia. "A todo momento, tentam criar um ambiente favorável. A realidade é outra. Existem dados pontuais que não demonstram um indicativo de crescimento." Douglas também contesta a recorrente argumentação de que é preciso flexibilizar para voltar a criar empregos. "É mais uma tentativa de manipulação. É bom lembrar que até 2014 a legislação era a mesma o desemprego era baixo. O que gera emprego é crescimento econômico. Pode flexibilizar, fazer a mudança que quiser."

Ainda no início de maio, a CUT e as outras centrais vão se reunir para avaliar os próximos passos, que incluem a "ocupação" de Brasília e a discussão sobre uma possível nova grre geral, conforme o andamento dos projetos de reformas. "Esse cidadão (Temer) está entregando o país. A esperança é que as mobilizações sensibilizem os parlamentares, eleitos com o voto do povo", diz Douglas. O Planalto terá mais dificuldade para aprovar a PEC 287, que exige mais votos. "Pela votação da reforma trabalhista, eles sabem que não conseguem aprovar a reforma da Previdência."

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